A TV e as eleições

As mais recentes abordagens sobre o fenómeno televisivo sublinham a sua influência junto dos eleitores indecisos.

Começou a audiovisualização da política. É uma realidade determinante para o acompanhamento e avaliação das lideranças que vão a sufrágio no dia 10 de março. Apesar dos ‘novos media’, a televisão mantém um lugar de primeiro relevo no universo da comunicação política, nomeadamente em período eleitoral. Há uns anos, o falecido Emídio Rangel causou polémica quando afirmou que a televisão elegia um Presidente. Os seus críticos consideraram excessivo o seu pensamento e destituído de adesão à realidade. Foi entendido que a televisão não tinha esse poder que lhe estava a ser atribuído. É fundamental situar estas declarações e o debate que elas suscitaram no seu devido tempo. Estávamos ainda longe dos comentários de milhão e meio de espetadores aos domingos de Marcelo Rebelo de Sousa nos anos que antecederam a sua saída do ecrã para Belém. De igual modo, a discussão académica sobre os efeitos da televisão acentuava o caráter » efeito pavloviano » que a mesma teria, subestimando a capacidade crítica e o juízo próprio dos espetadores.

As mais recentes abordagens sobre o fenómeno televisivo sublinham a sua influência junto dos eleitores indecisos. Ora, tendo em conta os diversos estudos de opinião, nunca como nestas eleições terá sido tão expressivo o número de eleitores que não manifesta qualquer sentido de voto. É precisamente neste contexto que a audiovisualização da política merece ser analisada. Por um lado, a televisão permite a avaliação dos candidatos em situação de confronto argumentativo. Não se trata apenas de verificar o nível de preparação que os candidatos evidenciam quanto à sustentabilidade dos respetivos programas eleitorais, mas, principalmente, a forma como são capazes de defender as mensagens previamente estudadas mediante a lógica do contraditório dos adversários. É neste campo de estudo que situamos a chamada retórica da persuasão. Persuasão no sentido de convencimento.

Há ainda a considerar que nestas eleições existem novas lideranças. São desempenhos que irão ser escrutinados em situação de debate eleitoral. Vejamos: Paulo Raimundo sucedeu a Jerónimo de Sousa que ganhava a todos os adversários em simpatia, mas que não conseguiu travar a queda acentuada da CDU, mesmo nos concelhos historicamente comunistas. Na televisão, Paulo Raimundo terá que tentar impedir essa contínua erosão do voto na CDU. É esse o seu principal desafio. Mariana Mortágua parte para os debates com a vantagem de uma larga experiência televisiva, procurando fazer crescer o Bloco de Esquerda e demonstrando a indispensabilidade do seu partido no caso do PS vencer as eleições e desenhando-se uma solução política de governabilidade à esquerda. Rui Rocha, que revelou um pensamento bem estruturado no debate com Pedro Nuno Santos, terá que mobilizar várias linhas de discurso sendo que a mais relevante será fixar e, se possível, alargar a base eleitoral da Iniciativa Liberal de modo a evitar o fortalecimento do Chega com um possível desvio de votos da IL que alguns entenderam como tendo perdido aresta desde a saída da liderança de Cotrim de Figueiredo.

No PS e no PSD ou AD, tanto Pedro Nuno Santos como Luís Montenegro não têm margem para erros nos debates televisivos. Tratando-se dos dois principais candidatos à chefia do próximo governo, ambos terão que segurar e ampliar as respetivas bases eleitorais de apoio, mais no caso de Montenegro. Televisivamente, será posta à prova a capacidade de liderança, a credibilidade das propostas e o carisma. São variáveis importantes que contribuirão ou não para o resultado do dia 10 de março. Desse ponto de vista, as eleições irão ajudar-nos, mais uma vez, a perceber qual é nos nossos dias o contributo das dinâmicas televisivas e até que ponto a televisão é ou não decisiva para a formação do sentido do voto.