Foi no meio de uma grande polémica que a Web Summit voltou a Lisboa para mais uma edição. Paddy Cosgrave já não é o CEO da cimeira, mas nem por isso o seu nome deixou de estar presente. E pela boca da sua substituta. “Anteriormente era a liderança do Paddy. Agora é a minha liderança”, começou por dizer Katherine Maher, defendendo um “tempo de recomeço”. “A empresa está focada em voltar à missão de ser anfitriã das conversas, em vez do centro das discussões, e é nesse sentido que vou conduzir a organização daqui em diante”, acrescentou.
A responsável, que já esteve à frente da Wikipedia, falou do seu antecessor, defendendo que saiu de cena porque “estava a tornar-se uma distração para o sucesso do evento”. “O Paddy abandonou o conselho de administração e as suas responsabilidades como CEO. Não esta envolvido na operação nem na governação da Web Summit”, disse. E garantiu não ter falado com o ex-CEO da cimeira. “A única coisa que ouvi do Paddy esta semana é que ele pensa que fiz um bom trabalho. Não falei com ele em nenhuma outra ocasião”.
Recorde-se que o diretor executivo e co-fundador da Web Summit demitiu-se do cargo depois do boicote anunciado por algumas das maiores empresas tecnológicas do mundo – Google, Amazon e Meta, por exemplo – em reação aos seus comentários sobre a guerra entre Israel e o Hamas.
E apesar de a crise política portuguesa ter feito com que a cimeira passasse um pouco ao lado, o Ministro da Economia, António Costa Silva, fez questão de relembrar o valor da Web Summit “é uma fantástica plataforma para conectar pessoas e ideias”, destacando que há problemas que “podem ser resolvidos apenas com inovação, com tecnologia” e que “precisamos desesperadamente destas novas ideias para resolver as questões-chave do nosso tempo”, como é o caso, por exemplo, das alterações climáticas.
O Ministro da Economia encerrou o evento e foi ele mesmo a referir que “o país vive uma crise política” mas deixou a promessa de que “iremos encontrar o nosso caminho” e que “somos um país seguro”.
Costa Silva defendeu ainda que esta foi uma edição de “grande sucesso” e disse que “Lisboa e a Web Summit são uma grande plataforma de esperança, amizade, de comunhão de pessoas de todo o mundo para desenvolver novas ideias e desafiar os problemas do nosso tempo”.
Olhando para um dos temas mais falados desta edição da Web Summit, a inteligência artificial, Costa Silva disse que será “a eletricidade do século XXI”.
E por falar em inteligência artificial, este foi um dos assuntos mais analisados no segundo dia do evento, com principal foco para o setor da saúde, tendo sidas apresentadas soluções para prevenir o cancro da mama, detetar esgotamentos e até para devolver a voz a quem a perdeu por doença. A título de exemplo, uma empresa de Braga levou uma luva que promete ajudar na prevenção do cancro da mama. A luva conecta-se a uma app com algoritmo de inteligência artificial que gere a textura do tecido mamário.
Mas nem todos são a favor do avanço generalizado a inteligência artificial que pode, normalmente, colocar fim a vários postos de trabalho. “Quanto mais regularmos a inteligência artificial, menos inovação vai existir”, defendeu o investigador do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Andrew McAfee, reconhecendo, no entanto que há um “acesso generalizado a tecnologia poderosa” que trará alguns riscos, mas também vantagens num ambiente mais livre.
Ainda no âmbito da inteligência artificial, a startup brasileira Inspira venceu a edição deste ano do concurso Pitch da Web Summit. A empresa desenvolveu um ‘assistente jurídico’ alavancado em inteligência artificial que tem como objetivo “otimizar tarefas do dia-a-dia” dos juristas, “como pesquisas, gestão do conhecimento, leituras, análises e elaboração de relatórios”.
A Web Summit chegou então ao fim com um recorde de presenças de empresas: 2600 foram à procura de parcerias para fazer crescer os negócios, vindas de 93 países e representantes de mais de 30 setores de indústria. Foi o maior número de startups de sempre na história do evento. A organização disse ainda esperar 70.236 participantes de 153 países. O número representa uma quebra face a 2022, em que estiveram em Lisboa 71 mil pessoas.
Entretanto, a SIBS anunciou que, no primeiro dia, foram efetuadas cerca de 32 mil compras no recinto, tendo o seu valor médio sido de 12,5 euros. A maioria das operações foram feitas por estrangeiros (82%) representando cartões de 107 nacionalidades diferentes presentes no recinto. Destaque para Reino Unido (9,4%), Alemanha (8,3%), Holanda (4,4%), Brasil (4,3%), e Ucrânia (4,2%). O pico das transações deu-se às 13h04m, com 137 transações nesse minuto.