Deco. “O Porto será sempre a minha cidade. Acabarei por voltar para lá”

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Definitivamente uma das pessoas mais inteligentes que conheci no futebol e fora dele. E já lá vão uns bons mais de vinte anos de amizade. Agora é diretor desportivo de um Barcelona numa crise que não figurava há muito na sua história. No centro do furacão, Deco mantém-se tranquilo como sempre foi. Passámos dois dias na segunda cidade da sua vida e falámos bastante da sua favorita.

BARCELONA – Saio para a rua, pelo Paseo de Gracia, e vem-me logo à memória a música dos Alan Parson’s Project. Ou a de Vicente Amigo: «Los labios de la noche se fundieron con los míos/Para curar mí pobre corazón que está perdido/Los labios de la noche con los míos/Los labios de la noche se fundieron con los míos/Para curar mí corazón herido…». Ainda não é noite mas irá ser. Paseo de Gracia ou Passeig de Gràcia, se quiserem falar catalão, por mim está tudo bem, falo castelhano mas entendo o catalão como se fosse a minha própria língua, tenho um encanto especial pelo timbre um tudo nada mais metálico, apenas isso, cheguei a Barcelona há duas horas, fiz o check-in no hotel, pousei a maleta, e pus-me à estrada porque o Deco me espera lá para os lados de Les Corts, no condomínio privado onde se instalou nesta segunda passagem pelo Barça, já não como o jogador que acabara de ganhar a Liga dos Campeões pelo FC Porto e ir à final do Europeu de 2004 com Portugal, mas como aquele que, na verdade, servia para ritmar o futebol tresloucado de Ronaldinho Gaúcho, de Eto’o ou de Henrik Larsson, algo que iria valer-lhe nova conquista da Champions já de blaugrana vestido, imaginem bem, apenas, na altura, a segunda Taça dos Campeões ganha pelos catalães que demoraram décadas a fazer as pazes com uma competição que sempre pareceu feita de propósito para os rivais tremendos de Madrid e do Real.

Em dois dias passados em Barcelona tivemos tempo de falar de tudo e de mais alguma coisa. Do que é publicável e do que ficará impublicável. Por mais que nós, jornalistas, queiramos ser apenas jornalistas, ferrados à nossa profissão com unhas e dentes, sem dar espaço a tergiversações, há a relação incontornável com o entrevistado. Azar o meu, provavelmente: passo o tempo a entrevistar amigos. Azar o deles, se calhar: não me dizem que não. Quando liguei ao Deco e lhe perguntei se nos podíamos encontrar para
termos uma conversa tranquila, só recebi o chamado: «Mano, vens aqui ter quando quiseres e falamos do que que quiseres». Acertámos a data. No dia 26 de janeiro, um sábado, aterrei cedo em Barcelona. Era dia de jogo, não no Camp Nou que está a ser reconstruído, mas no Olímpico de Montjuic, que vai servindo para os ajustes. «Trazes aí um casaquinho decente para podermos ir juntos para a bancada presidencial?», perguntou-me o Deco para aí meia hora depois de me ter instalado lá na zona de Paseo de Gracia. A pergunta vinha a destempo, convenhamos, mas como não me tenho como nenhum maltrapilho, assegurei-lhe que não o faria passar vergonhas. E não fiz. Pelo menos que eu saiba. Sou daqueles que nunca sai de casa sem fazer a barba, tal qual me ensinou o meu avô Acácio de Paiva. Velhas manias que não passam com a idade.

Uma entrevista a pouco e pouco

Tendo em conta a hora que combinámos em casa dele, lá pela Calle Carreras, no condomínio fechado de onde, pela varanda, ultrapassando a sala atafulhada pelos brinquedos de Olívia, a filha mais pequenina de Deco, quinta da lista que tem um sexto (ou sexta) a caminho, se espreita Camp Nou logo ali ao esticar da mão, deixei-me, à francesa dos tempos balzaquianos, flanar pelo arredores das minhas instalações, Plaça de Catalunya, Pastor del Águila, Font del Sis Punti, Monument a Francesc Maciá, esse militar, político independentista catalão e Presidente da Generalitat de Catalunya, de nome completo Francesc Macià i Llussà, conhecido popularmente por El Abuelo, O Avô, que no dia 14 de abril de 1931, depois das eleições municipais espanholas que deram a maioria ao seu partido, Esquerra Republicana de Catalunya, decidiu tomar a atitude de assumir a independência da República Catalã, dentro de uma federação de Repúblicas ibéricas. A coisa deu para o torto, como sabemos, mas Maciá não foi esquecido pelos seus conterrâneos catalães.

