Como os Açores podem ter mudado a equação eleitoral

Montenegro pode ter agora as condições políticas para ganhar as eleições, depois disso precisa de ter a vontade e a coragem para mudar o país.

Em 2022 o comportamento errático da cúpula do PSD, a respeito de possíveis acordos com o Chega, deu ao PS as condições de obter uma pouco previsível maioria absoluta. Na semana daquelas eleições, David Justino, então vice-presidente do partido, disse em debate com Augusto Santos Silva, que não havia «linhas vermelhas» sobre acordos com a direita populista. Deu, daquela forma, o mote para um final de campanha horrível, com os resultados que se conhecem. Este histórico de pouca clareza condenou o atual líder à suspeição permanente de uma possível aliança com o Chega. Não se consegue contabilizar quantas vezes o atual líder do PSD já negou a possibilidade daquela aliança, sem que, até ao último final de semana, houvesse um facto que corroborasse aquela posição. Antes da noite eleitoral dos Açores, Montenegro era um quase derrotado, com comentadores que diziam que dava pena a posição em que este se encontrava, redundando no escárnio em torno da sua decisão de ir àquelas ilhas no dia das eleições. No início da noite a perspetiva de uma maioria do PSD permitiria a Montenegro cavalgar essa vitória. Todavia, poucas vezes, como naquela noite, vimos materializar como ‘o ótimo é inimigo do bom’! Se o PSD tivesse obtido maioria absoluta nos Açores estava garantida a estabilidade governativa, o Chega estaria afastado e seria, sobretudo, uma vitória de Bolieiro. Com maioria relativa, e com o PSD a dispensar uma aliança com o Chega, coloca a pressão quer sobre este partido, quer sobre o PS. Será o PS a viabilizar, ou não um governo minoritário do PSD. Caso o PS e o Chega chumbem esse governo minoritário serão eles os responsáveis pela instabilidade e será deles a coligação negativa. Caso o façam, e haja novamente eleições, conhecendo o histórico do comportamento eleitoral dos portugueses, serão certamente aqueles partidos os penalizados numa possível eleição seguinte. A realidade política muda muito depressa. Esta no domingo acelerou, e o jogo virou! Pedro Nuno Santos, que partira inicialmente em condições frágeis, parecia ter conseguido unir um PS partido pela disputa eleitoral e ter uma base programática mais consistente – ainda que não (totalmente) a sua. Montenegro, comentado como ‘objeto de pena’, ganhou a aposta de risco de estar na noite eleitoral nos Açores. Todavia, uma nota essencial: o PSD garantiu domingo as condições de base essenciais para ganhar as legislativas, mas continua sem ter ainda um programa claro que convença os cerca de 20% de indecisos que dão vitórias eleitorais e, mais importante, que seja a base para uma governação que sirva o país. Entre 1995 e 2024 o PSD governou duas vezes Portugal: a primeira na sequência da demissão de Guterres, e no meio de uma crise orçamental; a segunda após a quase falência financeira do país, no final do consulado de Sócrates. Montenegro pode ter agora as condições políticas para ganhar as eleições, depois disso precisa de ter a vontade e a coragem para mudar o país.