Queridas Filhas,
Um dos meus mentores, o recentemente falecido Charlie Munger, chamava a atenção de que por vezes problemas complexos são mais facilmente resolvidos, quando se inverte a pergunta. Em Portugal, os partidos desenvolvem e propõem ideias para ganhar as próximas eleições. Se a democracia funcionar, os portugueses elegerão o programa e a equipa que melhor poderá conduzir Portugal e os portugueses a prosperar neste século. Um problema complexo. Para o resolver, proponho-me resolver o problema oposto: como assegurar que Portugal murchará no século XXI. Espero que o próximo governo aprenda e faça o contrário.
Fazer tudo para que os portugueses não tenham filhos.
Estamos no bom caminho. Projeções demográficas estimam uma população portuguesa de 6.9 mn em 2100. Aumente-se o custo das casas para famílias nos centros das cidades. Dessa forma os pais dificilmente conseguirão manter o emprego e apoiar os filhos com viagens longas de casa ao emprego e escola. Aumente-se também os custos das creches e do acesso aos estudos. Talvez consigamos ser ainda menos no final do século.
Desincentivar o brio no trabalho.
Com o salário mínimo quase igual ao salário médio, eu só irei trabalhar quando me apetecer. Se me despedirem, arranjo outro emprego com o salário mínimo. Segundo estudos, o salário mínimo português foi de 55% do médio em 2015 para 66% no ano passado. A este ritmo, em breve serão iguais. Pagando o mesmo, eu vou buscar um dia de salário quando e onde me for mais conveniente. E contarei anedotas sobre os palermas que se esforçam para cumprir o que o ‘patrão’ lhes pediu no início do dia. A cereja no cimo do bolo, será taxar a mais de 52% qualquer euro que seja pago adicionalmente. Para que esses tolos que ainda não tivessem percebido que não era para se esforçar muito, percebam para quem trabalham.
Impedir a criação de empregos.
Um salário mínimo alto vai ajudar aqui. Mas vamos pôr custos adicionais: segurança social, impedir despedimentos, facilitar sindicatos e incentivar greves. Regulação detalhada e pesada também ajuda, mas tem a desvantagem de criar empregos a reguladores e inspetores públicos. Mas quando trabalhei numa Câmara Municipal disseram-me que para reparar um buraco precisamos de 4 pessoas: uma para reparar e três para verem. Assim que regulação vai-nos ajudar a empobrecer Portugal.
Combater o empreendedorismo e meritocracia.
Portugal costuma ser prolifico em criar ‘chicos espertos’. Para nos livrarmos deles, convém que os principais investimentos sejam ou feitos pelo estado (aeroportos, estradas…) ou por empresas públicas ou quase públicas. Assim, sabemos que os critérios de atribuição de capital e empregos serão opacos, manipuláveis e fáceis de desviar na direção que nos convém. Carreiras públicas, sejam na educação ou saúde seguirão o critério de antiguidade. Mérito é um critério de capitalista selvagem e que não tem lugar em Portugal. A menos que eu tenha de escolher um cirurgião para me operar ao coração…
Atacar a saúde dos portugueses.
Todos sabemos o segredo para atrair pessoas a uma festa: Bar Aberto. E o segredo para não se perder dinheiro nessa festa é ter poucos a servir, servir devagar e esgotar as bebidas a meio da noite começando pelas mais caras… Pois bem, que tal fazer os portugueses confiarem em nós a sua saúde? Quando precisarem, terão longas filas de espera. Quem os sirva, que sirva devagar e pausadamente. E para os tratamentos mais caros… bom esses já não temos este ano. Tem de entrar em fila de espera por alguns anos. Mas se preferir e quiser embarcar pela eutanásia, isso pode ser feito já e fica com o problema resolvido (e conseguimos reduzir a população portuguesa mais rapidamente).
Este plano tem boas garantias de derrubar Portugal até 2100. Esperemos que o próximo governo o estude bem… e faça o contrário.