Ainda não tinha chegado a casa do Deco, nem conversado a sério com ele, mas a pergunta já se impunha:

– És mais brasileiro, mais português ou mais catalão?

– Na verdade essa é uma pergunta para a qual não tenho uma resposta. Divido-me um pouco por três lugares mas acho que posso dizer com muita certeza que a minha cidade, a cidade na qual me sinto verdadeiramente em casa, é o Porto. Claro que adoro Barcelona, que ganhei aqui raízes, e Indaiatuba, onde passei a minha infância. Mas se queres uma resposta directa é essa mesmo: a minha cidade é o Porto e mais tarde ou mais cedo vou voltar para lá.

Mas isto foi antes. Não quero desbastar esta reportagem por ordem cronológica mas também não vamos abandalhá-la por completo. Estava na zona do Paseo de Gracia e fazia mais frio do que eu pensava, convencido que vinha de que Barcelona me iria receber num traje primaveril. Caminhei em direção a La Rambla e à Praça da Catalunha, deixei-me envolver pela descontração própria de um sábado ao fim da manhã, pelo embalo que Barcelona tem, pelo eco das vozes de Freddie Mercury e Montserrat Caballé: «I has this perfect dream/Un sueno me envolvie/This dream was me and you/Talvez est’s aqui¡/I want all the world to see/Un instinto me guiaba/A miracle sensation/My guide and inspiration/Now my dream is slowly coming true/The wind is a gentle breeze». E vejo como nas esplanadas das bodegas a gente aproveita essa brisa vinda do mar enquanto se servem de umas cañas ou de umas copas e picam pratos de presunto e de anchovas.

Imagino o que encantou Roberto Bolaño, o chileno que escapou ao regime sanguinário de Pinochet e se instalou em Barcelona. Não sei o que tantas vezes me faz querer ver as coisas através dos olhares alheios. A rua larga, arborizada deveria satisfazer-me por si mesma sem sempre preciso metafísica. Mas isso não faria de mim inteiro porque como sempre costumo dizer cada um de nós é para cada um dos outros cada um de si. «Uma garota com libras irlandesas/e uma mochila verde./143 pesetas por uma libra irlandesa,/é bastante, né?/Nada mal./E duas cervejas em um terraço/de Barcelona./E gaivotas./Nada mal». Bebo as duas cervejas, ouço as gaivotas e dispenso a garota irlandesa. Chegou a hora de me ir encontrar com o Deco, iremos em seguida para o estádio onde o Barça receberá o Villareal. A desgraça está eminente.

No fim de um jogo assassino

Fomos jantar em família. Ambiente pesado, embora Deco seja um fulano essencialmente prático e encare a realidade de frente. Depois de ter estado a perder por 0-2, o Barça chegou à remontada e ao 3-2. Incapaz de segurar o jogo, deixou-o cair num vai-não-vai, buracos abertos em toda a defesa, uma ânsia incontrolável de ir marcar o quarto que lhe valeram contra golpes assassinos e três golos, um deles apontado por Gonçalo Guedes, acabado de sair do Benfica. O descontentamento era exasperante em Montjuic. É certo que o adepto do Barcelona parece mais um adepto de tourada do que de futebol: mantém-se muito tempo sem silêncio, na expectativa, e depois tem explosões de alegria ou de tristeza. Tal e qual como aconteceu. À saída da arena, os rapazes das camisas azuis e grenás foram envolvidos por uma assobiadela monumental. Depois houve que esperar. Esperar um longo bocado como é hábito nestes momentos de choque, seja em que equipa for.

– O presidente quis falar connosco. A situação está muito difícil…

Foi assim que o Deco justificou aparecer uma hora depois na garagem onde o seu automóvel nos esperava, a mim, à esposa a dois dos filhos e a uns amigos do mais velho, o João, que tem o cabelo louro, comprido, e uns olhos azuis claros, a parecer um holandês.

Não precisava de justificações.

O seu telemóvel não parou de tocar, até quando estávamos à mesa. Depois explicou-me o que se passara:

– O_Xavi apresentou a demissão. Fica até ao final da época mas não mais. Revelou que não sente capacidade para dar à equipa a mudança que ela precisa. Que é necessário alterar as coisas muito profundamente.

