Saudades? Só do Futuro!

Claro que daqui a uns meses já nem nos lembramos do que mentalmente prometemos, e a vida lá vai continuando.

Querida avó,

Que bom que foi estes dias que passamos juntos em Lisboa.  Sei que não ligas às tradições de passagem de ano. Eu, como sempre, faço questão de vestir uma peça de roupa azul, brindar com champanhe, de ver o fogo-de-artifício e, pelo sim e pelo não, ter umas quantas notas no bolso.

Quando estou em Lisboa, não prescindo de ir assistir ao Concerto de Ano Novo ao CCB. Assim como assisto sempre ao Concerto de Ano Novo da RTP, comentado pelo nosso amigo Júlio Isidro.

Engraçado analisar as diferentes formas de comemorar o Ano Novo pelo mundo.

Por exemplo, na China, o Ano Novo é celebrado em uma data diferente, de acordo com o calendário lunar. Eles fazem uma grande festa com lanternas, dragões, leões e fogos-de-artifício. Também dão envelopes vermelhos com dinheiro para as crianças e os idosos, como símbolo de sorte e prosperidade. No meu caso não me calhava envelope nenhum.

Na Escócia, o Ano Novo é chamado de Hogmanay e é uma das festas mais importantes do ano. Acendem fogueiras, tocam gaitas de fole, cantam canções tradicionais e visitam os vizinhos para desejar-lhes um feliz Ano Novo. Quero ver se no próximo ano visito, finalmente, a Escócia.

No Brasil, o Ano Novo é uma festa muito animada e colorida. As pessoas vestem-se de branco, para atrair paz e harmonia, e vão para a praia, onde saltam sete ondas e atiram flores para o mar, para homenagear a Iemanjá. Jamais esquecerei as passagens de ano que passei no Rio de Janeiro.

Não imaginas a vontade que tenho em passar a passagem de ano no Funchal, algo que não está ao alcance de todos. A passagem de ano na Ericeira também deve ser inesquecível.

No fundo, o que importa mesmo é celebrar a vida, a esperança e o amor, não importa onde ou como.

Por isso, eu quero desejar-te um feliz Ano Novo, cheio de saúde, alegria e paz. És muito especial para mim, como sabes.

Bom ano.

Bjs

Querido neto,

E lá chegámos ao fim de mais um ano. Um ano mau, a alertar para perigos e ameaças de que nem suspeitávamos, e a mostrar-nos a terrível fragilidade
em que assenta o nosso mundo. Começa agora um novo ano – e é para ele que nos devemos virar agora.

Por muito que se queira mostrar aos outros que somos superiores a estas datas festivas, e que o dia 1 de janeiro é apenas mais um dia no calendário, e que janeiro é apenas o mês que se segue a dezembro, como março é o mês que se segue a fevereiro, e coisas assim – não é verdade.

Janeiro é sempre um mês diferente!

Um mês pesado, por todas as expectativas que nele colocamos, e por todas as promessas que fazemos a nós próprios.

É a partir de agora que vamos ter mais tempo para as pessoas que precisam de nós. É a partir de agora que vamos visitar mais vezes a tia, a madrinha, a prima, o avô que está no lar….

Claro que daqui a uns meses já nem nos lembramos do que mentalmente prometemos, e a vida lá vai continuando.

E embora este ano que passou não tenha deixado saudades nenhumas – é de saudade que aqui falo hoje.

Porque sempre me pareceu estranho que este mês de janeiro – vocacionado para nele pensarmos no futuro – tivesse sido o mês escolhido para nele se instituir o Dia da Saudade.

E o que ainda me parece mais estranho é que não tenhamos sido nós, os portugueses, a instituí-lo!

Nós – que, ao que parece, temos o exclusivo da palavra, deixámo-nos ultrapassar pelos brasileiros!!!

É verdade. Foi o Brasil, que partilha a nossa língua, a decidir, já há anos, celebrar oficialmente o Dia da Saudade no dia 30 de janeiro.

Mas, neste princípio de ano, e para rematar esta crónica “saudosista”, quero recordar aqui o grande poeta José Gomes Ferreira (um amigo de quem tenho muitas saudades!) que dizia:

«Saudades, só do futuro!»

E o futuro começa amanhã. E que venha bem diferente do passado que hoje largamos.

Bom ano.

Bjs