Qual é o ponto de situação no terreno?
É de espera. Israel vive os dias mais dramáticos da sua história. É como um 11 de setembro, mas até maior, tendo em conta a dimensão do país. Já há mais de 400 mortos e 200 sequestrados, de entre os quais crianças de 3 anos e avós de 80.
E qual o motivo de Israel ter sido apanhada de surpresa por um ataque destas proporções?
Nunca se pensou. O atual governo cometeu um erro, flertando com o Hamas e permitindo a entrada de 20 mil palestinianos para trabalhar. Houve uma colaboração de facto. Houve também um aproveitamento da situação interna de Israel, e deu-se no aniversário dos 50 anos da guerra do Yom Kippur. Mas vemos uma união no país da direita à esquerda, havendo a possibilidade de formação de um governo de emergência. Há também mais reservistas alistados do que foi solicitado. Vive-se um momento de união.
E um conflito com o Irão e com o Líbano, através dos fundamentalistas islâmicos do Hezbollah, pode estar iminente?
O Irão está por trás, mas não se envolverá de forma direta, deixando os proxys fazer o seu trabalho. Com o Hezbollah é diferente.
A China apresentou uma resolução de paz baseada no princípio dos dois estados. Será uma solução possível ou trata-se de algo superior e mais complexo?
A resolução de dois estados seria ideal, mas os palestinianos não estão dispostos a isso. Não querem um Estado da Palestina em coexistência com Israel, mas sim um Estado islâmico em todo o território. O Hamas tem recebido ajudas, mas agora é certo que ultrapassaram linhas vermelhas. Não pode haver paz neste momento, mas é necessário reforçar os palestinianos pacíficos e disponíveis para o diálogo.
Como pode este episódio alterar o quadro geopolítico do Médio Oriente?
O principal objetivo do Hamas é o de matar os acordos de Abraão (estabeleceram a paz e as relações diplomáticas entre Israel e os Emirados Árabes Unidos) e dificultar os acordos entre a Arábia Saudita e Israel (mediados pelos Estados Unidos). Não há condições para o progresso, e o Hamas está a conseguir o seu objetivo, atrasar os acordos.