Ursula von der Leyen é a mulher mais poderosa do mundo no ano de 2023, para a conceituada revista Forbes. Logo a seguir à alemã que preside à Comissão Europeia surge a francesa Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, e imediatamente depois a vice-presidente dos Estados Unidos da América, Kamala Harris. Nesta lista da Forbes, a quarta mulher mais poderosa do mundo é Giorgia Meloni, a primeira-ministra de Itália, que aparece à frente da popstar Taylor Swift (’Personalidade do Ano’ para a não menos conceituada revista Time)) e das presidentes executivas da CVS Saúde, Karen S. Lynch, e do Citigroup, Jane Fraser. Da lista saíram neste ano mulheres como Jacinda Ardern, a trabalhista que liderou a Nova Zelândia durante a pandemia e até ao início deste ano, Sanna Marin, ex-PM da Finlândia, ou Nicola Sturgeon, ex-PM da Escócia – todas sucedidas por homens nos respetivos cargos.
Nos antípodas geográficos e políticos de Jacinda Ardern – nesta página várias vezes elogiada pelas suas qualidades de liderança e de comunicação (vale a pena rever o vídeo em que lhe era pedido que resumisse em dois minutos tudo o que fizera nos primeiros meses de mandato e que termina com um pedido de desculpas por não ter conseguido respeitar o limite de tempo e acrescentando a pergunta, com um sorriso aberto: «Mas valeu a pena, não valeu?») –, Meloni mereceu um chorrilho de ataques pessoais e desastrosos prognósticos para o país quando se tornou a primeira mulher chefe de Governo de Itália.
Passado mais de um ano sobre as eleições que consagraram a líder do partido Irmãos de Itália, e por isso a Forbes a reconhece, Giorgia Meloni impôs-se no país e na Europa, sem problemas nem contestação de maior. Afinal, não deu cabo da democracia e até a sua política relativamente aos imigrantes e à necessidade de controlo das entradas na Europa ganha cada vez mais seguidores, comprovando-se que é a única forma de evitar que o ‘Velho Continente’ se transforme num autêntico barril de pólvora e de combater extremismos e radicalismos tanto de esquerda como de direita. E não há milagres.
Assim sendo, a única coisa de que Giorgia Meloni terá dado cabo desde o dia da eleição, no final de outubro de 2022 – além de ter sido a única a taxar os lucros excessivos da Banca –, terá sido mesmo o seu casamento. A conservadora líder italiana foi implacável na determinação de separar-se do seu marido, o (como ela no passado) jornalista Andrea Giambruno, depois de este ter feito publicamente comentários sexistas e ter assumido que tinha uma amante.
A vida tem destas coisas. Enquanto a trabalhista e feminista Jacinda Ardern, no início do ano, apresentou a demissão para salvar a relação com o seu companheiro e poder dedicar mais tempo à sua filha – «poder ir buscá-la à escola, por exemplo» –, a conservadora de extrema direita Giorgia Meloni anunciou nas redes sociais o termo da sua relação matrimonial de mais de 10 anos, cortando pela raiz qualquer possibilidade de os comportamentos do seu marido poderem pôr em causa ou abalarem de alguma maneira o exercício das suas funções ao serviço do país.
Meloni tem pêlo na venta, como tem inegáveis qualidades de liderança e, como Jacinda, uma invulgar capacidade de comunicação e relação de empatia com os seus concidadãos.
Nos últimos dias tem circulado na web um vídeo (que já terá sido gravado no ano passado) com o apelo de Meloni à feitura do Presépio «neste Natal». E que ganha especial relevo no Natal em que se completam 800 anos sobre a primeira representação do nascimento de Jesus mandada fazer por São Francisco de Assis em Grecco, na Itália, como conta o Papa Francisco no livro O Meu Presépio, lançado recentemente para assinalar a efeméride.
No vídeo, Meloni aparece a acabar de colocar as ovelhinhas num Presépio, volta-se para a câmara e diz: «Eu faço árvores de Natal estupendas. Sou ‘cinturão negro’ em árvores de Natal. Mas este ano decidi mudar tudo. Este ano, de ‘arborista’ passo a ‘presepista’».
Continua: «Resolvi fazer o Presépio quando mais ninguém o faz. Resolvi fazer o Presépio quando na escola ensinam que não deve ser feito porque pode ofender quem tem ou quem acredita noutra cultura».
Para questionar: «Como pode ofender um menino que nasce numa manjedoura? Como pode ofender uma família que foge para proteger uma criança? Como pode ofender-te a minha cultura?».
Meloni olha para o Presépio e reforça que nele está representada a cultura em que foi criada e educada, os valores em que acredita, e que dele resulta a sua crença no respeito pelas diferentes culturas e crenças, na laicidade do Estado, na solidariedade… Para concluir que são esses valores que quer transmitir à sua filha (e do sexista Giambruno), Ginevra. Os valores do Presépio e do Natal, que é mais do que «trocar presentes» e «comer tudo o que pode».
E termina colocando a última figura do seu Presépio, depois de deixar o apelo: «Este ano, todos juntos, vamos agarrar no pastor e fazer a ‘Revolução do Presépio’».
O Papa Francisco, comunicador nato e eloquente, não faria melhor.