25 de Novembro. 32 militares que lutaram pela Democracia

Já todos morreram, mas os seus nomes ficam para a História como indissociáveis do período que começou no 25 de Abril de 1974, o Dia da Liberdade e da Revolução dos Cravos, e acabou no 25 de Novembro de 1975, o Dia da Democracia, em que o país se livrou da “ditadura de esquerda”.

António Marques Junior
Militar e deputado
Falecimento: 31 de dezembro de 2012

António Marques Junior foi deputado, de 1985 a 2011, membro do Conselho da Revolução de 1975 a 1982. Foi ainda dirigente do Partido Renovador Democrático e, depois, membro da Comissão Política e Nacional do PS. Presidiu à Comissão de Inquérito aos acontecimentos do 25 de Novembro e à primeira Comissão Nacional Comemorativa do 25 de Abril e das Comunidades Portuguesas.

António Ramos
Capitão
Falecimento: 5 de agosto de 1997

Após o 25 de Abril, foi desde a primeira hora ajudante de campo do Presidente da República António de Spínola. Depois de Spínola renunciar ao cargo, foi colocado como adjunto do comando do Regimento de Caçadores Paraquedistas em Tancos. No golpe de Estado fracassado de 11 de Março, aproveitando a periodicidade semanal das reuniões do Conselho dos Vinte, ordenaria a detenção dos elementos ‘comunistas e pró-comunistas’.

António Soares Carneiro
General e político
Falecimento: 28 de janeiro de 2014

António da Silva Osório Soares Carneiro formou-se nas tropas de comandos. General do Exército, era secretário-geral do Governo-Geral de Angola aquando do 25 de Abril. Soares Carneiro ficou a exercer interinamente o Governo de Angola em Maio de 1974 até à nomeação do novo Alto Comissário e Governador-Geral. Foi candidato presidencial nas eleições presidenciais de 1980, com o apoio da AD – perdeu com cerca de 40% dos votos.

Aventino Teixeira
Militar
Falecimento: 10 de abril de 2009

Considerado próximo do MRPP, o militar Aventino Teixeira aderiu ao documento do Grupo dos Nove – o setor moderado do MFA que contestava a deriva radical da Revolução – de Melo Antunes, e era conhecido na altura como o “mais civil dos militares”. O militar era próximo do ex-Presidente Ramalho Eanes e integrou em 2005 a comissão de honra da candidatura de Aníbal Cavaco Silva à Presidência da República.

Carlos Fabião
Militar
Falecimento: 2 de abril de 2006

Diz-se que podia ter sido primeiro-ministro ou até Presidente da República em 1976 mas ficou-se pelo papel de destaque no 25 de Abril e depois com um papel não tão importante no 25 de Novembro. Fez parte do Movimento dos Capitães, que na Revolução de 25 de Abril derrubou o regime político existente em Portugal desde 1926.
A partir de março de 1975 fez parte do Conselho da Revolução. Em 1993, passou à reserva com o posto de Coronel.

Carlos Galvão de Melo
Militar e político
Falecimento: 20 de Março de 2008

Ficou conhecido como o general “sem papas na língua” devido às suas célebres disputas com oradores do PCP e da UDP, os partidos mais à esquerda. Passou à reserva, por vontade própria, em 1966, em discordância com a forma como o regime utilizava a FAP. Oito anos depois, desafiado a entrar para a política com o 25 de Abril, fez parte da Junta de Salvação Nacional, o primeiro órgão político-militar saído da revolução.

Eurico Corvacho
Coronel
Falecimento: 21 de dezembro de 2011

Antigo capitão de Abril e comandante da Região Militar Norte (RMN) durante o Verão Quente de 1975, integrou o núcleo duro do movimento de militares que levou a cabo o golpe que derrubou o regime ditatorial em 25 de Abril de 1974, e integrou o Conselho da Revolução. Era conotado com a chamada Esquerda Militar (ligada a Vasco Gonçalves) e com o PCP. O PS chegou a promover uma manifestação contra a sua permanência à frente da RMN.

Hugo dos Santos
General
Falecimento: 5 de outubro de 2010

É considerado um dos Capitães de Abril, pelo seu papel durante os eventos que levaram à Revolução dos Cravos. Segundo Vasco Lourenço, dirigente da Associação 25 de Abril, foi “um dos elementos mais activos na conspiração, que nos levaria ao 25 de Abril de 1974. A importância de Hugo dos Santos levá-lo-ia a integrar o Posto de Comando instalado no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha”.

