Inverno pode registar temperaturas mais altas do que nunca

Há uma probabilidade de 95 por cento de que este Inverno quebre recordes históricos de temperatura a nível mundial, com regiões nas latitudes médias-baixas da Europa e da Ásia e na maior parte das Américas a prepararem-se para uma estação “excecionalmente quente”.

As ondas de calor são fenómenos cada vez mais recorrentes. À medida que dominaram o globo durante o verão e outono de 2023, surgiram preocupações sobre a possibilidade de um inverno quente sem precedentes pela frente. Agora, os investigadores alertam para o facto de que o globo poderá registar temperaturas recordes neste inverno. De junho a outubro de 2023, as temperaturas globais subiram bem acima da média de 1991-2020 por margens significativas. Agosto e setembro, em particular, ultrapassaram as médias históricas em 0,62 graus Celsius e 0,69 graus Celsius, respetivamente, batendo recordes estabelecidos em 2016.

Esta tendência alarmante, alimentada tanto pelo aquecimento global como pelo reaparecimento do fenómeno El Niño após sete anos, capturou atenção mundial. Para avaliar o impacto potencial destes desenvolvimentos, a Equipa de Previsão Climática a Curto Prazo do Instituto de Física Atmosférica da Academia Chinesa de Ciências, realizou uma extensa investigação. As suas últimas descobertas sugerem um El Niño iminente no Pacífico Oriental, classificado como moderado a forte, que “deverá desencadear padrões climáticos incomuns em todo o Leste Asiático e na América do Norte”, de acordo com um comunicado de imprensa.

O relatório destaca a influência combinada do evento El Niño e da tendência contínua de aquecimento global, traçando uma perspetiva preocupante para o inverno de 2023/24. Há uma probabilidade de 95 por cento de que este Inverno quebre recordes históricos de temperatura a nível mundial, com regiões nas latitudes médias-baixas da Europa e da Ásia e na maior parte das Américas a prepararem-se para uma estação “excecionalmente quente”. Na China, as temperaturas no inverno podem até duplicar as médias habituais, “marcando potencialmente as temperaturas mais altas no inverno desde 1991”.

“Compreender as previsões climáticas envolve considerar não apenas a variabilidade interna, mas também fatores externos. Pesquisas recentes apontam para o impacto de forças externas, como os incêndios florestais australianos de 2019, que desempenharam um papel no desencadeamento de Las Niñas que duraram vários anos. Estes incêndios florestais criaram nuvens baixas sobre o Oceano Antártico, reduzindo as temperaturas da superfície do mar e influenciando o sistema climático”, sublinha o site StudyFinds, especializado na análise de estudos que são divulgados publicamente. 

Além disso, os dados históricos sobre erupções vulcânicas no Hemisfério Sul, estudados pela Equipa de Investigação Vulcânica da Universidade Sun Yat-sen, revelam uma correlação entre erupções e subsequentes ocorrências de La Niña ao longo de três anos. Tal sublinha o potencial efeito de arrefecimento dos aerossóis vulcânicos no Oceano Antártico, semelhante ao arrefecimento causado pela formação de nuvens induzida por incêndios florestais. “À medida que o mundo se prepara para um calor potencialmente recorde neste Inverno, estas descobertas sublinham a complexa interacção de factores que moldam o nosso clima e a necessidade de investigação contínua para melhor compreender e antecipar estes padrões”, escreveu o StudyFinds sobre o estudo publicado na revista Advances in Atmospheric Sciences.

No mesmo site, em outubro do ano passado, era explicitado que o El Niño e La Niña podem tornar-se problemas cada vez mais comuns. “O vasto Oceano Pacífico, que cobre mais de 32% da superfície da Terra, mais do que toda a massa terrestre combinada, tem um efeito profundo nos padrões climáticos globais. Mudanças periódicas na temperatura da água do oceano e nos padrões de vento, conhecidas como El Niño-Oscilação Sul, desempenham um papel crucial na meteorologia global. Embora os cientistas estejam certos de que as atividades humanas influenciam esta oscilação, o impacto exato permanece sob investigação”, foi escrito, sendo que um estudo recente da Universidade da Califórnia-Santa Bárbara revelou mudanças inesperadas na “Circulação Pacific Walker” – o componente atmosférico deste sistema – ao longo da era industrial. A pesquisa também identifica as erupções vulcânicas como um perturbador temporário desta circulação, desencadeando condições de El Niño.

De acordo com um comunicado veiculado pela instituição de Ensino Superior e o site StudyFinds, “esta circulação surge devido à rotação da Terra, fazendo com que a água quente se acumule no lado ocidental da bacia oceânica, particularmente no Pacífico. Isto resulta num aumento da humidade na Ásia e em ventos de baixa altitude que sopram para oeste através do mar. A Circulação de Walker, um ciclo atmosférico induzido por estas condições, tem efeitos de longo alcance nos padrões climáticos em todo o Pacífico tropical e além”.