O PSD está encurralado

Se o PSD ganhar as eleições com maioria relativa, ou governará com o Chega, ou não governará de todo…

Tudo aponta para que venha a ser Pedro Nuno Santos (PNS) o próximo líder dos socialistas. A ser esse o caso, teremos, nas eleições de março, um bloco coeso e homogéneo reunindo toda a esquerda e a extrema-esquerda parlamentar: PNS já o disse. Quer isto dizer que o centro-direita e a Direita irão confrontar-se com um bloco coeso, liderado por um partido socialista que, na própria expressão de PNS, “aumentou a sua autonomia estratégica” pela abolição, a partir de 2015, das linhas vermelhas que o tradicional PS de Mário Soares sempre colocara entre si e a extrema-esquerda. E este é o primeiro trunfo do campo socialista frente aos partidos à direita do PS. Mas há um segundo trunfo, tão relevante quanto o primeiro: é que não apenas o PS alargou a autonomia estratégica no seu próprio campo, como a alargou ao campo do adversário, capturando a estratégia do, ainda, maior partido da oposição, o PSD. Em síntese: o PS alargou o seu espaço de manobra retirando as linhas vermelhas até 2015 existentes entre o PS e a extrema-esquerda, como se deu ao luxo de pressionar, com êxito, o PSD a colocar essas linhas vermelhas entre este partido e aquele que, em todas as sondagens, surge como imprescindível para a criação de um sólido bloco de direita que se possa opor ao bloco formado por toda a esquerda.

Melhor (para o PS) era impossível. Ainda que sendo uma estratégia que está a ser seguida um pouco por toda a Europa, com particular relevo – e com os mesmos bons resultados para socialistas – em Espanha, não posso deixar de aplaudir esta jogada simples, mas eficaz, que se processou em duas fases.

Primeira fase, alínea a) a de conseguir classificar o partido conservador e liberal que é o Chega como de ‘extrema-direita’. Alínea b), a de conseguir fazer passar a ideia peregrina, nunca fundamentada no mais pequeno facto, de que o Chega seria ‘um perigo para a democracia’. Alínea c) que o Chega era o partido de gente ‘zangada’, motoristas de táxi e outros ‘desclassificados’ do mesmo jaez, gente pouco cool que – horror! – nem sequer passava pela Cinemateca ver cinema de autor ou pelas exposições mais in da Gulbenkian e de Serralves. 

Isto, inventado pelos argutos estrategas do Rato, conscientemente repetido pelos avençados do PS, do PCP e do BE, ecoado pela bolha onde flutua o comentário político e jornalístico e amplificado pelos idiotas úteis que sempre sobram em qualquer lado, foi quanto bastou para horrorizar o que resta do Caldas, os emergentes do Príncipe Real mas, principalmente, os tão moderados inquilinos da S. Caetano.

Passa, então, o Largo do Rato à segunda fase: como podia um partido com estes deploráveis pergaminhos democráticos e sociais fazer parte da élite a quem cabe, por direito que se diria divino, adquirido ao longo de quarenta e oito anos, o privilégio de governar o país na civilizada alternância de mais do mesmo? 

O PSD, sempre ansioso por certificados de respeitabilidade e de bom comportamento carimbados e assinados pela esquerda, caiu na armadilha no tempo de Rui Rio e mais nela se afundou com o famoso “não é não” de Montenegro.

Resultado? À esquerda, um bloco sólido estrategicamente bem definido e organizado. À direita, um PSD que a si próprio se encurralou. Um PSD que jamais poderá ganhar as eleições com maioria absoluta mas que, ganhando-as com maioria relativa, ou governará com o Chega, ou não governará de todo. 

As coisas são o que são.