Se há alguma coisa que diz tudo sobre os partidos do sistema essa é a reação às propostas económicas do Chega anunciadas por André Ventura na convenção do seu partido em Viana do Castelo.
Essas reações comprovam várias coisas, a saber:
1. que esses partidos encaram, na prática, ausência de crescimento económico dos últimos 20 anos, como uma fatalidade. il e psd denunciam essa falta de crescimento, mas, na prática, parecem considerá-la inevitável.
2. Que esses partidos consideram que os imensos desperdícios com uma máquina do Estado gigantesca, pletórica e cheia de redundâncias como uma fatalidade que há que aceitar e ir gerindo.
3. Que a corrupção é uma fatalidade a que há que resignar-se.
4. Quando na oposição, esses partidos acusam o partido de Governo de não resolver os problemas mas de se limitar a atirar com dinheiro para cima desses problemas.
5. Jornalistas, comentadores, opinion makers, partidos, passam a vida a clamar por reformas estruturais. Reformas estruturais que ninguém, chegado ao governo, tem a coragem de fazer.
É óbvio que reformas estruturais nas políticas públicas, Saúde, Educação, Segurança Social, com particular relevância para a política fiscal, são inadiáveis. Necessitam de coragem política? Claro que sim. Mas para quê governar se governar for, apenas, gerir o pântano com apenas diferenças de detalhe?
Como é óbvia a absoluta necessidade de uma total revolução na imensa e ineficiente máquina do Estado. Qualquer governo que pretenda, de facto, retirar Portugal do atoleiro em que se encontra imobilizado terá de proceder a uma exaustiva auditoria de gestão dessa estrutura que possa detetar as inúmeras redundâncias, ineficiências, fragilidades e falhas que custam uma fortuna e por duas vias: peso no orçamento e custos de contexto para os cidadãos e para a Economia no seu todo.
Como é óbvio, finalmente, que uma política de frontal ataque à corrupção é, também ela essencial não só pelo dinheiro que poupa aos contribuintes, como pelos custos de contexto por ela gerada. Óbvio que acabar com a corrupção é impossível, mas reduzi-la para metade dos 18 biliões por ano que ela nos custa parece perfeitamente exequível com legislação adequada e fiscalização atenta.
Sem tudo isto resolvido, qualquer tentativa de pôr a Economia a crescer não passará de uma doce ilusão.
As reformas acima elencadas, se levadas a cabo, terão dois efeitos seguros: pôr a Economia a crescer, aumentando a receita e gerando larga poupança, logo diminuindo a atual despesa. Este diferencial entre diminuição da despesa e aumento da receita permitirá libertar as verbas necessárias para levar a cabo as reformas propostas pelo Chega.
A reação do PSD e da IL, apenas nos diz uma coisa: que esses partidos consideram que nada do que tem de ser feito será feito, porque se limitarão a gerir o desastre.
A diferença do Chega para os demais partidos reside nisto, e apenas nisto: o Chega tem, mais do que um somatório de projetos avulso de pequenas mudanças, uma visão para o país. E a coragem política para sustentar essa visão e permitir que ela possa aplicar-se à prática da governação.
É essa visão que lhe permite ter propostas audaciosas. Quem apenas pretende gerir o declínio e colocar feudatários no aparelho de Estado, não entenderá, ou fingirá não entender. Mas isso é já outra questão.