A Reforma… na reforma!

João Paulo II fala em abrir as portas a Cristo e o Papa Francisco numa Igreja de portas abertas para todos.

Ao contrário do que muitos possam pensar, a Reforma da Igreja Católica não se iniciou com João XXIII, com a convocatória do Concílio Vaticano II, mas com a publicação das 95 Teses de Martinho Lutero, que deu origem ao grande cisma do Ocidente – Católicos e Protestantes. Daqui deu-se um processo de Contra Reforma, com a convocatória do Concílio de Trento, e que veio sistematizar de forma clara o que é do Depósito da Fé cristã e o que é prescindível e portanto, alvo de ser objeto de reforma por parte da Igreja.

Eu diria que o processo iniciado na Época Moderna com a Reforma Protestante e a Contra Reforma Católica terá aqui a sua síntese. É evidente que alguns, ao lerem estas linhas, vão seguramente acusar-me de ser modernista – que em certos aspetos até penso que o sou –, mas seguramente existem formas de realizar a missão de Cristo através da Igreja Católica que devem ser, claramente, repensadas e reduzidas à sua essência.

Ao ouvir a Homilia do Papa Francisco na missa de abertura do Sínodo dos bispos sobre a sinodalidade, é impossível não nos lembrarmos das suas palavras no Parque Eduardo VII durante as últimas Jornadas Mundiais da Juventude: «Todos, todos, todos!». Porém, ao ouvir aquelas palavras, veio-me naquele momento, à memória, comparativamente, as palavras do Papa João Paulo II.

Na Praça de São Pedro, no Início do seu Pontificado, Karol Wojtyla dizia a 22 de outubro de 1978: «Irmãos e Irmãs: não tenhais medo de acolher Cristo e de aceitar o Seu poder! […] Antes, procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador abri os confins dos Estados, os sistemas económicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem», «o que é que está dentro do homem». «Somente Ele o sabe».

Na mesma Praça de São Pedro, a 4 de outubro de 2013, o Papa Francisco lembra «o olhar acolhedor de Jesus que nos convida também a nós a sermos uma Igreja hospitaleira, não com as portas fechadas. Num tempo complexo como o nosso, surgem novos desafios culturais e pastorais que exigem uma atitude interior cordial e gentil para os podermos encarar sem medo. (…) Uma Igreja «de jugo suave» (cf. Mt 11, 30), que não impõe pesos e, a todos, repete: «Vinde, cansados e oprimidos; vinde, vós que vos extraviastes ou sentis distantes; vinde, vós que fechastes as portas à esperança: a Igreja está aqui para vós! A Igreja das portas abertas para todos, todos, todos!».

O que mudou nestes últimos quase cinquenta anos que distanciam estes discursos? João Paulo II fala em abrir as portas a Cristo e o Papa Francisco numa Igreja de portas abertas para todos. Eu penso que há aqui uma dupla preocupação que não deve ser deixada de parte: a preocupação de que todos abram as portas a Cristo e a preocupação de que a Igreja, que realiza a missão messiânica de Cristo, de procurar acolher todos. De facto, o desafio da cultura contemporânea obriga-nos a olhar para Cristo e para aqueles a quem a sua missão foi dirigida – todos – e pensar: como poderei abrir os olhos aos surdos, os ouvidos aos mudos, a pôr os coxos a andar e os paralíticos a saltar como um veado? Como poderei anunciar a Boa Nova aos Pobres?