Das 32 novas Unidades Locais de Saúde (ULS), a de Coimbra tem a maior dimensão, abrange quase 8 mil km2, agrega 21 concelhos e um número de funcionários que destoa das outras ULS de referência, como a ULS do hospital de São João (no Porto) ou a ULS de Lisboa Norte . Esta gigantesca ULS integra o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), o Hospital Arcebispo João Crisóstomo e dois grandes Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES): o ACES Baixo Mondego, que envolve sete municípios, e o ACES Pinhal Interior Norte. É ainda a ULS onde cerca de metade dos utentes são idosos e a densidade populacional é mais reduzida.
«Como se gere uma ULS desta dimensão e com tanta disparidade? Ninguém sabe», confidenciou uma fonte hospitalar ao Nascer do SOL. No novo desenho das ULS e na sua estrutura está definido que cada conselho de administração é composto pelo presidente, dois diretores clínicos, um enfermeiro-diretor, um vogal representante do Ministério das Finanças e outro proposto pelas comunidades locais. No caso da ULS de Coimbra é, precisamente, na questão do vogal representante dos municípios que está a dúvida: agregando 21 concelhos e não existindo área metropolitana, quem irá representar o poder local? «Vamos ter o administrador do hospital, que será presidente da ULS, com pouco conhecimento da realidade dos cuidados de saúde primários, a gerir unidades longínquas e de difícil acesso», adverte a mesma fonte.
Pedrógão Grande, um dos concelhos fustigado pelo incêndios, está incluído nesta nova unidade de saúde. Com uma fraca densidade populacional, população envelhecida e difíceis acessos, Pedrógão Grande será novamente um concelho abandonado. «É um duplo abandono», afirma a mesma fonte.
Apesar do modelo ser o mesmo, o contraste com a realidade de Lisboa ou do Porto é flagrante. A ULS Lisboa Norte, onde estão incluídos o Hospital de Santa Maria, o ACES Lisboa Norte e o Centro de Saúde de Mafra, abrange apenas dois concelhos, pouco menos habitantes que o de Coimbra, 212 mil, e uma área que ocupa 104 km2, em contraste com os cerca de 8 mil de Coimbra. O mesmo se passa com a ULS São João: abrange dois concelhos, tem uma dimensão de 212 km2 e serve 330 mil habitantes. Cada uma destas ULS tem cerca de 7 mil funcionários, enquanto a ULS de Coimbra integra mais de 10 mil.
«Uma organização que foi desenhada sem ter em conta a realidade», afirmou ao Nascer do SOL outra fonte das administrações hospitalares. «Só se justifica por objetivos meramente financeiros». No entanto, nem esses são garantidos: «Não existem estudos que provem ganhos de espécie alguma das ULS, nem financeiros, nem melhorias no acesso aos cuidados de saúde, ou de melhor coordenação entre os cuidados de saúde primários e o hospital».
O último estudo sobre as oito ULS já existentes data de 2015, da Entidade Reguladora da Saúde, e indica exatamente essa ausência de ganhos. No entanto, Xavier Barreto, presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, está seguro que a organização «está bem desenhada». Ao Nascer do SOL, justificou que «serão as entidades intermunicipais a escolher os seus representantes e certamente irão escolher pessoas com trajeto e competência adequados». Sobre a dimensão, diz que todas as populações «têm e sempre tiveram o CHUC como referência». E tem «toda a confiança na nova equipa nomeada para administrar o CHUC e a futura ULS», que «certamente irá desenhar a estratégia mais correta ta para garantir a proximidade e a diferenciação». Quanto à dimensão, assegura que «não será um problema, uma vez que em termos de número de habitantes são todos equivalentes».