Aparentemente, na sociedade portuguesa, o sistema de avaliação que maior intuito tem em identificar e premiar o mérito, é o sistema de avaliação adotado pelos diversos graus de ensino na forma como avalia os alunos. Especial importância a esse sistema, é dada pelas famílias portuguesas no que aos seus filhos diz respeito no procedimento de acesso ao ensino superior. Por assegurar que os melhor preparados, dentro dos parâmetros e regras definidas, são os escolhidos, tornou-se unânime a importância e justiça do sistema. Nesse sistema não há lugar a cunhas, favores ou outras formas de contornar as regras. É um sistema de meritocracia puro e duro, onde os truques da ‘chico esperteza’ não têm lugar.
A propósito de mérito e meritocracia, chamo a atenção para um pequeno grande detalhe, bem demonstrativo da distração ou alergia do sistema político ao conceito de mérito. A Constituição da República Portuguesa não inclui em nenhum dos seus artigos as palavras mérito ou meritocracia deixando campo aberto à invasão do sistema político por um conjunto muito alargado de inabilitados que, em alternativa, ‘não têm onde cair mortos’ e que ao integrarem partidos políticos encontram aí uma rota de ascensão socioprofissional e acesso a cargos de responsabilidade, que em circunstância onde os sistema de avaliação meritocrática estivessem presentes, não seria possível.
Escrevo esta nota por considerar que um dos maiores entraves ao desenvolvimento e modernização do nosso país consiste precisamente na ausência de critérios de mérito na escolha dos dirigentes partidários e candidatos às diferentes eleições. Se olharmos para o calibre meritocrático dos membros do parlamento ao longo das últimas décadas, verificamos uma degradação que é extensível aos membros dos sucessivos governos, com particular destaque para o cargo de primeiro-ministro. Porventura pela proximidade ao eleitor que desse modo se torna mais exigente, considero que ao nível do poder autárquico esse fenómeno é substancialmente menos vincado.
Passados praticamente 50 anos da Revolução de 1974, considero imprescindível a inversão desta prática que possibilita a manipulação dos partidos por aqueles que se tornaram especialistas no controlo e funcionamento dos respetivos aparelhos. Nas eleições de 10 de março próximo já não nos resta senão escolher entre profissionais funcionários de partidos que se tornaram profissionais da política que, na conceção que faço do que constitui ser político e exemplo político, pouco ou nada em si carregam. A política de promessa e conteúdo vazios tem atrasado de forma muito grave a sociedade portuguesa.
Portugal só poderá avançar quando para se ser político deixe de ser obrigatório ser funcionário de partido.
É-me evidente o vazio que existe no campo político euro moderado, social democrata e progressista que possa trazer à política a capacidade de fazer bem feito, precisamente pela exigência de impor a candidatos provas dadas e história de mérito. Tal só poderá acontecer com uma evolução constitucional e para isso é necessário garantir o aparecimento de novas forças políticas com essa doutrina e orientação.
CEO do Taguspark, Professor universitário