Jornais – A Minha Casa

Existem muitos a querem silenciar os jornais. Outros dizem que os jornais, em papel, têm os dias contados.

Querida avó,

Estou muito feliz com a nova apresentação do jornal Nascer do Sol. Está muito mais apelativo, com novos cadernos e renovados interesses, mantendo o profissionalismo de sempre.              

Os jornais têm que se reinventar para manterem os habituais leitores e conquistar novos, o que não deve ser nada fácil.

Ao longo dos tempos têm desaparecido imensos jornais. Alguns passam apenas para online, outros, passado algum tempo regressam, outros nunca mais ninguém ouve falar, ficam apenas nas memórias dos mais velhos.

Não sou do tempo dos ardinas, os vendedores de jornais de rua que apregoavam as notícias e chamavam a atenção dos leitores. Mas ainda sou do tempo dos jornais vespertinos. Na altura, a televisão e a rádio não tinham o dinamismo que existe hoje. A internet, e as notícias no imediato, era algo com que nem sequer sonhávamos. Então, os vespertinos eram como uma atualização das notícias desse dia.

Hoje tudo mudou. Espreito, online, diariamente as capas dos jornais e os cabeçalhos. Mas ler notícias, para mim, é em papel. Nada como folhear o jornal!

Muitos cafés continuam a ter jornais disponíveis para serem lidos pelos clientes. Muitas vezes è a única forma destes manterem os hábitos de leitura.

Não posso deixar de agradecer a toda a equipa do jornal Nascer do Sol, pela oportunidade “do neto e da avó” escreverem crónicas na revista Luz. Já aconteceu algumas vezes estarmos em sessões de autógrafos, com o nosso “Diário” e aparecerem pessoas com várias revistas para autografarmos.

Existem muitos a querem silenciar os jornais. Outros dizem que os jornais, em papel, têm os dias contados.

Verdade seja dita que os jornais são fundamentais, e têm um papel indispensável, na informação. São algo que nos faz pensar e refletir sobre o que está para além da notícia.

Boas leituras

Bjs

Querido neto,

Por esta altura, mas em 1957, o Diário de Lisboa publicava o primeiro número de um suplemento dedicado aos mais novos, chamado Juvenil. Ninguém podia prever, nessa altura, a importância que ele viria a ter.

Dirigido por Mário Castrim e Augusto da Costa Dias, com ilustrações de Tóssan, era destinado – como se escrevia no primeiro número – a jovens a partir dos 9 anos de idade. Mas rapidamente essa idade foi ultrapassada e ficou para jovens-adultos.

Pelo Juvenil passaram jovens que se iriam tornar grandes escritores: Luísa Ducla Soares, Luiza Neto Jorge, Luís Castro Mendes, Jorge Silva Melo, José Mariano Gago, Hélia Correia, Pacheco Pereira, etc…

O Juvenil, que se publicava uma vez por semana, compunha-se de 4 páginas: duas destinadas à publicação de textos em prosa e em verso, as outras duas com as respostas às cartas que eram enviadas, e um pequeno jornal com as notícias dessa semana. Fui sua leitora desde o primeiro número.

Um dia aventurei-me e mandei um poema para lá. Responderam-me logo, com palavras muito simpáticas mas que, espremidas, queriam dizer, “isto não presta para nada”. E estavam cheios de razão. Mas davam-me dois bons conselhos: «Continua a escrever» e «lê muito».

E foi que eu fiz. Tempos depois, ao abrir o “DL” nem acreditei no que estava a ler: um dos meus poemas era publicado, mas não nas páginas do Juvenil: no corpo do jornal, a ilustrar uma reportagem de dois grandes jornalistas de então sobre “Lisboa”. Lembro-me que o meu poema se chamava “Lisboa, às 6“, e era sobre aquilo que então se fazia em Lisboa às seis da tarde.

E pronto, a minha entrada no jornalismo começou aí – e durante muitos anos o DL foi a minha casa: tudo o que eu sei de jornalismo aprendi aí.

Hoje, sinto-me muito feliz em escrever (contigo) estas cartas para o jornal Nascer do Sol, que ficou muito melhor com esta nova apresentação.

Bjs