– Então estás com o problema de encontrar um treinador em mãos.

– Sim. O problema é quem? Nisso o presidente também está de acordo comigo. Xavi é um representante do paradigma do Barcelona que sai do clube. Agora temos de encontrar uma solução.

 O próprio Xavi afirmou agora que é preciso mudar de rumo. Tens uma equipa muito jovem. Vão precisar de tempo. E de um grupo de jogadores mais velhos que os ajudem a a crescer.

– Vês?_Mas não é isso que está a acontecer. Depois de chegarmos aos 3-2 era preciso segurar a bola, baixar o ritmo de jogo, tomar conta do tempo. Não conseguimos sequer pensar nisso. Não basta dizer que são jovens e precisam de tempo. Eles também só podem crescer como nós queremos a ganhar. A perder ninguém cresce como deve ser.

– Parece que o Klopp anunciou que também sai do Liverpool no final da época. Que quer deixar o futebol inglês…

– Mas diz que quer ficar uns tempos sem treinar.

– Ninguém consegue dizer não ao Barcelona.

– Mano, estamos com uma questão financeira grave entre mãos e essa foi uma das razões pelas quais me contrataram. Não temos dinheiro para os investimentos que são feitos por outros clubes milionários e isso desmotiva qualquer treinador que venha para cá com a vontade de ganhar tudo e já. Não podemos dar-lhe os meios para isso, infelizmente. Não nesta fase.

– Pões a hipótese de ir buscar um treinador português?

– Para já todas as hipóteses estão sobre a mesa. Mas que treinador português? Quantos treinadores portugueses estão preparados para o peso e para a responsabilidade de tomarem conta do Barcelona, ainda por cima deste Barcelona com todas as dificuldades que carrega. Diz-me tu. Sei que o Ruben Amorim está a fazer um bom trabalho no Sporting e que, ainda por cima, joga com um estilo parecido com o nosso. Mas também tem muito pouca experiência.

– Já vi que estás mesmo com um grande problema entre mãos…

– Não tenhas dúvidas. Pelo menos acertámos na necessidade de uma mudança radical depois de hoje. Tão radical que o próprio Xavi disse que o clube precisa de um novo rumo.

Quase meia-noite. O restaurante continuava cheio e barulhento. A Olívia já dormia com a cabeça nas pernas da mãe. Estava na hora de sair. Combinámos encontrar-nos no dia seguinte na Ciutat Esportiva Joan Gamper, o centro de treinos do clube, para conversarmos um bocado no escritório do diretor desportivo, «Deco himself», claro está. Saí para a noite ainda com vontade de dar uma volta. O táxi deixou-me a três quilómetros do hotel para que eu percorresse o resto do caminho a pé. Saltei para fora do veículo na Plaça d’Espanya, fiz um desvio pela Diagonal e caminhei em passadas largas esperando que o sono me apanhasse no momento de me deitar. Procurei a Calle dels Tallers para que, daí a nada, já com a cabeça na almofada, voltasse a pegar no livro de Bolaño e ler precisamente La Calle Tallers: «A garota despiu-se num quarto estranho/um_frigorífico estranho/umas cortinasde muito mau gosto e música popular espanhola/(meu Deus, pensou) e levava meias/presas por ligas negras e eram 11h30/da noite bom para ele sorrir/não havia abandonado totalmente/a poesia um elo mundano quadros bonitos/porém mal emoldurados e postos por simples/acumulação a garota disse cuidado/come-me devagar a cor rubra tirada a boina/vão embora ontem disse aplaudiu a pura/esgrima e tua cinta-liga dois cisnes». Sim, sim, Bolaño ao adormecer é bom para nos manter acordado.

Domingo de manhã num escritório sem vaidade

Cheguei cedo, rodeei os muros que escondem a cidade desportiva do Barça dos olhares curiosos que possam vir da rua, passei por um grupo de jornalistas, fotógrafos e câmaras de ar entediado como se soubessem de antemão que nada iria acontecer, que não haveria mais declarações
bombásticas depois das da noite anterior, de que no
fundo estavam ali só porque um editor qualquer mandou plantarem-se à porta da Ciutat Esportiva Joan Gamper na esperança de apanharem de esguelha um jogador mal encarado ao volante da sua máquina.

