Todos os dias, Roni deseja boa noite ao pai. Omri Miran, de 46 anos, foi capturado a 7 de outubro por terroristas do Hamas no Kibutz Nir Oz, deixando a sua esposa, Lishay Lavi Miran, de 38 anos, e as suas duas filhas pequenas. Roni, de dois anos, e Alma, de seis meses, ainda dormiam quando as sirenes começaram a soar em Nir Oz, acordando os pais que se apressaram a levar o filho e a filha, bebés, para a sala segura. À medida que a manhã avançava, Omri e Lishay começaram a perceber que um ataque mais significativo estava a ocorrer. «Às 10h30, a janela da casa de banho foi arrombada e terroristas entraram na casa deles. Omri e Lishay tentaram manter as meninas na sala segura e tinham duas facas com eles para tentarem proteger-se», explica ao Nascer do SOL Michal Lavi, cunhada de Omri e irmã de Lishay. «Os terroristas começaram a gritar do lado de fora da porta da sala segura e trouxeram um vizinho de 16 anos, Tomer Arbe-Eliaz, um menino muito corajoso, que lhes pediu que abrissem a porta, caso contrário os terroristas o magoariam», lamenta Michal, não contendo as lágrimas, explicando que, por isso, o cunhado e a irmã abriram a porta. «Estavam todos na sala segura, com Roni ainda a dormir. A minha irmã pediu aos terroristas que a deixassem pegar no Roni e eles deram autorização para que o Tomer o fizesse», conta, explicando que «a determinada altura, os terroristas pareciam querer matá-los», mas depois levaram toda a família para a casa do vizinho. A filha de 18 anos da família vizinha acabaria por ser morta pelos terroristas. «Por volta das 13h, mais duas mulheres foram trazidas para casa, uma das quais era americana e falava inglês. Trinta minutos depois, os terroristas disseram a Omri e ao pai da outra família para se levantarem e levaram-nos, com as chaves do carro, para os seus carros», adianta Michal, dizendo que a irmã, minutos antes, disse ao marido «que o amava, que protegeria os meninos e que estariam à espera dele» e também lhe implorou «que não fosse um herói para conseguir sobreviver». Durante quatro horas, os membros que restaram das duas famílias ficaram sentados até que os soldados das Forças de Defesa de Israel (FDI) os encontraram, aproximadamente às 17h30.
Já Idan Shtivi foi feito prisioneiro por terroristas do Hamas na rave do deserto de Supernova a 7 de outubro de 2023, depois de ter fotografado o festival enquanto fotógrafo amador. Entrou na festa às 6h e ligou para a namorada às 7h, falando-lhe sobre os mísseis e explicando que sairia dali. Shtivi decidiu ir embora, no seu carro, com os amigos Lior e Yulia, mas foi bloqueado pelos terroristas na estrada em direção ao norte. Fazendo inversão de marcha, começou a dirigir-se para o sul, mas saiu da estrada, perdeu o controlo do veículo e bateu numa árvore. Foi visto pela última vez naquele local e o carro foi encontrado posteriormente, cheio de buracos de balas e sangue. Os corpos dos seus amigos foram encontrados, mas Shtivi foi posteriormente identificado pelas forças de segurança como tendo sido feito refém em Gaza. O estudante de ciências ambientais mora em Tel Aviv e planeava mudar-se para um novo apartamento com a sua namorada, Stav, e o cãozinho de ambos. Amante da natureza, do campismo e da música, Shtivi é descrito pelo seu pai, Eli Shtivi, ao Nascer do SOL, «como um jovem que consegue sobreviver em condições extremas». Sabe-se que deseja trabalhar no setor da energia «para combater as alterações climáticas e juntar-se a um programa de voluntariado em África que ajuda crianças» e é apaixonado por vela e, no fundo, por todas as atividades ao ar livre.
Um grupo de familiares de reféns israelitas detidos em Gaza apresentou uma denúncia por crimes de guerra contra os líderes do Hamas no Tribunal Penal Internacional de Haia. O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos pediu ao TPI que processe os líderes do grupo palestiniano por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Cerca de 100 familiares de reféns participaram na delegação, acompanhados por dezenas de advogados que ajudaram a redigir a proposta ao Tribunal. Após apresentarem a denúncia, os familiares apelaram à libertação imediata dos reféns e destacaram a necessidade de «fazer justiça». «Após 7 de outubro, sentimos que não há justiça. O Hamas prejudicou-nos, assassinou-nos, espancou-nos, violou-nos. Estamos aqui para procurar justiça», disse Sharon Kalderon, cunhada de um refém. «Acredito que se não acabarmos com esse tipo de mal, ele expandir-se-á e chegará a qualquer lugar, a todos os lugares. Por isso, em primeiro lugar e, como sabem, o mais importante é fazer justiça, mas mais do que isso é fazer com que as pessoas tenham a noção de que esse tipo de coisas existe de facto. As pessoas estão a negar as atrocidades que foram cometidas», declarou Doris Liber, mãe de um refém falecido. Israel também está a enfrentar uma acusação semelhante. A África do Sul acusa Israel de «violar as suas obrigações sob a Convenção sobre o Genocídio» em Gaza. O caso está a ser julgado pelo Tribunal Internacional de Justiça.
Por outro lado, o anúncio de uma possível operação militar em Rafah tem gerado grande preocupação internacional. Israel está a planear um ataque ao sul da Faixa de Gaza, especificamente em Rafah, apesar dos avisos contrários dos seus aliados e organizações internacionais. O objetivo declarado é erradicar o Hamas, o movimento islamita palestiniano que atacou Israel recentemente. No entanto, esta ação levanta preocupações sobre o destino dos civis na região, especialmente considerando que já houve vítimas civis em ataques aéreos anteriores. O Hamas, por sua vez, ameaça que qualquer operação israelita em Rafah prejudicaria as negociações em curso e resultaria num desastre humanitário. Com uma população de mais de 1,5 milhão de pessoas, Rafah já está sobrecarregada com mais de 1,3 milhão de deslocados internos devido a ataques anteriores noutras partes da Faixa de Gaza.
Líderes mundiais, incluindo o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, têm instado Israel a garantir a segurança dos civis em Rafah e a procurar soluções pacíficas para o conflito. A ONU e a União Europeia também emitiram declarações de preocupação, alertando para as consequências humanitárias devastadoras de uma escalada militar em Rafah. Além disso, outros países, como a Turquia e os Países Baixos, estão a tomar medidas, como a suspensão de exportações militares para Israel, em resposta à crise iminente. Enquanto isso, o Egito, preocupado com o possível influxo de refugiados palestinianos no seu território, ameaça romper o tratado de paz com Israel se a operação militar avançar. Outros países, como a Arábia Saudita, também condenaram os planos de Israel e estão a tentar promover medidas urgentes para evitar uma catástrofe humanitária em Rafah.