Dia 3-12: apenas um dia, sem razão para festejos

O Estado é definitivamente o principal responsável pela discriminação inadmissível que ainda existe e persiste com pessoas portadoras de deficiência no nosso país

No dia 3 dezembro, assinalou-se o dia internacional da pessoa com deficiência e fica bem neste dia fazer-se menção às pessoas portadoras de deficiência, só que nos outros dias todos do ano estas pessoas continuam a não merecer a devida atenção do Estado e da própria sociedade.

As pessoas portadoras de deficiência deviam ser prioridade para qualquer governo, deviam ser preocupação na comunidade, deviam merecer uma especial atenção de todos, só que infelizmente a realidade é bem diferente. 

O Estado não cumpre o seu dever, como por exemplo assegurar as condições financeiras necessárias para que estas pessoas tenham uma vida digna e os seus cuidadores possam de facto abdicar de trabalhar para se lhes dedicarem a tempo inteiro, quando assim é comprovadamente necessário. Infelizmente, a ausência de resposta em termos sociais também sucede na educação, quantas famílias são confrontadas com a falta de resposta das escolas para acolherem e darem o devido acompanhamento aos seus filhos?!?

Quantas famílias que não têm onde deixar os filhos maiores de idade durante o seu horário laboral?

O Estado é definitivamente o principal responsável pela discriminação inadmissível que ainda existe e persiste no nosso país.

As pessoas com mobilidade reduzida ou com baixa visão deparam-se no seu dia a dia com barreiras arquitetónicas que lhes reduz, ainda mais, a liberdade de movimentos. Isso é notório em diversos exemplos, como edifícios municipais e outros do Estado que deveria ser exemplo. Quem nunca viu obras públicas efetuadas recentemente onde por exemplo existe um passeio estreito com um poste de iluminação pública ou um sinal de trânsito ao meio, impedindo a circulação de uma cadeira de rodas? Este é apenas um exemplo, mas há mais exemplos que podiam ser dados.

A comunidade também não cumpre o seu papel, por exemplo, ao permitir que ainda existam tantas barreiras arquitetónicas, e convenhamos que a nossa sociedade falha em muitos outros aspetos, falha ao não exigir do Estado mais atenção para as pessoas portadoras de deficiência, falha ao não combater a exclusão que infelizmente ainda existe e falha em gestos tão básicos como estacionar uma viatura num lugar destinado a deficientes.

As barreiras culturais são outro problema, a mentalidade de muitos empresários é retrógrada, preconceituosa e ainda não têm a desejada responsabilidade social, criando assim maior dificuldade no acesso ao emprego a pessoas com deficiência. Mas desengane-se quem pense que a inclusão de ‘pessoas especiais’ numa empresa pode ser um ‘peso’, como se uma pessoa cega ou surda não pudesse desempenhar determinadas funções com muita eficiência. 

Analisem, no vosso dia a dia, quantas pessoas portadoras de deficiência veem a trabalhar e tirem as vossas conclusões. Há de facto muito a melhorar para progredirmos para uma sociedade mais justa e mais inclusiva.

É necessária a solidariedade de todos com as pessoas especiais, entenda-se que solidariedade não é pena ou qualquer tipo de sentimento do género, é sentido de justiça, de partilha e de exigência para contribuirmos para o bem-estar de todos e, então aí, poderemos ter orgulho em viver numa sociedade inclusiva, em vez de sentirmos vergonha numa sociedade que, muitas vezes, exclui a inclusão.

É esta Exclusão da Inclusão que mais nos deve preocupar enquanto sociedade e que infelizmente é praticamente ignorada, dói apenas a quem vive deparado com as inúmeras barreiras e não encontra as respostas que deviam existir. 

Pensemos nisto!

Infelizmente, o dia internacional da pessoa portadora de deficiência é apenas um dia sem razão para festejos.

Gestor