Aqui há fantasmas!

Falar de fantasmas, casas assombradas e mistérios difíceis de explicar não é tarefa fácil. Há quem fique com pele de galinha, outros não deixam de esboçar um sorriso trocista

Querida avó,

Estive numa livraria a comprar uns livros para oferecer.
Os meus olhos foram parar ao livro Histórias de um Portugal Assombrado da jornalista Vanessa Fidalgo. Tal como o nome indica, o livro leva-nos a diversas histórias que vão passando de geração em geração.

O Palácio Beau-Séjour, por exemplo, que é ocupado pelo Gabinete de Estudos Olisiponenses, da Câmara Municipal de Lisboa, mas noutros tempos foi a residência do Barão da Glória, que ainda hoje por lá anda a arrastar grossos volumes de livros e caixotes de documentos, para desespero dos funcionários, que, dias depois, voltam a encontrá-los no exato local onde haviam procurado (que nervos). O Barão também é o culpado pelo tilintar das chávenas em cima das mesas e pelo soar das campainhas da Quinta de São Domingos de Benfica, imagina. Já em Trás-os-Montes, no Castelo de Almourol, em Bragança, amores incompreendidos deixaram espetros a pairar nas suas torres e ameias. Na Serra de Sintra sobram razões para ter medo, entre casas assombradas e almas que deambulam pelas estradas. No Porto, há espetros a discutir a herança pela calada da noite e apartamentos que, afinal, contra todas as razões lógicas, não estão vazios como aparentam. Em Castro Marim, as mouras ainda andam à solta, e, em Penafiel, os sustos marcam o ritmo dos dias na Quinta da Juncosa, que há séculos foi palco de um crime hediondo. Em Langarinhos, Gouveia, há uma casa inacabada, obra que, por mais que tente, nenhum proprietário consegue finalizar. Assim que os dias estiverem maiores, podíamos ir “caçar fantasmas”

Falar de fantasmas, casas assombradas e mistérios difíceis de explicar não é tarefa fácil. Há quem fique com pele de galinha, outros não deixam de esboçar um sorriso trocista.

«If there’s somethin’ strange in your neighborhood;  Who you gonna call (Ghostbusters)».

Bjs

Querido neto,

A  gente nova (em que eu te incluo, claro) talvez nem imagine de que é que estou a falar, mas também duvido que os adultos saibam a história toda.         
Quem estiver na Praia do Sul, da Ericeira, se olhar para a sua esquerda, vê uma enorme moradia no alto de umas rochas, de frente para o mar.

Ora bem: trata-se de uma casa assombrada. Os fantasmas passeiam-se nela durante todo o dia e, à noite, vão apanhar pessoas que andam pela areia e pelo mar, matam-nas e enterram-nas num poço, onde elas desaparecem imediatamente sem deixar rasto.

Nós adorávamos contar esta história, sobretudo aos estrangeiros. E levá-los a passear por lá, onde podiam ver um poço e uma casa abandonada – tal qual com a gente contava. Era o nosso orgulho.

Mas o que é bom não dura muito…Um dia a Capitania resolveu comprar aquilo e lá se foram os fantasmas. Dizem até que agora é Alojamento Local (Por acaso até ficava bem meter aqui uma canção com letra de Maria do Rosário Pedreira chamada “Marcha Erasmus”, se puderes ouve, e vais chorar a rir).

Esta gente não sabe mesmo aproveitar os tesouros que têm… Em Leicester (Inglaterra), há uma grande casa, perfeitamente normal, até com escritórios pelo meio – mas o andar de baixo tem uma grande tabuleta, a toda a largura, que diz: «Nos quartos desta casa, qualquer pessoa pode dormir com fantasmas». É um bocado carote, lá isso é, mas também os fantasmas devem querer ser bem pagos.

Quando os meus netos eram pequenos e  viviam em Leicester, isso foi logo das primeiras coisas que a Adriana me foi mostrar, da primeira vez que lá fui. E tu nem acreditas na fila de gente à espera para poder entrar! Muitos chegam a marcar de um dia para o outro para não esperarem tanto.

Mas diz-me lá, a gente por aqui não podia fazer a mesma coisa? Haviam de ver como a gente para o Alojamento Local fazia bicha também…

Não temos mesmo queda para o negócio…

Bjs