Sentámo-nos com os cafés à nossa frente e a conversa acabou por ser constantemente interrompida pelas exigências profissionais do Deco. Recordei-me da manhã que se seguiu àquela derrota insuportável frente à Grécia, já lá vão praticamente vinte anos. O Presidente da República, Jorge Sampaio, quis ter a simpatia de receber a selecção nacional que tantas alegrias dera durante um mês ao país triste nos jardins do seu palácio e atribuir a cada um de nós a Ordem do Mérito. Estávamos todos um bocado amarrotados, como não podia deixar de ser. Amarrotados por dentro e por fora. Eu, o Gaspar, o Paraíso, o Chico, o Samuel e já não sei quem mais, enfiámo-nos no velho Vasku’s e ficámos por lá até nascer o sol a comer e a beber como se isso compensasse o desgosto. Depois fomos a Alcochete para apanhar o autocarro que nos levou a todos a Belém.

Segunda-feira. Maldita segunda-feira! Segunda-feira chegou e caminhámos em grupo para o palácio com chumbo nos pés como grilhetas de escravizados que anseiam por chegar a casa, cerimónia de medalhas também esta sem taça. O Deco chegou atrasado e perdeu a gravata. Ficou genuíno. Genuinamente genuíno.

Era tempo de arrumar as malas e partir. E recomeçar de novo. Vinha aí um Campeonato do Mundo no qual repetir vitórias e alegrias.

A vitória é uma doença…

Há coisas que dessa madrugada que já se me varreram da memória. Mas a gravata desaparecida do Deco foi como uma anedota que nos fez sorrir naquele oceano de tristezas. E ele, naquele seu estilo calmo, tranquilo, encolhendo os ombros: «Não faço ideia onde a deixei».

Pergunto:

– Vieste encontrar aquilo que esperavas nesta nova passagem pelo Barcelona?

– Sim, sim. Estamos, como percebes, numa fase de luta que exige uma enorme disponibilidade. Mas eu sabia o que vinha encontrar. O Barcelona é muito grande e pede muito de nós. Mas, tranquilos. É o nosso trabalho e eu gosto muito do meu trabalho.

– Chegaste para assumir uma posição muito diferente do que a que tinhas. Estás satisfeito com o teu novo trabalho?

– Muito. Sempre gostei da área de gestão, é nessa área que trabalho aqui. Cabe-me gerir situações, resolver problemas, ajudar quem cá trabalha, desde funcionários a jogadores. É algo que me completa e, sim, sinto-me muito feliz por ter feito esta escolha, ainda por cima num clube com esta dimensão enorme.

– E ser presidente de um clube? Tens essa ambição?

A resposta saiu de rajada:

  • Não! Não é uma coisa que me motive. Não tenho qualquer interesse em candidatar-me à presidência de um clube. Os meus conhecimentos, aquilo que fui aprendendo, os recursos que vim adquirindo trouxeram-me até aqui, à área de gestão, é nisso que estou completamente concentrado. Estou no lugar que quero a fazer o que quero.

– Neste momento estás no Barcelona, pelo que percebo num projeto que tem ideias de mudança, mas aceitarias o mesmo cargo noutro clube?

– Eis outra coisa que neste momento não tem resposta. Não sabemos o que vai acontecer daqui para diante, se este projeto vai caminhar e ter sucesso, estou num clube que, apesar de passar por uma fase de mudança, não pode ficar muito tempo sem ganhar. Recentemente perdemos a Taça do Rei para o Athletic Bilbao e, no final, até pensei que poderia ser bom porque podíamos focar-nos mais no campeonato – ainda estávamos perto do primeiro lugar – e na Liga dos Campeões na qual vamos ter uma eliminatória contra o Nápoles e vamos encará-la com ambição de seguir para os quartos-de-final. De repente, olhamos para a realidade, e vemo-nos cada vez mais longe do topo da tabela e a precisar de recuperar o ânimo para não perdermos o lugar na Liga dos Campeões da próxima época. As coisas alteraram-se com rapidez. Mas, claro!, não vou ficar no Barcelona para sempre, é natural que possa aceitar este trabalho noutro clube se essa situação se concretizar e se for um clube no qual eu me possa sentir bem, tal como me sinto aqui.

– Crise no Barcelona, Crise no_Barcelona, Crise no Barcelona: parece que  não há jornal que não explore esta situação até ao tutano. Afinal o que se passa aqui? É falta de confiança nas pessoas?

