Esperar não é remédio

O tradicional modo ronceiro de atuar e a cultura instalada está a ter custos imensos, com impacto nas atuais e nas futuras gerações.

A entrevista do ministro da Economia e do Mar no último fim de semana deve representar um aviso, a todos, sobre a dificuldade de mudar um Estado e um país que parece estar em contraciclo com o mundo.

Se fizermos um exercício de memória, recordamos que, aquando da apresentação do PRR, a preocupação geral não residia tanto na execução das verbas à disposição para investimento, mas com a possibilidade de estas serem desviadas. Mais do que nos preocuparmos em fazer, estávamos preocupados em evitar que fossem ‘roubadas’. E isto diz muito sobre o estado geral da Nação.

Não que a preocupação com a boa utilização dos recursos não deva existir, claro que deve, mas é exasperante não haver o mesmo desassossego nas almas lusas com fazer funcionar a economia.

Escrevi, quando Costa Silva estava a elaborar o PRR, que este era «de Marte, mas que o Governo era de Vénus». Explico agora que o atual ministro estava preocupado, generosamente, em colocar o seu saber e o seu talento ao serviço da comunidade – talvez por este ser capaz de ver (e querer), o que tantos outros não são capazes de ver (ou ambicionar). O problema não era este Governo, exclusivamente, mas quase todos, e sobretudo a asfixiante cultura do ‘Não!’.

Imagine que é um investidor estrangeiro. Seduzido pelo país, investe num projeto imobiliário, em terrenos que têm potencial construtivo para o efeito. Os terrenos foram adquiridos ainda antes deste século, têm duas fábricas desativadas, e darão lugar a habitação, escritórios e hotelaria. Um investimento de mais de 350 milhões de euros que criará mais de 2500 postos de trabalho. Depois de décadas da ‘via sacra das aprovações’, mais de 20 pareceres de entidades distintas, uma providência cautelar de uma associação de moradores trava o processo. Se fosse investidor trazia para cá o seu dinheiro? Por esta altura já está a pensar que isto não é possível… é, sim. É real!

Noutro projeto, num investimento de 400 milhões de euros, tudo fica em suspenso porque uma entidade da administração central resolve, numa alteração do PDM, classificar uma antiga pedreira como Rede Ecológica Nacional. Essa mesma entidade demora dois anos a reconhecer o erro e adia o País. Não existe? Existe, sim!

A onda ‘anti-Estado’ que surge nos partidos com maior preocupação com a situação da economia nacional tem a ver com isto, com a cultura do ‘Não’, com a facilidade com que se diz não e com a dificuldade em encontrar soluções.

O tradicional modo ronceiro de atuar e a cultura instalada, que ninguém parece ter verdadeiro engenho para combater, está a ter custos imensos, com impacto nas atuais gerações – sobre as futuras nada a dizer, uma vez que as atuais estão a levá-las para fora do ‘retângulo’.

Essa é também uma diferença entre os que ficam e os que estão e emigrar. A falta de esperança e a falta de caminho leva as pessoas a desistir. Estes jovens que querem fazer, que estão dispostos a sacrificar-se por cumprirem os seus objetivos de vida não aguentam mais a desesperança. O ‘Velho do Restelo’ é o que fica!

Há alguns dias lia que as sucessivas crises económicas tiraram esperança. Não foram as crises que a tiraram, foi a forma como estas foram combatidas, sem perspetiva de futuro, que acabaram com a mesma. Há um país que quer avançar e outro que demora a decidir. O último tem prevalecido.

Ninguém quer conjugar para sempre o verbo esperar.