Um grupo de pessoas convive animadamente na margem de um rio. Uma imagem idílica de harmonia, não fosse um elemento dissonante: o estranho corte de cabelo de um dos protagonistas. Uma espécie de tonsura – mas este homem não é monge nenhum e muito menos um santo.
Assim começa Zona de Interesse, que acaba de se estrear nas salas portuguesas. O filme de Jonathan Glazer mostra o Holocausto sob uma perspetiva completamente nova: a vida doméstica de Rudolf Höss, o comandante de Auschwitz, que residia numa agradável casa com jardim, paredes-meias com o campo de concentração. Enquanto os jardineiros cuidam das flores, do lado de lá há uma gigantesca máquina de morte a funcionar 24 horas por dia.
Funcionário eficiente e cumpridor, Höss vive sujeito a uma pressão brutal ditada pelas exigências do seu cargo, ao mesmo tempo que lida carinhosamente com os cinco filhos e tenta gerir os humores da mulher, Hedwig. Até que um telefonema a informar que vai ser transferido piora as coisas: a notícia deixa Hedwig, que adora viver ali rodeada de conforto, à beira do desespero.
«O que eu quis foi filmar o contraste que existe entre alguém que serve um café na sua cozinha e alguém a ser assassinado do outro lado do muro», comentou Glazer. O resultado é certamente original e profundamente perturbador.