O Médio Oriente. Um barril de pólvora mundial. Entroncamento de culturas e povos distintos entre Ocidente e Oriente, encontrou nas religiões monoteístas palco fértil para superação das diferenças. Todavia, a crença universalista de cada religião transformou o Mediterrâneo e seus vasos comunicantes num histórico campo de guerras, conflitos e insegurança.
Gaza. Guerra exterminadora? Ou sobrevivência de Israel? Curdos na Turquia. Minorias arménias no Azerbaijão. Quanto tempo temos antes de mais guerra? Porque existem aqui Estados falhados (ex: Palestina, Líbano, Síria)? Os beligerantes, minorias sacrificadas ou terroristas serão sua causa ou consequência ? Questões sem resposta política.
O que diz a História? Os problemas atuais começaram no Suez. E na substituição do Império Otomano pelo Britânico no Egito. A cobiça ocidental do canal, vital para seu transporte marítimo e comércio mundiais, acentuou a decadência das instituições otomanas na tecnologia e sua rutura no fim da I Guerra Mundial. Os acordos franco-britânicos de 1916 criaram mosaicos complexos de Proto-Estados de influência ocidental sem suporte estrutural. O resultado foi a rápida independência de novos países árabes de forte nacionalismo autoritário e religioso.
A criação do Israel hebreu em 1948 acentuou nacionalismos religiosos. Alimentando ideários de insegurança em redor para legitimação de Estados de guerra, mais do que de Direito ou caráter laico. Israel depende de equilíbrios instáveis: poder nuclear, inteligência diplomática na finança ou comércio e apoio ocidental como seu país – porteiro de influência na região.
O Império Otomano foi mais estável por séculos na região. Ponte entre Oriente e Ocidente, o seu sucesso baseou-se em governos provinciais, os sanjak, distritos com milhares de km2 e inquéritos cadastrais de recursos económicos humanos e económicos metodicamente discriminados de aldeia a cidade. Os governadores, os bey, eram nomeados centralmente por períodos de três anos, rodando pelo Império, com base em qualidades militares e de governo, sem atribuição de privilégios terratenentes. A propriedade mantinha-se, em regra, no Estado.
A união de credos muçulmanos desde a Líbia aos Balcãs baseava-se na lei religiosa islâmica (a sharia) que fundamentava a aplicação de uma Justiça local. Uma instituição (a ulama), composta por estudiosos qualificados, interpretava a lei e geria o sistema de tribunais religiosos com jurisdição sobre família, casamento, heranças e outros assuntos privados.
Porque falha o mundo da paz na região? A fórmula Estado laico israelita – Estado religioso palestiniano não tem História a fundamentá-la. Também visões unilaterais de soberania baseadas em parlamentos criadoras de leis globalizantes e transversais. Ausentando a Justiça na base de relações de comunidade locais, sem recurso à religião.
Que futuro geopolítico? Um paralelismo institucional Israel-Estados falhados. Uma Constituição mínima escrita federadora de cidades (santas e, infelizmente, mártires) alimentada por poderes (ex: energia, transporte, logística, autoridade religiosa, tributação do comercio na equação Canal do Suez). Administrações de cidades informadas, rotativas, qualificadas e temporárias. Justiça como espaço de relações comunitárias. Tradição e religião como fontes de justiças distributivas locais. Não é original. Sistemas políticos identitários originaram-se em tribunais locais consuetudinários. Numa ilha europeia cimentando um futuro Império: o Britânico.
A base internacional retirará o nuclear da equação, será vigilante e pragmático com porteiros rotativos cooptados Ocidente-Oriente transpondo na realidade geográfica a história geopolítica. Teremos tempo antes de uma catástrofe? O mundo tem falta de uma cultura geopolítica.
Invoco o filósofo Isaiah Berlin. A função normal da política, diz, é equilibrar o sonho da liberdade de qualquer lugar com as raízes da segurança de um lugar. Em suma, uma conciliação aspirante entre o universal e o local.