Os agricultores europeus têm razões de sobra para protestar e chamar a atenção para as injustiças de que estão a ser alvo.
Claro que de entre eles, os portugueses, têm ainda mais razões face à absurda e absolutamente inexplicável insensibilidade politica deste governo para o setor.
Mas falemos das razões gerais – europeias – para depois falarmos das mais específicas – as razões portuguesas.
Em 26 de janeiro de 2022 (há mais de 2 anos) afirmei eu próprio no Parlamento Europeu o que aqui transcrevo:
«Em 2020 a Comissão Europeia apresentou a estratégia ‘do Prado ao Prato’. Agora são apresentados mais dois estudos preliminares do impacto dessa estratégia.
De uma forma resumida os estudos apontam para:
1. Diminuição da produção e da produtividade da terra até 30%;
2 – Um aumento dos preços pagos pelos consumidores;
3 – Um aumento das importações e a redução das exportações;
4 – Uma redução do rendimento dos agricultores;
5 – Um aumento da insegurança alimentar dentro da União Europeia».
Julgo que nestas 5 razões estão claramente justificados muitos dos protestos a que temos assistido.
E eu pergunto:
Qual é a racionalidade económica e social que está subjacente a uma estratégia europeia que reduz, que proíbe e que tem como consequência direta menor produção e mais importação de países terceiros onde as práticas ambientais são de longe inferiores às europeias?
Não há explicação lógica e coerente.
A Comissão Europeia fez ‘ouvidos de mercador’ e o resultado está à vista.
Os agricultores europeus reclamam e com toda a razão.
Mas e o que dizer do nosso país?
Ou melhor, do Governo do nosso país?
Quase nos ‘mete impressão’ assistir às viagens apressadas da ministra da Agricultura pelo país, ou das reuniões on-line, para reagir aos protestos e nem sequer explicar porque não agiu de modo a evitar a sua realização.
É de facto de ‘bradar aos céus’ como se erra tanto nas previsões – na Produção Integrada a procura foi de 400 mil hectares candidatos para uma estimativa inicial de 350.000:
– Na Agricultura Biológica a procura atingiu os 715 mil hectares para os 640.000 projetados.
Qual a solução do Governo?
Ratear, porque o dinheiro não chegava para todos.
Depois do protesto…já há solução! Ou seja, já há dinheiro!
Claro que não é por estarmos em pré-campanha eleitoral.
Claro que não é porque os agricultores se cansaram dos atrasos nos pagamentos e das promessas não cumpridas.
Por isso, claro que é pela falta de sensibilidade política lá na Europa, e muito mais por cá em Portugal.
Venha daí um novo Governo que inclua o setor agro-florestal como um vasto território de importância estratégica para o país e que de uma vez por todas mostre o seu respeito por quem de ‘sol a sol’ continua a acreditar no valor da terra e no que pode representar no equilíbrio territorial do país.
O Interior em geral, e o mundo rural em particular, precisa que lhe seja reconhecida maior importância política.