No âmbito dos protestos que surgiram, na sequência da revolta de Pedro Costa, também seis sindicatos da PSP se reuniram com a direção nacional: Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP-PSP), Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP), Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol), Sindicato Independente da Polícia (SIAP), Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia (SNOP) e Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da PSP (SNCC). Pedro Carmo e Luís Pedroso, da Organização Sindical dos Polícias e do Sindicato Unificado da Polícia de Segurança Pública, respetivamente, não estiveram presentes nesta reunião, mas tecem duras críticas ao Executivo.
“Houve um colega que contou aquilo que se passa. Foi a gota de água. Isto tem vindo a arrastar-se, a degradação do ambiente em que trabalhamos e o vencimento tem sido desacompanhado de toda a forma e mais alguma. Perdemos 30% do poder de compra em relação ao SMN. Trabalhamos por turnos e recebemos um suplemento de turno que não é equivalente àquilo que qualquer outra pessoa recebe”, explica Pedro Carmo. “Estamos a falar de um vencimento-base baixo. Estamos a falar de um subsídio de refeição baixíssimo também. Agarraram no suplemento de risco. A única coisa em que tivemos benefício foi o subsídio de fardamento, mas as letras dos polos com meia dúzia de lavagens começam a ficar velhas, por exemplo. As botas são 100 e tal, 200 euros, tal como os blusões. Se queremos andar com brio, temos de os comprar”, sublinha.
“Tudo o resto foi caindo para trás e chegámos a este buraco que nem fundo tem. Estamos sempre a ser oprimidos pela hierarquia. As condições de trabalho, muitas das vezes, são miseráveis. Na minha esquadra não há pinturas novas, as janelas nem fecham bem. É o deixa andar. Até com o servidor temos problemas e se enviamos uma ou duas imagens é um problema. Por acaso tenho gás-pimenta dentro do prazo, mas há quem o tenha caducado. Isto tudo foi um gatilho para que o pessoal viesse para a rua de forma inorgânica. É preciso mudar muitas coisas estruturais. Pelo menos, falo no aumento de 4 índices salariais para ficar um vencimento minimamente capaz”, frisa. “O suplemento dos serviços e forças de segurança paga a disponibilidade e a exclusividade. E paga a isenção de horário. Cada vez há menos pessoal. A bola de neve está a tornar-se em avalanche”.
“O que vale é que temos ética, estamos habituados a trabalhar entre o bom e o mau. E não temos apoio psicológico. É um barco sem rumo e sem remos. Aproveitando o movimento inorgânico que foi criado, todos os sindicatos e as manifestações estão juntos. Não há necessidade de alguém ter protagonismo. É uma união completa. Parece que, desta vez, os polícias estão todos unidos mesmo e não há cores diferentes como na Assembleia da República”, diz, avançando que tem mantido contacto com partidos políticos e, inclusivamente, a OSP/PSP “fez um caderno” para os mesmos. “Os problemas não são de hoje, vão-se agravando. Quem tiver vontade de fazer e quiser saber o que se passa tem de falar com os sindicatos e não aproveitar-se para campanha política. Isso para mim não é nada”.
Luís Pedroso concorda com Pedro Carmo e afirma: “Só há duas forças de segurança em Portugal: a PSP e a GNR. O resto são serviços de segurança. Andam a intoxicar a população a dizer que os polícias querem mais subsídio de risco. Isso não é verdade. Aumentaram-nos 30 e tal euros, é um suplemento fixo das forças de segurança. A vida de um polícia não vale 100 euros. Mas se formos a conjugar as duas coisas, 400 vale mais do que 100”.
“Os polícias estão todos empenhados no mesmo objeto”, diz a direção do SINAPOL ao Nascer do SOL, enquanto a ASPP-PSP confirma que “no seguimento da exclusão da PSP e GNR do famigerado Suplemento de Missão, já se encontra criada a plataforma que congrega os sindicatos representativos da PSP e quatro associações da GNR”. “Todos os sindicatos estão alinhados e isto nunca tinha acontecido. Pela primeira vez na história do sindicalismo da polícia, há um alinhamento e uma convergência de todos os sindicatos. A uma só voz. E vai continuar assim. Há uma indignação profunda e total da PSP. Há uma direção incapaz e não reconhecida e temos uma polícia ao Deus dará. Já em fase de canibalismo”, explica, à sua vez, outra fonte da PSP ao Nascer do SOL.