A ameaça de Teerão perante uma diplomacia de vaivém ineficaz

Blinken viajou para o Médio Oriente e reconheceu a complexidade das negociações. Teerão atribui responsabilidades pelo atento de 3 de janeiro aos EUA e a Israel, com o líder supremo a prometer uma ‘dura resposta’.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esteve de volta ao Médio Oriente num período em que é mais fácil prever uma escalada, que pode ser até global, do que uma resolução pacífica. As visitas vêm na sequência dos ataques terroristas que vitimaram pelo menos 84 pessoas no sul do Irão. O Estado Islâmico reivindicou o atentado, mas Teerão culpou Israel e os Estados Unidos. A escalada para o Líbano e para a Síria já é uma realidade, e os esforços de Blinken não têm dado frutos, também porque Netanyahu se mantém intransigente – por vezes contra as diretrizes de Washington – e continua os bombardeamentos em Gaza.

O problema do Irão

O atentado terrorista aconteceu no passado dia 3, durante uma cerimónia que assinalava o quarto ano da morte do general iraniano Qassem Suleimani, vitimado num ataque aéreo, através de drones, levado a cabo pelos Estados Unidos em Bagdade. Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estado americano, comunicou que «os Estados Unidos não estão envolvidos de maneira alguma» e acrescentou que não têm motivos para «acreditar que Israel estivesse envolvido» nas explosões. Ainda assim, o chefe de gabinete de assuntos políticos do Presidente iraniano, Mohammad Jamshidi, acusou os Estados Unidos e Israel num post publicado na rede social X: «Washington diz que os EUA e Israel não participaram no ataque terrorista em Kerman, no Irão. A sério? (…) Não se enganem. A responsabilidade deste crime é dos regimes americano e sionista e o terrorismo é apenas uma ferramenta». Já o líder supremo, Ayatollah Ali Khamenei, prometeu uma «dura resposta», fazendo aumentar as tensões e a incerteza na região.

Na eventualidade de um envolvimento direto do Irão no conflito, a guerra no Médio Oriente escalaria ao ponto de ser o fio condutor de um conflito global. A diplomacia americana, ainda que esforçada, não tem conseguido ser eficaz.

Blinken e o vaivém infrutífero

À semelhança da diplomacia das administrações de Richard Nixon e Gerald Ford na sequência da guerra do Yom Kippur, em 1973, encabeçada por Henry Kissinger, Joe Biden tem adotado uma estratégia parecida, ainda que num contexto geopolítico distinto, com interlocutores e resultados diferentes. Nos anos 70, esta abordagem consolidou a paz entre Cairo e Telavive, através do Acordo do Sinai e estabeleceu acordos entre Israel e a Síria nos Montes Golã, nos dois anos que sucederam o conflito de 1973. O conflito atual é ainda recente, mas não há previsões de um futuro pacífico, a curto prazo, na região.

Antony Blinken viajou para o Médio Oriente, passando pela Turquia, Jordânia, Catar, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e por fim Israel. O Secretário de Estado reconheceu a complexidade das negociações, mas mantém a esperança no poder da diplomacia: «Não são conversações necessariamente fáceis. Mas é fundamental que continuemos com esta diplomacia, tanto para o futuro de Gaza como para os israelitas e palestinianos». A resolução do conflito pode ser considerada vital também para os interesses de Washington, que tem a oportunidade de se restabelecer como ator principal na região, depois de Pequim ter mediado um processo de paz significativo entre os eternos rivais árabes, a Arábia Saudita e o Irão.

Contudo, Netanyahu parece não estar no mesmo barco que os americanos e tem como objetivo principal a eliminação do Hamas a qualquer custo, mesmo depois de os EUA se mostrarem preocupados – e mais do que uma vez – pelas mortes civis e pela crise humanitária na Faixa de Gaza.