Da necessidade da Paz

Quanto mais um Estado se sentir em risco (real ou imaginário) de ser atacado, mais vontade tem de usar armas nucleares.

Tem-se falado muito de guerra, justiça, vingança. Mas … não teremos de falar de Paz?

Falar de paz nos dias de hoje significa, antes de mais, querer parar o sofrimento e a destruição das populações dos países em guerra. Mas a nós, aos demais cidadãos do mundo que estão longe do campo de batalha, interessa a paz?

A Paz e os migrantes. Um dos problemas mais prementes do mundo atual é o dos muitos milhões de habitantes da metade Sul do nosso planeta que querem chegar à ‘rica’ metade Norte, em ondas de proporções bíblicas.

Esse fluxo deve-se a uma causa mais profunda: o grande fosso entre países ricos e países pobres. E é evidente que a elevação da qualidade de vida dos habitantes desse ‘Sul pobre’ exigirá um imenso esforço financeiro, ou seja, sacrifícios por parte dos países mais ricos. Mas… haverá dinheiro para isso quando as mentes e as finanças estão focados na guerra?

A Paz e a exploração sustentável dos recursos do Planeta. Num planeta finito, a ação do Homem sobre os meios naturais – a Terra, o Ar, o Mar, as Plantas, os Animais – não pode continuar a aumentar. Em muitas cidades, o ar é irrespirável, os plásticos envenenam os mares, a floresta do Amazonas – o pulmão da Terra – encolhe de ano para ano. O número e variedade de animais diminuem – um problema recente é a redução do número de abelhas, que têm um papel único na polinização das flores de muitas das plantas cultivadas, e na consequente formação dos frutos. Os barcos rapam os oceanos com sofisticados métodos de pesca, pondo em risco pescas futuras. Mas, mais uma vez, se um ou mais países estão lutando por ganhar uma guerra, ou foram postos fora da comunidade das Nações, estarão muito interessados em manter as quotas de pesca?

A Paz e a proliferação das armas nucleares. Após um período em que as novas (à época) armas atómicas foram testadas livremente em desertos ou pequenas ilhotas no alto mar, houve uma consciencialização dos riscos das radiações provenientes desses ensaios para a saúde das futuras gerações, e em 1963 passou-se às experiências no subsolo. Mas também estas tinham riscos, e em 1996 foram banidas. E mais: as nações possuidoras desse tipo de armas (Estados Unidos, França, Inglaterra, China e União Soviética) assinaram em 1970 o Tratado de Não Proliferação Nuclear. Segundo este, as nações subscritoras comprometiam-se a não passar a outras nações a tecnologia para o fabrico dessas armas, a não as transferir para os ‘países não nucleares’, e a obstar a que outras nações as viessem a produzir.

Mas o estado de guerra já provocou danos muito graves a esse tratado. Além dos ‘cinco magníficos’, Israel, Índia e Paquistão já possuem armas nucleares. E a eles juntou-se a Coreia do Norte. As armas nucleares começam a ser vistas não como uma gravíssima ameaça a toda a Humanidade, mas como um ‘seguro de vida’: quem delas disponha não pode ser atacado, pois poderá usá-las na resposta. Assim, quanto mais um estado for considerado ‘pária’ – e, por isso, mais em risco (real ou suposto) de ser atacado –, mais vontade tem de as ter; são exemplos a União Soviética (que se sentia ameaçada, nos tempos de Estaline, pelos Estados Unidos), Israel (ameaçada pelo conjunto dos países árabes), a África do Sul (ostracizada nos tempos do apartheid, e que por pouco não as obteve), a Coreia do Norte, o Irão, que as tenta obter… Estes exemplos mostram o perigo da existência de um ‘clima de guerra’, e dos riscos de existirem ‘estados pária’. E o facto da Rússia, já durante a guerra na Ucrânia, ter transferido armas nucleares para a Bielorrússia. a somar às recentes declarações deste país de que poderia sair do Tratado que proíbe os ensaios nucleares são um mau presságio.

A Paz e a Segurança Social. As sociedades mais evoluídas – da América do Norte, da Europa (incluindo a Rússia), o Japão, e até, recentemente, a China – defrontam-se com o problema de terem uma taxa de mortalidade inferior à de nascimentos. Ora, como quem sustenta os reformados é quem trabalha, fica cada vez mais difícil assegurar uma reforma digna para aqueles que toda a vida trabalharam. E se aumentarmos a percentagem do PIB destinada ao armamento, só iremos piorar a situação.

Relacionados com esta questão, estão os custos de saúde. Vivendo as pessoas mais tempo, e tratando a medicina de cada vez mais doenças, os gastos com a saúde não deixarão de aumentar.

O mesmo se passa com a educação. Sendo as sociedades cada vez mais complexas, o tempo dedicado aos estudos aumenta. No Estado Novo afirmava-se que ‘ler, escrever e contar bastam para a maioria dos portugueses’. Daí passou-se aos 6 anos obrigatórios, depois aos nove, estando agora nos doze. E atualmente, mesmo depois de ‘licenciados’, muitos profissionais têm de frequentar ‘cursos de formação’. Isso é compatível com um ‘estado de guerra’, com o aumento das verbas destinadas eufemisticamente à ‘defesa’?

A Paz e o aquecimento global. O controlo da taxa de anidrido carbónico no ar – gás cujo aumento tem vindo a provocar o aquecimento global –, é outro evidente exemplo de um problema que afeta todos os países e que só pode ter algum sucesso se ‘todos cumprirem’.

E a substituição das formas tradicionais de energia (energias fósseis, nomeadamente o petróleo e o gás natural) por energias ‘limpas’ tem custos elevadíssimos.

Outras questões. Sendo os problemas referidos os mais prementes, outros há que só poderão ser resolvidos ou minorados com um ‘clima de paz’ a nível do planeta. Exemplos são a troca de conhecimentos científicos geradora de progresso (recorde-se a necessidade da transferência de dados fiáveis sobre as pandemias e outras doenças), os crimes informáticos e o terrorismo internacional.

Todos Diferentes, todos Iguais, todos Irmãos. Estes factos de todos conhecidos evidenciam bem que os problemas graves que o mundo atravessa só poderão resolver-se num clima de paz, e com imensas somas de dinheiro, pelo que os gastos numa corrida armamentista agravam tremendamente a solução desses problemas.

E a finalizar recordarei a Declaração Universal dos Direitos do Homem na qual, logo no Artigo Primeiro, está escrito: «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade». E já no Prólogo a esta Declaração se afirmava «ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações». Sim, cada homem, cada mulher, é diferente dos demais pelo seu código genético, pela civilização em que veio à luz, e pelas suas histórias pessoais. Mas sim, todos iguais em Dignidade, e todos Irmãos, ligados pelos ensinamentos dos homens bons, e, em nossos dias, para o bem e para o mal, pela globalização.

Arquiteto paisagista