A marcação de eleições para 10 de março determinou que tenhamos a campanha eleitoral mais longa da democracia portuguesa: 93 dias após a dissolução da Assembleia da República (8 de dezembro) e 118 dias depois da demissão do primeiro-ministro (13 de novembro). Tempo suficiente para se discutir as propostas para o país.
O que devia ser tempo de esclarecimento tem sido de sobrevivência à confusão mediática e cacofónica da política portuguesa.
Os novos partidos à direita, que se juntaram à esquerda populista das ‘causas’, aumentaram a pressão sobre o centro político. Associado a este facto, os casos judiciais fazem da política atual uma ‘política de casos’.
A comunicação social, que deve ter um papel essencial na informação aos cidadãos, vive na pressão de conseguir audiências e ‘buzz’. Consequentemente, tem-se focado ora nos casos, ora nas possibilidades de alianças: se o PSD vai fazer um acordo com o Chega (sucessivamente desmentida pelo líder do partido) ou se o PS promove uma nova ‘geringonça’ – apenas isso parece interessar.
Os casos judiciais pertencem às instituições criadas para o efeito e não ao espaço mediático – salvaguardando o necessário interesse público. Não obstante, tem sido demasiado irresistível ganhar protagonismo e poder fático com os mesmos, esquecendo que o poder dos tribunais (e demais instituições judiciais) decorre do facto de estes não terem poder.
Corrigir estas circunstâncias implica um esforço de responsabilidade de todos: agentes políticos, comunicação social e demais instituições, mas sobretudo aos primeiros. Pedir aos partidos políticos populistas para não serem populistas é como tentar parar o vento com as mãos, é da sua natureza. São os outros partidos que têm que estar à altura das circunstâncias.
O que pensam PS e PSD das reformas estruturais? Qual a visão de cada partido para uma reforma da Justiça? Qual a política de ordenamento do território, há visão para o mesmo? Regionalização, sim ou não e qual o modelo? Financiamento da descentralização em curso: como superar o défice de financiamento nos municípios, que recebem ‘tarefas’ sem o correspondente envelope financeiro? Quais as prioridades nas eternamente adiadas obras públicas fundamentais? Como desburocratizar e ‘desestatizar’ a atividade económica, reduzindo o peso do Estado e acelerando licenciamentos – para maior crescimento económico? Qual a política fiscal? Como superar as dificuldades dos portugueses no acesso à habitação e à saúde? Haverá possibilidade de termos um sistema educativo que respeite a igualdade de oportunidades, de modo a quebrar o ciclo de pobreza?
Estas são algumas das questões que precisam de respostas e de propostas, devendo ser debatidas, por forma haver esclarecimento para uma escolha consciente.
A questão não reside na empatia dos candidatos dos principais partidos a primeiro-ministro, isso conta qualquer coisa, mas não é a questão substancial. Dizer que Luís Montenegro aparenta ser pouco simpático, ou que Pedro Nuno Santos é impetuoso, tem interesse para as revistas de vida alheia ou programas de entretenimento, mas não respeita à nossa vida coletiva.
Interessa que os nossos filhos, caso venham a emigrar, o façam por opção de vida, não por não terem lugar em Portugal. O contexto é mau o suficiente para que nos fiquemos nas futilidades e não o melhoremos com ideias para o país.