No que depender de Pedro Nuno Santos, o Congresso deste fim de semana vai decorrer sem incidentes e com o partido a fazer uma demonstração de unidade. Nos últimos dias o novo secretário-geral do PS desdobrou-se em contactos e convites, com o objetivo de eliminar atritos, ou interpretações que o coloquem contra qualquer fação ou figura relevante do partido.
Como o Nascer do SOL tinha avançado na última edição, Pedro Nuno Santos reuniu-se com José Luís Carneiro e aceitou as condições do homem que foi o seu principal adversário nas eleições diretas. Em resumo: Carneiro vai ter uma representação nos órgãos nacionais do partido proporcional ao resultado que obteve nas eleições internas e, o ainda ministro da Administração Interna (MAI), acordou também com o novo líder o acerto de alguns aspetos programáticos que deverão constar na moção que Pedro Nuno levará a votos na reunião magna dos socialistas.
O documento final não estava ainda concluído à hora de fecho, mas o Nascer do SOL sabe que uma das principais exigências que Carneiro colocou em cima da mesa foi a de que o documento salvaguarde o chamado fundo Medina, um fundo que o ministro das Finanças, apoiante do MAI, defende que deve ser constituído com o resultado do excedente orçamental que permita que o país possa ir reduzindo o montante da dívida, ficando assim melhor preparado para evitar eventuais crises financeiras.
Este é um tema que não é pacífico, até porque Pedro Nuno Santos já tinha dito, ainda antes da marcação de eleições, que parte desse montante deveria ser usado para resolver problemas como o do descongelamento das carreiras dos professores.
Nos últimos dias, André Moz Caldas, do lado de José Luís Carneiro e Alexandra Leitão, do lado de Pedro Nuno Santos, trabalharam em conjunto para encontrar um texto comum para a moção que o novo secretário-geral vai apresentar aos socialistas.
Ao que o Nascer do SOL apurou, as negociações têm decorrido num ambiente tranquilo e as partes estão confiantes de que não será difícil chegar-se a um entendimento.
Pedro Nuno não quis também deixar de fora Daniel Adrião que vai integrar os órgãos do partido a seu convite.
Medina na Comissão Política e Assis no Parlamento
A aposta em mostrar um partido unido e mobilizado para a vitória vê-se também nos convites e lugares já garantidos para o futuro.
Um dos primeiros atos oficiais de Pedro Nuno Santos na liderança foi convidar Carlos César para se manter como Presidente do partido. Um gesto que foi interpretado como um sinal de continuidade com o PSaté aqui liderado por António Costa.
Todos os outros lugares só ficarão definidos durante o Congresso, mas o Nascer do SOL sabe que Fernando Medina se vai manter nos órgãos dirigentes do partido, na comissão política, indicado por José Luís Carneiro. Quanto a outros lugares, as listas estavam ainda a ser fechadas esta quinta feira, mas é já certo que Francisco Assis, atual presidente do Conselho Económico e Social e um dos primeiros apoiantes de Pedro Nuno Santos, vai voltar ao Parlamento (e foi também anunciado como primeiro na lista ao Conselho Nacional), tal como Sérgio Sousa Pinto.
Apoiantes do líder preocupados com sombra de Costa
“Ele não vai sair de cena e isso pode ser mau para o Pedro Nuno”. O desabafo foi ouvido esta semana pelo Nascer do SOL e saiu da boca de um apoiante do novo Secretário-Geral. Cientes de que não é prudente afastar António Costa, estes militantes esperavam que o ainda primeiro-ministro tivesse a partir de agora uma presença mais discreta, para não ofuscar o novo líder.
Nada disto está a acontecer e entre os socialistas já há praticamente a certeza de que Costa vai continuar a andar por aí sem cerimónias e a mostrar obra.
O facto coloca constrangimentos a Pedro Nuno Santos, que deveria estar agora a poder mostrar um virar de página e um novo PS, mas com Costa sempre à espreita e a “exibir-se como figura tutelar” vai ser muito difícil a descolagem.