Pagamos com amendoins temos macacos

Reclamemos menos e exijamos mais a quem governa e gere o bem público. Paguemos melhor para que tenhamos os melhores

Se na democracia decide a maioria e a maioria é formada por imbecis; se a hipocrisia é um vício nacional e a delação é uma virtude; se engolimos de uma só vez a mentira que nos adoça e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga, percebe-se porque os portugueses têm a tarefa mais difícil do mundo: pensar!

Sim, não há pensamento importante que a burrice não saiba usar e Alexandre Herculano já sugeria que nada é tão admirável em política quanto a memória curta dos portugueses.

Sim, os portugueses querem o poder da palavra, mas dispensam o livre pensamento e não se sentem responsáveis pelos fracassos dos governantes em quem votaram.

Sim, preferimos o engano que nos tranquiliza do que a incerteza que nos incomoda. A enganação até pode suavizar o presente, mas não cura e hipoteca-nos o futuro. Quem mente também rouba.

Sim, a mentira e a aparência dos broncos valem a realidade e a nossa política é uma ode à qual a consciência se recusa e o silêncio é espesso. Já não há vergonha em passar por cima dos cadáveres dos outros.

E não, a política não está mais fétida – ela sempre foi um lodaçal malcheiroso ‘ardilado’’ à porta fechada, mas escancararam-se as portas e veio-nos o cheiro. Não se pode viver num esgoto sem que se lhe sinta a fedentina.

Salazar queria modéstia e prometia que no dia em que deixasse o poder, dentro dos seus bolsos só haveria poeira. Depois, o roubo de milhões enobreceu os ladrões e agora todos se queixam de pouco dinheiro e pouca sorte, mas nenhum de pouco juízo. 

O ideal – deixou de o ser – tornou-se ingrediente da realidade e a democracia transformou-se numa tesoura de jardineiro – corta para igualar. Vivemos tempos de descidas e quedas – uma época de nivelações onde o soldado de hoje se sente o capitão. Nunca o vulgo julgou ter tantas ideias e poder. «O homem vulgar, antes dirigido, decidiu governar o mundo», grafou Ortega e y Gasset.

«As massas avançam!», gritou Hegel; «É uma catástrofe!», vozeou Comte. E Nietzsche concluiu que quanto mais nos elevamos, mais pequenos parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar. Para esses, tudo o que for novo ou diferente passa a ser visto com desprezo.

As almas vulgares, sabendo-se vulgares, impõem a vulgaridade onde quer que seja – e quem não for como toda a gente e quem não pensar como toda a gente, corre o sério risco de ser excluído ou eliminado. Por isso, não é de admirar que as democracias liberais estejam esvaziadas de projetos, ideias e ideais, tal foi a deserção das minorias dirigentes e competentes.

À mistura com os ´vulgarólogos´, caímos nas mãos de populistas e demagogos, os mesmos que vociferam que os políticos deviam ser gays para casarem entre si e não se reproduzirem; que eles são como as fraldas e que devem ganhar ainda menos porque é tudo ladroagem.

Reclamemos menos e exijamos mais a quem governa e gere o bem público. Paguemos melhor para que tenhamos os melhores. Mas à direita a maledicência é consolo para os descontentes e prometem-lhes vassourada; à esquerda exigem-lhes pão, mas o método que empregam é o de destruir as padarias; ao centro fingem-se adormecidos quando lhes convém não ser lembrados.

Vão, mas é trabalhar!