Estudo. Comer tarde pode alterar queima de calorias e armazenamento gordura

A pesquisa foi publicada no Cell Metabolism e uma primeira versão da mesma foi publicada em outubro de 2022.

Um estudo sugere que comer mais tarde durante o dia pode impactar diretamente a regulação biológica do peso de três maneiras principais: através do número de calorias que queimamos; os nossos níveis de fome; e a maneira como o nosso corpo armazena gordura. Estudos anteriores já tinham identificado uma ligação entre o horário das refeições e o ganho de peso, mas aqui os investigadores queriam analisar essa ligação mais de perto, bem como descobrir as razões biológicas por detrás dela. “Queríamos testar os mecanismos que podem explicar por que comer tarde aumenta o risco de obesidade”, disse o neurocientista Frank Scheer, do Brigham and Women’s Hospital em Boston, em 2022, quando o estudo foi publicado. “Pesquisas anteriores nossas e de outros investigadores mostraram que comer tarde está associado ao aumento do risco de obesidade, aumento da gordura corporal e comprometimento do sucesso na perda de peso. Queríamos entender o porquê”.

A pesquisa foi rigorosamente controlada e envolveu 16 participantes com índice de massa corporal (IMC) na faixa de excesso de peso ou obesidade. Cada voluntário passou por duas experiências diferentes com duração de seis dias, com sono e alimentação rigorosamente controlados de antemão, e várias semanas entre cada teste. Numa das experiências, os participantes seguiram um cronograma rigoroso de três refeições por dia nos horários normais – pequeno-almoço às 9h, almoço às 13h e jantar por volta das 18h. No outro, as três refeições foram adiadas (a primeira por volta das 13h e a última por volta das 21h). 

Através de amostras de sangue, perguntas de pesquisas e outras medições, a equipa conseguiu fazer uma série de observações. Ao comer mais tarde, os níveis da hormona leptina – que nos diz quando estamos saciados – foram mais baixos ao longo de 24 horas, indicando que os participantes podem ter sentido mais fome. Além do mais, as calorias eram queimadas mais lentamente. Os testes também mostraram que a expressão genética do tecido adiposo – que afeta a forma como o corpo armazena gordura – aumentou o processo de adipogénese que constrói tecidos adiposos e diminuiu o processo de lipólise que decompõe a gordura. “Isolamos esses efeitos controlando variáveis ​​confusas como ingestão calórica, atividade física, sono e exposição à luz, mas na vida real, muitos desses fatores podem ser influenciados pelo horário das refeições”, disse Scheer.

“É claro que a obesidade pode levar a outros problemas de saúde, incluindo diabetes e cancro, e por isso encontrar formas de impedir o seu desenvolvimento faria uma enorme diferença para a saúde da população global”, sublinha o site Science Alert, explicando que aquilo que este estudo mostra é que comer no início do dia pode ter impacto em três fatores principais da forma como o nosso corpo equilibra a energia e o subsequente risco de obesidade – e é uma mudança que talvez seja mais simples para algumas pessoas gerir do que seguir uma dieta ou um regime de exercício. No futuro, a equipa pretende ver pesquisas envolvendo mais mulheres (apenas 5 dos 16 voluntários eram mulheres neste caso), bem como pesquisas que analisem como as mudanças na hora de dormir em relação à hora de comer também podem influenciar estes processos. “Em estudos de maior escala, onde o controlo rigoroso de todos estes fatores não é viável, devemos pelo menos considerar como outras variáveis ​​comportamentais e ambientais alteram estas vias biológicas subjacentes ao risco de obesidade”, disse Scheer.

Um relatório internacional da Federação Mundial de Obesidade (WOF) estima que cerca de 39% dos adultos portugueses serão obesos em 2035. Apesar dessa preocupante previsão, Portugal é classificado como o oitavo país mais bem preparado, entre 183 avaliados, para combater a obesidade, segundo o mesmo relatório. O Atlas da Obesidade Mundial projeta um aumento anual de 2,8% na prevalência da obesidade entre 2020 e 2035 para a população adulta, e 3,5% para crianças portuguesas. A WOF alerta que os gastos com a saúde devido à obesidade atingirão 2,1% do PIB nacional em 2030 e 2,2% em 2035, considerando esse impacto como “muito elevado”.

Apesar das projeções negativas, a WOF elogia Portugal por ser oitavo no ranking de países preparados para combater a obesidade, classificando suas medidas de promoção da saúde como “boas”. A Direção-Geral da Saúde (DGS) atribui essa classificação ao Programa Nacional de Promoção da Alimentação Saudável (PNPAS), destacando medidas como a regulamentação do marketing de alimentos não saudáveis e a redução do teor de sal nos alimentos. No Dia Nacional de Luta Contra a Obesidade, a DGS enfatizou que o bom desempenho de Portugal se deve às ações na promoção da alimentação saudável e da atividade física, incluindo iniciativas para legislar sobre o marketing de alimentos pouco saudáveis e reduzir o teor de sal no pão. Além disso, destaca a capacidade dos cuidados de saúde primários em identificar precocemente e tratar patologias associadas à obesidade, como diabetes e doenças cardiovasculares.

O novo PNPAS, apresentado em março, tem como objetivo reduzir o consumo de alimentos não saudáveis em pelo menos 15% até 2030, reconhecendo a magnitude do problema e buscando respostas imediatas de saúde.

A pesquisa foi publicada no Cell Metabolism e uma primeira versão da mesma tinha sido divugada em outubro de 2022.Estudo mostra que comer tarde pode mudar a forma como queima calorias e armazena gordura