Após silêncio, Pedro Costa diz que é “uma gota no oceano” e pede desculpa por não ter estado na AR

O agente de 32 anos pede aos colegas que tenham cuidado com os grupos de WhatsApp e Telegram, pois civis, tanto aqueles que gostam como aqueles que não gostam das forças de segurança, estão “infiltrados”.

A revolta de Pedro Costa tem vindo a mobilizar centenas de polícias e militares em todo o país. Fardados ou vestidos à civil, os profissionais das forças de segurança fazem-se ouvir ou simplesmente marcam presença em protestos silenciosos. No sexto dia de protesto, é o polícia mais famoso do momento. Conhecido por ser “o polícia bonzinho” na 67.ª Esquadra (na Venda Nova, na Amadora) e no Espaço OKAZO (em Alfornelos, também na Amadora) ganhou fama depois de um vídeo que captou ter viralizado no WhatsApp e no Telegram. Depressa espalhou-se para as restantes redes sociais e para os órgãos de informação. Aqueles seis minutos em que o jovem se retrata como uma “criança de mãos e pés atados no mundo da polícia” e como “escravo do trabalho e mal remunerado” foram suficientes para mobilizar os colegas de profissão. “Perdi o medo há muito. A injustiça dos nossos vencimentos fez-me ganhar coragem”, sublinhou.

Agora, após vários dias de silêncio, o jovem quebrou o silêncio. “Antes de agirem, o que escrevem, o que dizem ou que fazem, pensem nas consequências das vossas ações”, começou por dizer, pedindo “desculpa” por se ter ausentado da Assembleia da República, porque teve de tratar de “um assunto pessoal inadiável”. “Está tudo bem. E volto a dizer que está tudo bem. Não precisam de se preocupar”, frisou o agente de 32 anos, na PSP, sendo que regressou, na manhã desta sexta-feira, à “luta”.

“Quero dizer que sou só uma gota no oceano. Não é por eu não estar presente, como no dia de hoje, por exemplo, que algo vai acabar. (…) Isto não é um sprint, é uma maratona. Vão haver alturas em que vamos ter dúvidas ou vamos querer baixar os braços e desistir. Vai ser nestas alturas que vamos mostrar quem somos”, clarificou, agradecendo a todos os colegas que o têm acompanhado neste protesto inorgânico que nasceu através do WhatsApp e do Telegram. No entanto, pediu aos “camaradas” que tenham atenção pois, nestes grupos, estão presentes “polícias, cidadãos e cidadãos que não gostam de polícias”.

“Não existe vontade por parte dos nossos políticos em resolver este grande problema de todos nós. Se não fizermos nada, irá continuar tudo na mesma”, disse, explicando que existem “duas opções”: “continuar com as mesmas estratégias (comunicados e frases bonitas)” ou “fazendo ver que os vencimentos auferidos são indignos e injustos”. O polícia que frequentou o 14.º curso de formação de agentes, e que sempre esteve no Comando de Lisboa, não quer “substituir o trabalho dos sindicatos”, mas há quem pense que o faz.

“Falei com alguns colegas meus e disseram que antes do Natal fizeram reuniões, criaram uma plataforma, etc. Mas depois marcam uma manifestação para 31 de janeiro. O que levou o Pedro Costa a dizer ‘31 de janeiro, o quê? Temos de começar a lutar já!’. Quero dizer, acho que cometeram ali uma falha. Deviam ter marcado algumas ações para agora. Nesta primeira semana de janeiro. E na segunda e na terceira. É do género ‘Vamos marcar para 31, assim o pessoal acomoda-se’. Foi isto que o pessoal interpretou. E é mau porque aquilo que está a acontecer é que o pessoal desacreditou-se dos sindicatos. Como dos políticos, de tudo”, declara um polícia ao Nascer do SOL.

Apesar de a luta de Pedro Costa estar a dar frutos, a plataforma que foi criada pelas forças de segurança, para fins de protesto e negociar com o Governo, não incluirá as associações das Forças Armadas.