Um ano na Igreja…

Dois acontecimentos eclesiais em Portugal em 2023: as Jornadas Mundiais da Juventude e o relatório sobre os Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica.

Terminamos o Ano Civil e iremos começar, em breve, um novo ano! Olhando para trás vem-nos à ideia um conjunto de acontecimentos que nos podem deixar perplexos ou maravilhados. Uns são, para todos, motivo de grande alegria, outros, serão, motivo de dor e sofrimento.

Penso que há dois acontecimentos eclesiais, em Portugal, que são inegavelmente relevantes para a avaliação do ano de 2023. Em primeiro lugar, as Jornadas Mundiais da Juventude, e, em segundo lugar, o relatório sobre os Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica.

Sobre o primeiro acontecimento, penso que não haverá dúvidas que, para os cristãos, católicos, foi um acontecimento único, que nos trouxe uma forma de olhar para a Igreja e para o cristianismo de uma forma muito diferente. Eu, por mim, sabia, seguramente que este acontecimento seria, independentemente das polémicas, um acontecimento de um alcance enorme. Aliás, posso dizer que esta foi a minha sétima jornada: Paris, Roma, Toronto, Madrid, Colónia, Varsóvia e Lisboa. Não tenho a menor dúvida que estarei, em 2025, em Roma, e em 2027, em Seul.

Foram, também, evidentes os escândalos financeiros que um acontecimento destes consegue marcar por onde passa. Em primeiro lugar, o preço do palco! Cinco milhões que enormidade! Que grandeza de orçamento este. Alguns diziam que se fosse mais baixo ninguém conseguiria ver… e assim aconteceu! Eu estava no primeiro setor e não consegui ver nada. Disse, também, a quem estava comigo: não há dúvida de que terão de subir este palco ou não servirá para nada no futuro. Meses depois estava desmontado… veremos o que irão fazer…

Um segundo escândalo, um país laico estar a financiar um evento religioso. Penso que não conseguiremos, nunca, saber quanto é que o governo português conseguiu arrecadar só no consumo do IVA que os peregrinos aqui deixaram. Mas, seguramente, terão arrecadado bastante, fora as múltiplas atividades onde se inseriram.

Eu já estava à espera que tal acontecesse! Já tenho muita prática de jornadas e todas elas foram meticulosamente boicotadas por diferentes grupos. Lembro-me, por exemplo, que, em 1997, em Paris, a Revista Panorama decidiu colocar cartazes, por toda a cidade com um mulher grávida despida, alertando para a questão do aborto. Era, claramente, uma provocação, dado que João Paulo II decidira ir ao cemitério à campa de um médico francês, seu amigo, que se opunha diretamente ao aborto. Em Madrid, por exemplo, meses antes e durante a Jornada Mundial da Juventude, em 2011, alguns jovens decidiram ocupar as Portas do Sol e durante a jornada decidiram fazer uma manifestação contra o evento, passando no meio de todos nós.

Um outro acontecimento de 2023, em Portugal, foi a publicação do Relatório de Abusos Sexuais de Menores na Igreja. A meu ver – e já dei a minha opinião publicamente – este relatório enferma de muitíssimos problemas científicos: como se podem validar entrevistas online, sem ter o conhecimento da pessoa em causa; como se pode chegar a um número destes a partir de suposições. Enfim, se no princípio fiquei entusiasmado com este Relatório, logo no primeiro dia em que ouvi os resultados, fiquei tão mal disposto que me deitei na cama a pensar: como puderam os bispos cair numa cilada destas. Bom.. depois de ter ouvido o que ouvi ao presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sobre o conceito de corrupção, na verdade, já não estranho nada.

No final do ano, o Papa Francisco deixou-nos três presentes para digerirmos durante o Ano de 2024: o sínodo sobre a sinodalidade, o documento, pouco sinodal, da Congregação para a Doutrina da Fé, sobre o Batismo de Transgénicos e o acesso a padrinhos de homossexuais e um outro documento sobre a bênção de casais homossexuais e de casais divorciados e recasados. Estes documentos do final do ano irão dar muito que falar no próximo ano. Por isso, desejo-vos uma boa passagem de ano!