“No início de 2023 a convite da Dr.ª Dulce Rocha tornei-me embaixadora da Justice Initiative, uma iniciativa que parte do seu fundador Guido Fluri juntamente em parceria com o Instituto de Apoio À Criança entre tantas ONGs e federações europeias e mundiais para combater o abuso de crianças online”, contava a ativista dos direitos humanos Francisca de Magalhães Barros, ao Nascer do SOL e ao i, em setembro. Agora, a petição alcançou 541 mil assinaturas e a jovem esteve, esta quarta-feira, no Parlamento Europeu.
“Mais um enorme feito em prol de todas as vítimas e sobreviventes desde crime hediondo que necessita de ser travado e combatido severamente agora com diretivas duras por parte da União Europeia”, diz, em declarações ao Nascer do SOL e ao i. “Quero agradecer à Presidente do Instituto de Apoio à Criança, Dulce Rocha, por me indicar para o trabalho, mas também ao Guido e Tânia Fluri por confiarem em mim em todo o processo. Todo o meu trabalho vai para os sobreviventes desde crime inqualificável, apenas abjecto, como o António e a Filipa do Coração Silenciado, o Marco e a Melânia, mas dedico-o também e especialmente a todas as vítimas de abuso sexual na infância. Dedico-o ao Guido e também à Tânia. Com a certeza de que se for necessário o meu trabalho não irá ficar por aqui. Só juntos somos e fazemos a diferença”, deixa claro.
De acordo com um relatório da Internet Watch Foundation (IWF), o aumento da utilização da Internet, durante a pandemia, foi aproveitado pelos predadores sexuais. Assim, a partilha de imagens de crianças vítimas de abusos sexuais cresceu acima de 1000%. Questionada sobre este número, em setembro, Francisca esclareceu: “O que penso deste número? Que ou agimos ou continuamos a perpetuar a pedofilia: é simples”. Por outro lado, no ano passado, mais de 63 mil sites foram reportados como contendo imagens de crianças que foram coagidas a fazer atos sexuais gravados por predadores. Ou seja, houve um aumento de 129% relativamente a 2021, quando este número era de 27.550. No entanto, se compararmos com o número de 2019, em que existiam 5.443 registos, existe um aumento de 1.058%. “Não são os números que me surpreendem, talvez porque já deixaram de o fazer, o que me surpreende são a quantidade de pessoas que lucram com a imagem dos seus filhos, pondo a sua segurança atrás do seu lucro. Uma criança de dois anos, com uma página criada e milhares de seguidores, não tem noção que os próprios pais estão a explora-la, a deixá-la à mercê de 500 mil predadores sexuais online”, disse Francisca.
Das imagens existentes, de 2022, de crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 10 anos, 14% correspondem a material de Categoria A. Isto é, do nível mais severo, como atividades que incluem penetração sexual, animais ou sadismo. O que devemos, enquanto sociedade, pensar acerca desta realidade? Na ótica da ativista, “devemos mesmo é repensar várias vezes, o que é que andamos a fazer”. “Ao termos toda a informação e mais alguma, ao sabermos, que o pior crime da humanidade anda e vive dentro das nossas casas, e mesmo assim o importante é ter patrocínios para os nossos filhos? Andamos todos aqui a brincar, não?”.
No âmbito da petição, Portugal foi o primeiro país a conseguir obter 140 mil assinaturas.