Jaime de Abreu Cardoso
Coronel
Falecimento: 18 de Agosto de 2012

Jaime de Abreu Cardoso distinguiu-se como figura lendária entre os comandos e pelo seu papel na guerra do Ultramar e por feitos em combate foi agraciado com a Medalha de Prata de Valor Militar, com palma, em 1969 foi-lhe conferido o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e, em 1973, foi condecorado com a Medalha de Cruz de Guerra de 1ª. Classe.

Jaime Neves
General
Falecimento: 27 de janeiro de 2013

Jaime Neves liderava o regimento de Comandos da Amadora e durante o 25 de Novembro de 1975 liderou o ataque dos comandos ao quartel da Calçada da Ajuda, em Lisboa, onde obteve a rendição das chefias da Polícia Militar. Em 1995, foi condecorado pelo então Presidente da República, Mário Soares, com a medalha de grande-oficial com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do valor, Lealdade e Mérito.

Jaime Silvério Marques
Oficial general
Falecimento: 14 de janeiro de 1986

Distinguiu-se como governador de Macau (1959-1962), mas na manhã de 25 de abril de 1974 foi detido pelos militares revolucionários, mas de imediato libertado e conduzido ao quartel-general das forças revolucionárias. Foi um dos membros da Junta de Salvação Nacional. A 6 de julho de 2023, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.

João de Almeida Bruno
General
Falecimento: 10 de agosto de 2022

Foi General da Exército Português, membro do Regimento de Comandos e Presidente do Supremo Tribunal Militar. Em 1975, na sequência do 11 de março, e perante indicação dada por Otelo Saraiva de Carvalho, apresenta-se no Regimento de Comandos, da Amadora onde foi detido, mas libertado a 25 de Novembro. Recebeu condecorações, como a Ordem Militar da Torre e Espada, Medalha de Valor Militar e Medalha da Cruz de Guerra.

Joaquim Pires
Furriel
Falecimento: 26 de novembro de 1975

Na noite de 25 de Novembro, os comandos ocupam a base do Monsanto, mas os confrontos acontecem no dia seguinte, 26 de novembro depois de os Comandos terem cercado as instalações da Polícia Militar em Lisboa. Do tiroteio resultaram três mortos, um deles Joaquim Pires, que foi morto pelo fogo de metralhadora proveniente do Regimento de Cavalaria 7, frente ao quartel da Polícia Militar.

José Coimbra
Tenente
Falecimento: 26 de novembro de 1975

Outra baixa dos confrontos no dia 26 foi o tenente José Coimbra que foi atingido na crossa da aorta, acabando por morrer no Hospital Militar de Infetocontagiosas. Do lado contrário foi morto o aspirante Ascenso Bagagem. José Coimbra foi condecorado com o Grau de Cavaleiro da Ordem da Liberdade, a título póstumo.

José Ferreira Gaspar
Tenente-Coronel
Falecimento: 15 de Setembro de 2017

Tenente-Coronel com a especialidade de Comando, esteve na guerra do Ultramar em Angola e na Guiné. Foi distinguido com a Cruz de Guerra, de 4.ª classe, Cruz de Guerra, de 2.ª classe, Prémio Governador da Guiné, Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, grau Cavaleiro e Cruz de Guerra, de 3.ª classe.

José Morais e Silva
Ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea
Falecimento: 19 de dezembro de 2014

Ligado ao “Grupo dos Nove” – um grupo de oficiais das Forças Armadas de Portugal liderados por Melo Antunes pertencente ao MFA –, desempenhou um papel decisivo no 25 de Novembro de 1975 na forma como controlou a revolta dos paraquedistas nas base aéreas nos arredores de Lisboa. Viu o seu trabalho ser reconhecido através de diversos louvores e condecorações, como a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo.

Lopes Camilo
Major-General do Exército
Falecimento: 29 de dezembro de 2008

Nascido em 1944, esteve envolvido na primeira grande reunião de capitães de Abril, a 9 de setembro de 1973, em Alcáçovas, perto de Évora. O major-general do Exército e vice-presidente da Liga dos Combatentes esteve na organização de um dos principais batalhões que intervieram na revolução dos cravos, que tomou o controlo da zona do parque Eduardo VII e dos estúdios do Rádio Clube Português.

Loureiro dos Santos
Chefe do Estado-Maior do Exército
Falecimento: 17 de novembro de 2018

Militar do ramo de artilharia, cumpriu duas comissões no Ultramar, foi secretário do Conselho da Revolução no ‘verão quente’ de 1975 e participou na execução das operações que contiveram o golpe de 25 de Novembro de 1975. Foi vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, em 1977, e Chefe do Estado-Maior do Exército. Entre 1978 e 1980, foi ministro da Defesa Nacional nos Governos chefiados por Carlos Mota Pinto e Maria de Lourdes Pintasilgo, ambos executivos de iniciativa presidencial de Ramalho Eanes.