– Há algo que muita gente se esquece e que acontece em praticamente todos os clubes que não recebem altos financiamentos do Estado. Esta direção iniciou um projeto do qual fazia parte a renovação do estádio e isso tem custos enormes. O novo Camp Nou vai ser um orgulho para todos os barcelonistas, mas obrigou a um esforço financeiro tremendo que se refletiu no reforço da equipa. Claro que toda a gente diz que o Barcelona é um clube de formação e que cria jogadores todos os anos, mas esse processo tem de ser feito com inteligência, não se pode pegar num grupo de miúdos, vestir-lhes a camisola do Barça e esperar que eles ganhem títulos de um dia para o outro.

– Concluindo…

– Estamos numa fase de transição. Podíamos ter tido melhores resultados em muitas situações? Podíamos. A equipa não revelou, em muitos jogos, uma capacidade física e atlética com a qual pudesse superiorizar-se aos adversários. Mas não há como fugir à realidade. Estamos a passar por uma fase difícil em muitas áreas, não temos dinheiro para ir ao mercado buscar reforços já com nome e ainda com vontade de conquistar títulos, temos de ir apostando em gente como esse menino que tu viste, o Vítor Roque, que tem tudo para ser um avançado de topo mas é muito jovem, tem 19 anos, vai ser preciso dar-lhe apoio. Mas é um exemplo de que continuamos a trabalhar bem em muitos aspetos.

-Olhando para trás na tua carreira de que é que sentes mais saudades?

Depois de a pergunta ter brotado da minha boca, confesso que Deco ainda é um rapazinho de 46 anos e que a questão ficaria melhor se posta a alguém um bocado mais velho. Enfim, como o próprio Deco gosta de dizer, siga a marinha:

– De nada!

– Nada?

– Não sou de ficar a olhar para trás e pensar no que foi feito ou ficou por fazer. Gosto de viver o dia a dia, de me confrontar com as questões que me surgem para resolver, não de andar a olhar para o passado nem de fazer análises sobre o que foi bom ou mau. O dia de hoje é que interessa!

Esse dia de hoje que já foi no dia 27 de janeiro, domingo, foi um dia de sol. Das janelas largas do escritório de Deco podíamos ver o final do treino dos jogadores que não tinham atuado de véspera no relvado que leva no nome de Tito Vilaneuva, antigo adjunto de Guardiola, e morreu chocantemente cedo. Há reflexos nas vidraças. Há reflexos de nós em nós próprios. Deco não foi apenas um dos jogadores mais inteligentes que vi jogar mas é, igualmente, uma das pessoas mais inteligente que conheci no mundo do futebol. Não lhe faço favor  nenhum ao escrevê-lo, era  o que faltava, não andamos em jogos de favores uns aos outros. Foi um dos mais importantes jogadores da história do FC_Porto, pelo que seguimos esse carreiro:

– Sentes-te bem tratado quando regressas ao Porto?

– Sinto-me sempre tratado com todo o carinho! Gosto do Porto, gosto muito do Porto, regresso lá sempre que posso.

– Ficaste com alguma espécie de mágoa por teres sido desprezado (desculpai senhores, mas a palavra é mesmo esta) pelo Benfica?

– Não, mano. Palavra de honra. Foi o  que aconteceu e ponto final. Segui a minha vida, fiz o que fiz, não tenho nenhuma mágoa contra ninguém.

– Olha, vou-me embora, deixar-te trabalhar e vou trabalhar também Mas, já agora, qual o melhor jogador com o qual jogaste na vida?

– Ronaldinho Gaúcho. Sabes porquê? Porque era divertido, jogava para se divertir e divertia-nos. Maravilha!

Nota do redator: Deco e o paradigma – correção às palavras do entrevistado
A frase proferida por Deco à entrevista da revista Luz carece de clarificação. Não é decisão nem vontade de Deco em mudar o método ou o paradigma mas foi sim Xavi que apontou esse caminho com a saída. A deficiente explanação do texto não implica a posição de Deco nem aponta para a sua vontade. Que a nota seja entendida como Deco pretende e não é essa a sua posição. Pelo desentendimento da frase a culpa é do redator e não das palavras proferidas pelo diretor do Barcelona que se encontra em total consonância com o presidente nessa questão como fez questão de sublinhar. Da nossa parte resta-nos assumir a má redação pedindo obviamente desculpas ao Deco que é alheio a ela.