A emigração portuguesa é equilibrada por sexos e, sem surpresas, composta maioritariamente por ativos jovens: mais de dois terços dos emigrantes que saíram de Portugal ao longo da última década tinham entre 15 e 39 anos». São cerca de 70 por cento.
«Quanto mais recente é a emigração, mais qualificados são os emigrantes portugueses».
«30% dos nascidos em Portugal com idades entre os 15 e os 39 anos, deixaram o país em algum momento e vivem atualmente no exterior». São mais de 850 mil.
«Tem vindo a crescer a percentagem de emigrantes com curso superior, refletindo o aumento da qualificação da população portuguesa em geral».
«Inicialmente, o crescimento da emigração mais qualificada, acompanhou a crescente qualificação da população portuguesa. Porém, na segunda década do século, a emigração qualificada passou a crescer mais do que a qualificação dos portugueses em geral».
«Em proporção da população nacional, a emigração portuguesa é a maior da Europa e a oitava maior do mundo».
Tudo isto são dados do Atlas da Emigração Portuguesas, publicados pelo Observatório da Emigração, conhecidos nos últimos dias e pouco debatidos, comentados ou analisados pelos decisores políticos. São dados que revelam várias coisas.
A primeira é um retrato do país presente e futuro feito pelos jovens. Ou seja, um país que não inspira confiança para se iniciar um projeto de vida. Os jovens quando decidem emigrar é porque não encontram em Portugal oportunidades e, pior, não têm esperança em que elas venham a surgir. Os jovens têm tempo e ainda assim não o perdem com e no país onde nasceram. Esta falta de fé no país, na sua capacidade de se regenerar, de crescer não é próprio dos mais novos mas sim do cinismo dos tradicionais velhos do Restelo. Já não é assim.
A segunda, é a falência dos nossos governantes. Em 2015 escrevi uma crónica onde ironizava sobre a possibilidade de debandada do país caso a “geringonça” se tornasse uma realidade. Não esperei muito até chegarem os insultos e a furiosa indignação dos seus apoiantes. Anos depois a debandada continua. Com uma agravante: agora deixamos sair cada vez mais jovens qualificados.
A terceira é a alienação como doença nacional. A troika saiu de Portugal há cerca de 10 anos. Depois de termos batido no fundo ao fim de dois governos do PS. Jovens que estão hoje em idade de emigrar com licenciaturas completas e até mestrados e estágios feitos, ainda não tinham acabado o liceu quando nos livrámos da troika. Estes jovens apanharam tudo: a crise, a corrupção, a falência do país, os sacrifícios impostos e, por fim, mais dois governos do PS que acabam não nas urnas mas por mais um caso de justiça. Dois governos estáveis que podiam e deviam ter estancado a sangria das gerações mais qualificadas de sempre, em que as taxas de juro chegaram a ser negativas e em que Portugal beneficiou de milhares de milhões de euros europeus. Nada disto serviu. A emigração dos jovens é o teste do algodão sobre o estado da nação. Os jovens ainda não têm idade para viver de dependências e de vícios do sistema. Por isso, fogem.