Luís Macedo
Coronel
Falecimento: 15 de novembro de 2020

Fez parte do grupo de engenharia do Exército, que se distinguiria no coletivo do Movimento dos Capitães e que concebeu e organizou o plano da revolução de 1974. Luís Macedo foi braço direito e o principal apoio de Otelo Saraiva de Carvalho, sobretudo no que se refere à obtenção e organização do espaço onde se instalou o Posto de Comando do MFA (Movimento das Forças Armadas). Nas operações militares do 25 de Abril de 1974, esteve ainda na Praça do Comércio, dando apoio ao capitão Salgueiro Maia.

Luis Piedade Faria
Capitão e comandante da Companhia de Caçadores do RI5

Natural de Santarém, foi condecorado postumamente com a Ordem da Liberdade – Grau de Grande-Oficial. Capitão de Instrução no Quartel das Caldas da Rainha, liderou uma tentativa de mudança de regime a 16 de março de 1974, mas voltou ao quartel sem sucesso. Após a Revolução dos Cravos, foi recebido em triunfo em Santarém. Tornou-se o primeiro Comandante do Forte de Peniche, antes uma prisão política da PIDE. Santarém perpetuou o seu nome na toponímia.

Manuel Costa Braz
Oficial e Ministro da Administração Interna
Falecimento: 2 de julho de 2019

Desempenhou um papel crucial na preparação e implementação da Revolução dos Cravos. Após a revolução, participou ativamente na transição para o regime democrático, contribuindo para o Programa do Movimento das Forças Armadas e o Documento dos Nove de Agosto de 1975 durante o PREC. Exerceu cargos políticos, incluindo o de 1.º Provedor de Justiça, Adjunto Militar do Primeiro-Ministro, e embaixador. Nomeado Provedor de Justiça e Alto-Comissário contra a Corrupção, exerceu de 1983 a 1993.

Marcelino da Mata
Tenente-Coronel
Falecimento: 11 de fevereiro de 2021

Natural da Guiné Portuguesa, destacou-se participando em 2412 operações militares durante 11 anos na Guerra Colonial, principalmente na Guiné. É o militar mais condecorado da história do Exército Português. No ano de 1975, enfrentou perseguições e conseguiu fugir para Espanha. No entanto, retornou durante o Golpe de 25 de Novembro de 1975, desempenhando um papel ativo na reconstrução democrática e no restabelecimento da ordem militar interna. Agiu com grande tolerância para com aqueles que o oprimiram.

Mário de Aguiar
Militar, secretário de Estado e primeiro administrador da hidroeléctrica de Cahora Bassa
Falecimento: 30 de janeiro de 2009

Nascido em 1933 nas Caldas da Rainha, participou em missões na Índia, Moçambique e Angola. Foi um dos capitães envolvidos no 25 de Abril. Após a revolução, ocupou cargos como secretário de Estado da Administração Escolar no Ministério da Educação (1975-1976) e secretário de Estado da Administração Pública no I Governo Constitucional (1976-1977). Em 1978, ficou paraplégico devido a um acidente. Ao longo da sua carreira, também desempenhou o papel de secretário-geral da Cruz Vermelha Portuguesa.

Melo Antunes
Tenente-Coronel
Falecimento: 10 de agosto de 1999

Um dos estrategas da Revolução dos Cravos, desempenhou um papel crucial ao redigir o documento “O Movimento das Forças Armadas e a Nação” em março de 1974. Foi co-autor do programa do MFA e integrou a sua comissão coordenadora após o 25 de Abril. Múltiplas vezes ministro nos governos provisórios, ocupou cargos como ministro sem pasta no II Governo Provisório e ministro dos Negócios Estrangeiros nos IV e VI Governos provisórios. Participou ativamente nas negociações para a independência da Guiné-Bissau.

Pinheiro de Azevedo
Oficial e primeiro-ministro
Falecimento: 10 de agosto de 1983

Após a Revolução, foi nomeado para a Junta de Salvação Nacional e, três dias depois, tornou-se chefe do Estado-Maior. Como parte do PREC, desempenhou um papel crucial na democratização do país. A 29 de agosto de 1975, assumiu o cargo de primeiro-ministro no VI Governo Provisório. Enfrentou desafios, queixando-se de ser sequestrado e enfrentando ataques das alas mais radicais da revolução. Chegou a suspender a atividade do governo, uma ação inédita, em resposta a esses desafios. Contribuiu para a derrota do “gonçalvismo” e defendeu a normalização da vida nacional.

