Diário de um Kibutz. Juntos somos mais fortes

Se as negociações já não eram fáceis entre dois Governos democráticos…

Caros leitores, mais uma semana passou sem nada se ter particularmente resolvido ou sem grande mudança de paradigma. A ansiedade continua a pairar sobre a região, seja porque não tem havido grandes novidades sobre a libertação dos raptados (excetuando a confirmação da morte de uma soldado em cativeiro, e a descoberta de dois corpos de civis que se julgavam nas mãos do Hamas) ou pela paulatina escalada de atividade militar a surgir nas fronteiras com o Líbano e a Síria por parte do Hezbollah e de pequenos grupos de militantes do Hamas ou do Jihad Islâmico Palestiniano.

Amontoam-se as provas audiovisuais dos crimes por parte destes grupos terroristas, em particular aqueles cometidos contra as ‘suas’ pessoas de Gaza, seja nas ruas, hospitais, escolas e outros locais públicos. Meios de comunicação social associados a vários grupos islâmicos distorcem descaradamente os factos, voltando literalmente a cara a testemunhos de civis inocentes em Gaza que se abrigam nos hospitais quando estes mencionam que operativos do Hamas «se escondem por entre a multidão», ou mesmo negando a veracidade dos horrores relatados em Israel.

Programas escolares, inclusive levados a cabo nas escolas financiadas pelas Nações Unidas, que ensinam as crianças em como bombistas suicidas contra os Zionistas devem ser glorificados; que o destino dos judeus israelitas é o seu extermínio; que os ‘mártires’ que lutam contra os ‘infiéis’ terão lugar no paraíso e direito a uma recompensa; que utilizam aulas de Química para ensinar soluções de água e sal durante greves de fome para prisioneiros palestinianos, etc. E, com isto, provas de declarações nas redes sociais por parte dos seus professores de ‘glorificação’ dos atos horrendos cometidos. A análise destes programas escolares foi feita pelo Instituto para Monitorização de Paz e Tolerância Cultural na Educação Escolar {IMPACT-SE}, uma organização sem fins lucrativos que dissemina programas escolares do 1º ao 12º ano de escolaridade de acordo com os princípios educativos e os direitos humanos defendidos nas declarações da UNESCO e das Nações Unidas, e pode ser encontrada no seu site (impact-se.org), pelo que deixo para vocês a oportunidade de verem e lerem com os vossos próprios olhos.

Por mais responsabilidades que as forças israelitas tenham na segurança dos civis inocentes de Gaza que se encontram perto das zonas de combate (visto que para as pessoas que os governam, essa é, de longe, a última prioridade), e pelo evitar do escalar desnecessário em zonas na Cisjordânia (não necessariamente só agora, mas em momentos no passado recente), espero que as pessoas se informem e percebam que não podemos confiar em organizações radicais como o Hamas para poder construir uma relação de paz e prosperidade para ambos os povos. Já não é fácil entre dois Governos democráticos (e crescentemente nacionalistas) pelo número de conflitos dos últimos anos, quanto mais assim… E lembrem-se que a guerra do Estado de Israel não é contra os civis palestinianos que querem educar as suas crianças para serem seres humanos íntegros e viver uma vida digna, mas contra aqueles cujo propósito máximo é causar dor e sofrimento à ‘ocupação sionista’ e a todos aqueles que sofrem pelo mundo inteiro dos ataques singulares dos seus apoiantes.

Ao longo destes já quarenta dias de tragédia, ouvi e li das mais tristes histórias de massacre, do trauma pelo qual estas pessoas passaram aquando nos seus quartos protegidos, do coração partido que se carrega no peito. Esta semana, a minha mulher foi ao memorial de uma família cujo filho de 22 anos foi morto enquanto tentava escapar do festival de música em Re’im, consolando os seus pais e os seus avós. A avó deste jovem é sobrevivente do Holocausto… Há como imaginar tal luto? Avó e neto, presentes nos dois mais hediondos crimes cometidos contra o povo judeu (e dos mais violentos cometidos contra qualquer raça ou grupo de pessoas) neste século. Ouvem-se também relatos de que uma das mulheres reféns em Gaza possa ter dado à luz ao seu bebé nestes dias. Será que algum dia tanto ela como o/a seu/ua filho/a poderão regressar a Israel e viver em segurança?

Por outro lado, e tentando trazer um pouco de leveza e esperança a este texto, é com muita alegria que vou sabendo, de tempos a tempos, do bem-estar de vários amigos que estão a servir nas forças armadas. Apesar do pouco tempo de descanso, vão conseguindo manter-se minimamente equilibrados e com boas energias, e isso é sempre um consolo para quem se preocupa com eles ‘de fora’. E outra das coisas que me tem dado um sorriso na cara é ver o enorme número de escolas cujos alunos se têm voluntariado para colher frutas e legumes dos campos perto da Faixa de Gaza e das fronteiras a Norte, os quais são vendidos em pequenas feiras um pouco por todo o país. Juntos somos mais fortes, e a resiliência e entreajuda às quais tenho assistido são realmente comfortantes.

Quero também informar que este segmento Diário de um kibbutz vai passar a quinzenal, ou seja, um artigo a cada duas semanas, pelo facto dos desenvolvimentos da guerra ocorrerem a uma cadência mais lenta do que a inicial, e por eu, felizmente, não me encontrar a residir numa área com intensa atividade militar. No entanto, e quando o desenrolar dos acontecimentos justificar a escrita de mais uma passagem deste diário, assim o farei.