Há anos que estava preparado para este momento. Pedro Nuno Santos, entre aplausos e gritos de apoio, na sede do Partido Socialista, em Lisboa, apresentou oficialmente a sua candidatura à liderança do partido, esta segunda-feira.
“É um momento especialmente difícil para o partido”, começou por dizer, agradecendo a presença de Francisco Assis e também da candidatura de José Luís Carneiro, que “enriquece o debate”. As palavras são estas: “Inconformismo, combatividade, vontade de fazer acontecer”, mas também “erros e cicatrizes”.
“Cada um é o resultado da educação que recebeu, do meio em que cresceu e das experiências que teve. Eu sou natural de São João da Madeira”, continuou, “terra com a palavra labor” à cabeça e da qual conta a história.
“Os homens em particular deixaram de usar chapéus e a indústria” pela qual foi conhecida “entrou em crise”, estando agora redirecionada para o calçado num gesto de reinvenção que diz também ter em si.
“Sou neto de sapateiro e filho de empresário. Não é por acaso que falo tantas vezes das gaspeadeiras”, frisou. “A progressão na minha terra nunca se fez colocando umas pessoas contra as outras”, afirma, acreditando no “diálogo e concertação”.
O legado de António Costa
Já sobre António Costa, disse: “Teve a iniciativa de desfazer o bloqueio que colocava em desvantagem o PS perante a direita” na capacidade para governar o país, relembrando a pandemia de Covid-19 e destacando os dados sobre o emprego, sendo este “um dos seus maiores desígnios”: o “emprego, emprego, emprego”. Depois, frisa: “seria errado e injusto esquecer o legado do governo de António Costa”.
“Não ignoro o quanto os acontecimento abalaram as instituições”, assumiu Pedro Nuno Santos, comprometendo-se “afirmar sem margem para quaisquer dúvidas que o combate à corrupção é uma prioridade do Estado”, assim como a “necessidade imperiosa das regras do Estado de Direito Democrático”.
“O PS não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial”, disse ainda.
“Portugal só conseguirá ser um país desenvolvido e próspero se valorizarmos e respeitarmos todos os que hoje trabalham, bem como os idosos que trabalharam toda uma vida, e os jovens que farão o futuro do nosso país”, considerou, sendo os salários a primeira das suas “três preocupações centrais”.
A segunda é a Habitação: Portugal “ainda está muito longe do parque público que precisa”, mas “o trabalho que iniciado não tem precedentes na história recente. Já depois da minha saída, o governo adotou mais medidas para dar uma resposta imediata ao problema”, acrescentou. O seu terceiro pilar prende-se com a valorização do território.
“A direita não cumpre as suas promessas“
Dirigindo-se, agora, para o outro lado do espectro político, Pedro Nuno Santos apela à memória dos portugueses. “É muito importante lembrar que a direita não cumpre as suas promessas nem faz o que apregoa”, disse o socialista.
“A direita fala muito em controlo das contas públicas, mas no seu último governo começou o seu mandato com a divida pública nos 114% do PIB, e acabou com 131%”, continuou. A mesma direita que “cortou salários e pensões quando prometeu que não o faria”.
“Cortou na saúde e na educação quando prometeu que não faria. Aumentou impostos quando prometeu que não o faria”, referiu.
“É muito importante lembrar todas estas promessas que a direita prometeu e não cumpriu porque ainda agora nos promete que não fará acordos com a direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer”, rematou.
Ala ‘moderada’ e ala ‘radical’? Tem “pouco sentido”
“Muito se tem falado de uma suposta divisão no PS entre uma ala ‘centrista e moderada’ e uma ala de ‘esquerda e radical’. Mas esta discussão tem pouco sentido”, disse Pedro Nuno Santos, explicando que esta divisão “alimenta conflitos artificiais e apenas serve a quem combate o PS. Na pluralidade que sempre existiu neste partido, o que está em causa não é uma disputa entre a moderação e o radicalismo”.
“O que está em causa é, antes, quem, num dado momento, está em melhores condições de unir o partido, é mais capaz de adequar os valores do PS a um dado contexto histórico, e é o melhor intérprete e executante do projeto de transformação do país de que o PS tem de ser o portador”, referiu o candidato à liderança dos socialistas.
Já no fim, com as mesmas palmas e os gritos de apoio do início, Nuno Santos definiu-se como “herdeiro dos fundadores do PS” e tem “esperança” de “vencer os desafios do futuro de Portugal”.
“Força camaradas, temos umas eleições para vencer”, concluiu.