Adoro o IKEA…

O IKEA teve a coragem de brincar com quem anda a brincar connosco…

Parece que o IKEA teve a coragem de ousar meter um malfadado anúncio publicitário de uma estante de livros em todo o país com a seguinte mensagem: ‘Boa para guardar livros, ou 75.800€’. Acho incrível que haja quem ouse brincar com uma situação política e dizer o que todos pensamos.

É claro que ninguém vai comprar aquela estante depois daquela publicidade: primeiro, porque a única pessoa em Portugal que tinha 75.800€ para guardar numa estante de livros já os não tem, porque foram apreendidos; depois, porque com a quantidade de impostos que temos de pagar, resta-nos muito pouco para comprar livros. Isto significa que se comprarmos aquela estante, um português comum terá muito pouco para lá colocar…

É evidente que vivemos num mundo em que quem detém o poder acha que somos parvos e trata-nos como parvos e o IKEA teve a coragem de brincar com quem anda a brincar connosco. Seguramente, o Presidente cessante da Assembleia da República acha que somos parvos ao ter convidado o Lula da Silva para discursar em Portugal no Dia da Liberdade. Mas também não é de admirar uma vez que o Papa, numa entrevista, disse que Lula foi condenado injustamente e, pasme-se, Dilma Rousseff é uma mulher de mãos limpas.

Outras coisas estranhas acontecem no nosso país: primeiro, o Presidente da República – o tal Presidente dos afetos – passou a tratar o próprio filho por Dr. Nuno Rebelo de Sousa; depois, o ex-secretário de Estado da Saúde, diz que não se lembra se recebeu o tal Dr. Nuno Rebelo de Sousa que, por acaso, também é o filho do Presidente, mas, mais tarde, lembra-se de ter recebido o tal senhor, mas que apenas o ouviu; o primeiro-ministro diz que se demite por causa de um parágrafo de um comunicado da Procuradoria-Geral da República, mas coloca em segundo plano os 75.800€ do seu Chefe de Gabinete no meio dos livros e todas as trapalhadas que fizeram cair vários ministros e secretários de Estado. No fundo, acham que somos parvos e tratam-nos como parvos.

Não sem dor, digo que a nível eclesial as coisas também não vão pelo melhor: primeiro o Papa faz-nos pensar que vai implementar na Igreja um sistema de sinodalidade – isto é, uma espécie de representatividade equitativa nas decisões, como se fosse um Parlamento democrático no qual todos, todas, todes têm a sua voz – no entanto assina o comunicado, depois do Sínodo dos Bispos, a aprovar o batismo dos transexuais e todos, todas, todes a serem admitidos como padrinhos. A par disto, ainda, a bênção de casais divorciados recasados e de casais de pessoas do mesmo sexo.

Então, vejo o presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, dizer que o que escreveu não foi o que escreveu, isto é, que as bênçãos dos casais divorciados recasados e de casais de pessoas do mesmo sexo, não se confunde com o sacramento, mas porque – como referiu o Papa numa entrevista – Deus abençoa todos.

Mas será possível que dentro da Igreja também nos querem fazer de parvos? Se o centro do documento é a bênção individual, que não se confunde com o sacramento, qual a necessidade de fazer uma parágrafo tão belo sobre o matrimónio, reiterando que a doutrina sobre o casamento não muda? Então mas as bênçãos não eram individuais? Porque se fala de bênção, casais divorciados recasados e casais do mesmo sexo e de matrimónio tudo no mesmo documento?

Eu, sinceramente, desde há 23 anos que dou a bênção a toda a gente e nunca precisei que houvesse um documento da Igreja. Na Mouraria dou a bênção aos traficantes e aos drogados, dou a bênção às prostitutas e aos travestis, dou a bênção a quem me pede, mas realmente escreverem um documento destes e dizerem que não se muda a doutrina sobre o sacramento é fazerem-nos passar por parvos!