O meu colega Vítor Rainho já escreveu sobre este assunto e eu não irei acrescentar muito mais. Mas não resisto a comentar um tema que é bem ilustrativo de como as modas condicionam os espíritos mais débeis e os levam a fazer coisas contra toda a lógica.
Refiro-me às casas de banho unissexo, que vão ser implementadas nas escolas (com os votos do PS, BE, Livre e PAN). Não sei como isso se processará: se são as atuais casas de banho que passarão a ser frequentadas indiferentemente por rapazes e raparigas, se se construirão outras. Se a decisão for construir, é evidentemente um disparate. Um desperdício. Num país em que não há dinheiro para nada, que sentido faz construírem-se novas casas de banho para substituir outras que funcionam?
E como serão essas novas casas de banho? Só vejo uma hipótese: terem apenas cabinas individuais, acabando os urinóis. Mas uma decisão destas, com o devido respeito, só pode caber na cabeça de alguém que nunca entrou numa casa de banho para homens. É que, nestas, as pessoas despacham-se, porque os urinóis são uma solução muito prática, enquanto nas casas de banho das mulheres há sempre gente à espera.
De resto, basta ir a uma sala de espetáculos e ver o que se passa no intervalo de uma sessão concorrida: à porta dos lavabos das senhoras há uma comprida fila.
Acabar com os urinóis representará, pois, um incómodo e um desperdício de tempo. Além de que consumirá muito mais área, pois uma cabina exige evidentemente mais espaço do que um urinol.
Só desvantagens, portanto. Gasta-se dinheiro e o sistema funcionará pior.
Suponhamos, então, que se mantêm as atuais casas de banho, mas que rapazes e raparigas poderão ir indiferentemente a umas e a outras. Há aqui uma vantagem: não gastar dinheiro. Mas o que se ganha em relação à atual situação?
As raparigas podem servir-se dos urinóis? Não podem, por razões que me dispenso de explicar. A diferença é que os rapazes poderão servir-se das cabinas nas casas de banho femininas. Mas isso só irá roubar espaço às raparigas, provocando mais engarrafamentos.
Há ainda outro problema nas casas de banho mistas, sejam as atuais ou as novas: a perda de privacidade. Essa questão já existe nos WC públicos, mas a sua utilização em simultâneo por raparigas e rapazes ainda a irá agravar.
Todos os seres humanos têm uma dimensão pública e outra privada. Há coisas que gostamos de fazer em público mas outras em que precisamos de intimidade. As casas de banho, pela natureza do seu uso, são espaços privados. Ninguém gosta de se expor a fazer as necessidades em público. O meu amigo e mestre arquiteto Manuel Tainha contava-me que nos anos 50 foi à Suécia e deparou-se com uma casa de banho de homens onde não havia cabinas e tudo se passava numa sala com sanitas à volta. Ora, embora ele fosse um homem progressista, sentiu-se constrangido com a situação. Um indivíduo sentar-se numa sanita a fazer as necessidades à vista de todos é horrível.
Penso que esse modelo resultaria de uma mistura entre as ideias coletivistas muito em voga na época e uma certa barbárie de que ainda estão próximos os povos do Norte – cujas hordas vinham por aí abaixo, homens e mulheres, comendo onde calhava, dormindo onde calhava, deitando-se uns com os outros, numa grande promiscuidade.
A privacidade foi uma conquista da civilização. Ora, indiferenciar as casas de banho diminuirá a privacidade, fomentará a promiscuidade e estimulará o voyeurismo.
Não se vendo nenhuma vantagem funcional, nem económica, nem doutro tipo, pelo contrário, na existência de casas de banho mistas, como se compreende que a ideia vá avançar? Apenas encontro uma justificação: acabar com a discriminação entre homens e mulheres também nos WC.
Quando eu era criança, na escola primária que frequentava havia diferenciação de sexos. Num lado do edifício eram as raparigas, noutro lado os rapazes; e os recreios estavam separados por um muro, onde os rapazes se empoleiravam para ver as meninas brincar. De vez em quando aparecia uma funcionária que se encarregava de os fazer saltar dali abaixo.
Esse muro foi derrubado, naquela escola e nas outras, e hoje rapazes e raparigas brincam juntos no recreio. E agora quer fazer-se o mesmo nas casas de banho. Só que aí há um equívoco: nesta matéria, a discriminação não foi inventada pelos homens mas sim criada pela biologia. E não adianta lutar contra a natureza. Não se pode pôr uma menina a fazer xi-xi num urinol.
P.S. – (À atenção da Carris) – Esta semana assisti a um episódio arrepiante. No alto do Restelo, perto do hospital com este nome, há uma Escola Secundária. O hospital fica de um lado, a escola do outro, e entre os dois passa uma larga avenida chamada das Descobertas. Nas horas de saída das aulas, há muitos jovens a atravessar a avenida. Um dia destes, numa passagem de peões junto exatamente à escola, o semáforo estava fechado para os que seguiam em frente mas aberto para os que mudavam de direção. De repente, vejo um grupo de jovens a atravessar a avenida, uns sete ou oito – e um autocarro da Carris a aproximar-se a alta velocidade. Sem fazer menção sequer de abrandar, buzinou e continuou desalvorado; os miúdos saltaram para o passeio, e o autocarro passou-lhes uma tangente. Se um deles se tivesse atrasado uma fração de segundo, teria sido esmagado. Nas mãos de um motorista como este, um autocarro é uma arma de morte à solta na cidade.