O Pão Nosso de Cada Dia

Os pães feitos pelos avós duravam mais do que uma semana. Hoje… o pão que compramos de manhã no supermercado ao fim do dia já não é mesmo.

Querida avó,

Fui recentemente à Serra da Estrela. De passagem por Seia, como não podia deixar de ser, fui visitar o Museu do Pão. O museu acabou de comemorar 21 anos, imagina. É uma das maiores referências da museologia em Portugal e o maior complexo dedicado ao Pão em todo o mundo.

Adorei a experiência multissensorial sobre o património do pão português. Uma forma dos mais velhos reviverem memórias e os mais novos conhecerem a nostalgia de outros tempos. Esta visita ao Museu do Pão fez-me voltar à infância e às memórias que tenho dos avós maternos. No final da visita ainda somos convidados a “meter a mão na massa”.

Tantas vezes que assisti ao ciclo do pão. Os meus avós começavam por lavrar a terra, depois lançavam as sementes. Passados alguns meses ceifavam o trigo e o centeio e colhiam o milho. Na eira debulhava-se o milho e malhava-se o centeio. Os grãos eram transformados em farinha através das mós de pedra que existiam no moinho de vento. Recordo-me de, com os meus avós, peneirar a farinha onde eram retiradas as impurezas. Depois de tudo isto, a minha avó levava a farinha para a masseira onde juntava água e fermento. Enquanto amassava tudo, arduamente, ia fazendo umas rezas para que o pão que ia alimentar a família tivesse muita qualidade. Por fim a massa era colocada no forno a lenha. Passado algum tempo a avó retirava o pão, já cozido, com uma enorme pá de madeira.

Os pães feitos pelos avós duravam mais do que uma semana. Hoje… o pão que compramos de manhã no supermercado ao fim do dia já não é mesmo.

Encontramos: Pão de Mafra, de Alcobaça, de Avintes, de centeio, de espelta, alentejano, com fibras, de milho, para celíacos… carcaças, com bicos, sem bicos, redondos, compridos…

Só quero o pão da minha avó!

Tudo isto abriu-me o apetite. Para repor as forças, nada como almoçar no Museu do Pão, onde se redescobrem os autênticos sabores tradicionais portugueses.

Bjs

Querido neto,

C omo sabes, a Isabel traz-me pão fresco todos os dias. Como tal não preciso “ver o padeiro”! Nos últimos tempos, infelizmente, temos visto muita gente que nem pão tem para comer. Muitos “Comem o pão que o Diabo amassou”.

O pão faz parte da nossa cultura. Durante a pandemia foram imensas as pessoas que decidiram fazer pão em casa.

Por falar em cultura… Raramente vejo concursos na televisão.

Mas os do Vasco Palmeirim nunca perco. É mesmo vício. Vício que já peguei à Isabel, que vem cá a casa, diariamente, ao fim da tarde para me ajudar a arrumar a casa, fazer a comida, etc. Ela faz tudo o que tinha a fazer e, em vez de se ir embora, senta-se ao meu lado para ver o dito concurso.

É claro que eu gosto muito do Vasco Palmeirim (melhor, sou muito amiga do pai, o maestro Manuel Newton, e da mãe, a bailarina Maria Palmeirim, com quem convivi muito em Paris, nos anos 60, ainda o Vasco não era sonhado)…

Mas não é (só) por isso que eu não perco os concursos. As respostas que muitos (mesmo muitos) concorrentes dão a perguntas de cultura geral… é de cair para o lado, a rir… E são adultos, trabalham, etc. O pior é que para a esmagadora maioria deles, cultura geral quer dizer “futebol”. A essas não falham nenhuma resposta.

Mas aqui há dias perguntava-se que rei português tinha vencido os mouros na Batalha de Ourique. E houve um que despachou imediatamente o D. Afonso Henriques: «O D. Afonso Henriques é que não foi, de certeza absoluta, porque no tempo dele ainda não havia mouros!».

Não posso terminar sem referir o Pão-por-Deus. Lembro-me de ser criança e participar neste peditório feito por ocasião do Dia de Todos-os-Santos, associado às práticas relacionadas com o Dia de Finados.

Uma tradição que tende a ser esquecida e substituída pelo “Halloween”, imagina.

Depois disto, o que se faz? Desatamos a rir, ou a chorar?

Bjs