Competência que não Chega

Choca-me ver Carlos Moedas, de quem, no passado, esperaríamos que falasse com seriedade, contaminado pelo modelo de comunicação sem substância.

A forma como são eleitas as direções dos partidos políticos facilita, em minha opinião, a proliferação da incompetência que os invadiu ao longo do tempo. A sobreposição do controlo pelos sindicatos de voto aos critérios de meritocracia tem sido a chave do sucesso dos incompetentes. Os partidos do arco da governação foram gradualmente desfocando da missão principal, tornando-se albergue para muita incompetência e preguiça que invadiu a sociedade portuguesa.

Essa incompetência está, em minha opinião, substancialmente exposta na forma como o PSD (partido originalmente muito rigoroso nesse domínio) se tem apresentado nos últimos anos. Nem a atual direção nem Carlos Moedas, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, convencem do contrário. Por muito que o presidente da câmara de Lisboa afirme que Lisboa mudou ou que fale na fábrica de unicórnios, é cada vez mais evidente que não há nem haverá fábrica de unicórnios em Lisboa, nem Lisboa mudou. É hoje particularmente evidente que está pior gerida do que estava nos tempos, pouco saudosos, de Fernando Medina. Choca-me ver Carlos Moedas, de quem, no passado, esperaríamos que falasse com seriedade, contaminado pelo modelo de comunicação sem substância. O eleitor percebe e rapidamente associa à cultura incompetente ‘do poder pelo poder’ que contaminou a generalidade dos partidos.

Esta nota introdutória serve para enquadrar e ilustrar as principais razões do que prevejo vir a ser o insucesso do PSD nos próximos atos eleitorais. O PSD e a AD colocaram-se na posição onde o eleitor não confia nas equipas que apresenta para governar e transformar Portugal num país moderno, civilizado, justo e inovador. Não confia porque não lhes reconhece a capacidade para o fazer. Fazer bem feito.

É neste cenário que o protesto e a indignação tomam conta do espírito de um número crescente de portugueses. A ausência de soluções e equipas credíveis constituem um potente fertilizante para as vozes de protesto que, no caso português, são exemplarmente protagonizadas por um líder carismático que, embora sem soluções de resolução, personifica e teatraliza muitíssimo bem o protesto e a indignação.

Como dizemos em Portugal, ‘para grandes males, grandes remédios’. Faço votos para que as próximas eleições tragam um choque anafilático de alta intensidade ao setor social democrata para que possamos de forma séria tratar de reformular o PSD.

Não é certamente com as equipas que se têm encarregue de o menorizar, e que o colocaram num nível de credibilidade baixíssimo – essa é a razão porque não ganha eleições. E porque o Chega, não chega, a alternativa em 10 de março, à previsível resistência da incompetência dentro do PSD em dar lugar à competência, passa pela criação de um novo partido político com regras de funcionamento que assegurem um maior grau de imunidade aos incompetentes e promova de forma vincada o civismo meritocrático e o fazer bem feito. Não há, conceptualmente, e em democracia, alternativa para resolver a estagnação e o atraso em que o nosso fantástico país se encontra.