Margarida Tengarrinha. Rosto da liberdade

1928-2023. Entre viver na clandestinidade e ser-se quem é

Mulher de rara qualidade humana e cidadã comunista de princípios e valores inabaláveis, conhecida pelo seu apego à Liberdade, pelo seu espírito livre, pela abertura ao diálogo ideológico e pela contagiante força anímica que a acompanhou em todas as fases da sua longa vida, o nome de Margarida Tengarrinha ficou na história dos combates contra a ditadura fascista e pela instauração de uma democracia avançada». É assim que a descreve a página de Antifascistas da Resistência que se dedica a arquivar notas biográficas de antifascistas da resistência na Ditadura Militar e no regime fascista do Estado Novo.

A antiga dirigente do Partido Comunista Português e artista plástica que viveu na clandestinidade durante 20 anos, morreu na quinta-feira, aos 95 anos, avançou o jornal Sul Informação. Segundo uma fonte ligada à família, estava internada no hospital de Faro, onde veio a falecer.

«Fui quantas pessoas foram necessárias», disse numa entrevista ao Fumaça em 2018. E é verdade. Durante a vida, foi Teresa, Leonor, Marta, e mais tarde, Beatriz e só após o 25 de Abril voltou a ser quem realmente era. «O 25 de Abril para mim foi o César Príncipe [jornalista] puxar por mim e dizer: ‘Margarida Tengarrinha’. É o meu nome!», contou na altura à mesma publicação.

Nasceu em Portimão, a 7 de maio de 1928, no seio de uma família da pequena burguesia e, desde muito cedo teve contacto com artistas, acabando por ir estudar na Escola de Belas Artes em Lisboa. Foi nessa altura, em 1948, que iniciou a sua atividade política: era coordenadora dos alunos dessa escola no Movimento de Unidade Democrática (MUD) Juvenil, de oposição ao Estado Novo. Mais tarde, fez campanha pela saída de Portugal da NATO, participando nas manifestações em Fevereiro de 1952, em Lisboa, o que lhe valeu uma expulsão.

 Em conjunto com o seu companheiro, o artista José Dias Coelho – que foi assassinado a tiro, pela PIDE em 1961 –, começou a viver em clandestinidade e criou uma oficina de falsificação de documentos para os camaradas do partido, incluindo Álvaro Cunhal, dirigente do PCP. Depois do 25 de abril de 1974, integrou o comité Central do mesmo partido. Foi ainda redatora dos jornais A Voz das Camaradas e Avante!.