A estratégia do PS até às eleições legislativas está traçada: vai passar pela vitimização de António Costa em relação à queda do Governo e no que tem que ver com a disputa à liderança no PS, pela tentativa de reciclagem política de Pedro Nuno Santos e de José Luís Carneiro. Acontece que António Costa não é vítima, mas sim obreiro das más escolhas que fez e do fracasso e do insucesso do executivo que liderou durante 8 anos, contados desde 2015. Por seu lado, Pedro Nuno Santos e José Luís Carneiro são partes e rostos principais desse percurso, a essência desse tempo, tido em conta que António Costa não esteve sozinho.
Numa noite recente, em que admitia que não exerceria mais cargos públicos – esse tempo já lá vai e a intenção também –, António Costa disse que «um primeiro-ministro não tem amigos». Não tem realmente, pelo menos este primeiro-ministro, vendo-se como o Presidente da República, que a seu tempo o PS quis próximo, na procura interesseira da notoriedade invulgar do chefe de Estado, vai sendo agora visado como o protagonista de feição que melhor encaixa na narrativa da cabala.
Por ser injusto, cabe aos portugueses recusar que, aqui chegados, o primeiro-ministro consiga responsabilizar o Presidente da República, pela crise política aberta com a sua demissão.
Sejamos claros: as causas para a queda do Governo não estão em Belém, nem são judiciais. São políticas e da maior gravidade, tendo como responsáveis o PS, o Governo e António Costa, que mesmo em maioria absoluta, sem obstáculos, nem desculpas, foram incapazes de responder aos problemas da sociedade portuguesa.
As causas para a crise política e a queda do Governo, encontram-se em 14 substituições de governantes em perto de 2 anos. Estão em valores recorde de dívida em valor absoluto, despesa pública e de carga fiscal, mesmo sobre pessoas com poucos rendimentos. Percebem-se no descalabro dos principais serviços públicos, particularmente na Saúde, na Educação e na Justiça. Confirmam-se no desperdício de fundos comunitários e nos fracassos em políticas essenciais, com exemplos na Habitação, Transportes e Agricultura. Estão também na gestão inacreditável do processo da TAP, renacionalizada por capricho ideológico, sorvedouro de mais de 3,2 mil milhões de euros de recursos escassos dos contribuintes, usados em indemnizações milionárias decididas por SMS e esquecidas apesar dos números. Veem-se na forma como o SIS foi instrumentalizado em jeito de polícia politica, pondo em causa direitos, liberdades e garantias de um cidadão em processo de disputa com um ministério.
Tornaram-se até insuportáveis, quando Mário Centeno, escolhido por António Costa como sucessor dileto, revelou dependências escusadas e lesivas da independência do Banco de Portugal.
Por tudo isto, que não é pouco, Portugal tem que virar a página e mudar de vida. Havendo um bocadinho de memória, sentido crítico e um mínimo de exigência de responsabilidades, se a crise política foi criada pelo PS, a resposta necessária será dada pelos eleitores nas urnas. Espera-se…