Pires Veloso
Governador de S.Tomé e Príncipe
Falecimento: 17 de agosto de 2014

Depois da Revolução de abril, foi nomeado Governador de S. Tomé e Príncipe, tendo – entre 18 de dezembro desse ano e a independência (a 12 de julho de 1975)_-, assumido o cargo de Alto-Comissário desse território insular no Golfo da Guiné. Em setembro de 75 foi nomeado comandante da Região Militar do Norte, mantendo-se em funções até 14 de novembro de 1977. Pires Veloso integrou o Conselho da Revolução (1975-1977) e foi um dos protagonistas do Golpe de 25 de novembro de 1975. Dois anos depois, foi homenageado publicamente com a “Espada de Honra”.

Rebelo Gonçalves
Obreiro do Acordo Ortográfico entre Portugal e Brasil
Falecimento:  23 de abril de 1982

Há quem diga que, no seu tempo, ninguém possuía um conhecimento tão sólido e profundo das Línguas grega, latina e portuguesa. Foi professor universitário e investigador nos domínios da filologia e lexicografia da língua portuguesa. Deu aulas de Filologia Portuguesa e Clássica na Universidade de São Paulo entre 1935 e 1938, tendo integrado o grupo fundador da Casa de Portugal de São Paulo, de que foi o primeiro presidente. Em 1945, graças ao seu conhecimento sólido sobre a Língua portuguesa, foi designado obreiro do Acordo Ortográfico entre Portugal e o Brasil. Era especialista em Camões.

Salgueiro Maia
Aclamado numa revolução e humilhado noutra
Falecimento: 3 de abril de 1992

Quando pensamos em revolução é natural que o seu nome nos invada o pensamento: com o posto de capitão, na madrugada de 25 de abril de 1974, dirigiu as tropas revolucionárias de Santarém até Lisboa. As turbulências que se seguiram no ano e meio posterior fizeram com que saísse da Escola Prática de Cavalaria, comandando um grupo de carros às ordens do Presidente da República. Alguns defendem que estava do lado dos paraquedistas revoltosos. Foi “chutado” para funções burocráticas nos Açores. Durante oito anos não lhe seria permitido regressar à EPC. Voltou a Santarém em 1979, onde comandou o Presídio Militar.

Tomás Rosa
Ministro do Trabalho
Falecimento: nenhuma data divulgada

Foi Ministro do Trabalho no Governo Provisório VI (1975-1976), tal como se lê no arquivo histórico do Portal do Governo. Era bastante próximo de Vasco Lourenço. Segundo o jornal O País, publicado na semana de 20 a 26 de agosto de 1976, o capitão Tomás Rosa era a figura indigitada para vir a ocupar a pasta de ministro da República no arquipélago da Madeira. No entanto não veio a concretizar-se.

Vítor Alves
Um homem de abril
Falecimento: 9 de janeiro de 2011

Durante a sua vida militar esteve colocado no Ultramar em comissão de serviço onde permaneceu 11 anos, tendo recebido o Prémio Governador-Geral de Angola. Em 1974, formou um o MFA e redigiu o seu programa. Depois da revolução de 74, “foi essencial para fazer a ligação” entre os moderados e os radicais. Assumiu o posto no Conselho da Revolução e foi nomeado para o cargo de ministro sem pasta. Chegou a ser ministro da Educação e Investigação Científica em 1975 e 1976. No processo do verão Quente, esteve ao lado do chamado “Grupo dos Nove”.

Vítor Crespo
Antigo oficial da Marinha
Falecimento: 17 de dezembro de 2014

Foi um militar de abril de “todas as horas”, um dos principais dirigentes da Marinha no MFA, integrando a equipa do Posto de Comando da Pontinha, nas operações militares do 25 de Abril. Depois disso, foi membro do primeiro Conselho de Estado e assumiu o cargo de Alto-Comissário de Moçambique até à independência. Entre setembro de 1975 e julho de 1976 foi ministro da cooperação do governo chefiado pelo almirante Pinheiro de Azevedo. De 1984 a 1985 foi Embaixador e Representante Permanente de Portugal junto da UNESCO, em Paris.

Vítor Ribeiro
O “herói esquecido”
Falecimento: 24 de março de 2018

Considerado por muitos o “herói esquecido”, Vítor Ribeiro foi o primeiro presidente da Associação de Comandos e mobilizador de militares comandos para o contra-golpe do 25 de Novembro de 1975, “em ligação com o comandante do RCA, Jaime Neves, que os convocou, e na chaimite do qual rebentou os portões do quartel insurrecto da Polícia Militar, chefiada pelo triunvirato de extrema-esquerda de Campos Andrada, Cuco Rosa e Mário Tomé”, lê-se no site da Associação de Comandos. Na véspera do seu falecimento, foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique (Comendador).