Sabemos que são cada vez mais fortes e recorrentes os fenómenos extremos provocados pelas alterações climáticas. Quase tudo o que fazemos tem consequências ambientais. Desde a geração de energia, à fabricação de produtos, à desflorestação, uso de transporte, produção de alimentos, energia nos edifícios, ao excesso de consumo. Segundo as Nações Unidas, tudo isto resulta em temperaturas mais altas e mais severas (tempestades), aumento da seca, um oceano cada vez mais quente e maior, perda de espécies, escassez de comida, mais riscos para a saúde e consequentemente mais pobreza e deslocamento.
É imperativo que as mentalidades se alterem. O mundo está a “acabar” mesmo diante dos nossos olhos e claro que há países que têm sofrido mais com todas essas ações. Focando-nos na seca e nas inundações, quais serão as principais “vítimas”?
A seca pela mundo
África é o continente mais afetado pelas mudanças climáticas. Apesar de gerir uma pequena proporção de emissões de CO2 (responsável por menos 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa), os efeitos das alterações climáticas estão a atingir duramente o continente. De acordo com a Euronews, o relatório sobre a situação climática da África 2022 mostra que o ritmo do aumento da temperatura no continente acelerou nas últimas décadas e que os perigos meteorológicos e climáticos estão a tornar-se “mais graves”. No ano passado, mais de 110 milhões de pessoas em África foram diretamente afetadas por desastres meteorológicos, climáticos e hidrológicos, causando danos económicos no valor de mais de 8,5 mil milhões de dólares. Segundo o Banco de Dados Internacional de Desastres (EM-DAT), houve 5 mil mortes, das quais 48% foram associadas às secas e 43% às inundações.
Segundo um estudo britânico divulgado em abril pela revista americana Nature Communications, “extremos de calor sem precedentes combinados com vulnerabilidade socioeconómica colocam certos países em perigo perante a ameaça das mudanças climáticas”.
A partir de um conjunto de dados sobre temperatura dos últimos 60 anos, os cientistas da Universidade de Bristol no Reino Unido analisaram quais regiões serão mais afetadas por possíveis ocorrências de calor extremo. Entre os impactos negativos da nova onda estão a “redução da qualidade do ar”, o “agravamento da seca” e o “aumento do risco de incêndios florestais”.
Com rápido crescimento populacional, acesso restrito à saúde e à energia elétrica, regiões como Afeganistão, Papua Nova Guiné e áreas da América Central, incluindo Guatemala, Honduras e Nicarágua, estão “mais vulneráveis a picos de calor nos próximos anos”. Pequim e a Europa Central também estão na lista de pontos críticos de ondas de calor.
Em março, um importante relatório da ONU advertiu que os abastecimentos de água em todo o mundo correm um risco crescente de “sobre consumo vampírico”.
De acordo com um estudo recente da Universidade de Tecnologia de Graz, na Áustria, citado pela Euronews, a Europa está em seca desde 2018. Países de todo o continente têm-se debatido com escassez de água mesmo durante o inverno. “A baixa pluviosidade e a queda de neve significam que os abastecimentos, já em declínio, não foram restaurados durante este período tipicamente húmido”, observa o estudo.
O último relatório do Centro Comum de Investigação da União Europeia (CCI) sobre secas na Europa concluiu ainda que no norte de Itália, França e Espanha, a situação “suscita preocupações quanto ao abastecimento de água para uso humano, agricultura e produção de energia”.
Subida do nível do mar e inundações
Relativamente às inundações, segundo o estudo ‘Novos dados de elevação triplicam as estimativas da vulnerabilidade global à subida do nível do mar e às inundações costeiras’, também publicado na revista científica Nature Communications, em 2019, a Ásia é o continente mais afetado, em particular a China, Bangladesh, Índia, Vietname, Indonésia e Tailândia. Nesses seis países reside a maioria dos que ficarão em risco com a subida do nível das águas causado pelo aquecimento global: dos 300 milhões que se estima estarem em zona de risco de inundação em 2050, aproximadamente 237 milhões vivem nesses países. A China, com 93 milhões em perigo, é o país recordista.