Inês Sousa Real. Uma das primeiras  líderes de esquerda pós-25 de Abril

Inês Sousa Real assumiu a liderança do PAN aos 41 anos. Volvidos três anos, o seu antecessor saiu.

Sabe-se que, quando vai a caminho da Assembleia da República, ouve Pearl Jam, Amy Winehouse, David Bowie, GNR ou Deolinda. Licenciada em Direito pela Universidade Autónoma de Lisboa e tendo pós-graduações em Ciências Jurídico-políticas e Contencioso Administrativo, Inês Sousa Real, aos 41 anos, assumiu a liderança do PAN, marcando um momento significativo na política portuguesa como uma das poucas mulheres a liderar um partido de esquerda desde o 25 de Abril. A sua trajetória política é profundamente enraizada na defesa dos direitos dos animais, um compromisso que a levou a ocupar o cargo de provedora dos Animais de Lisboa, embora se tenha afastado devido à falta de apoio da Câmara. Desde então, a sua dedicação ao PAN só cresceu, especialmente após a sua ascensão como deputada e subsequente liderança do grupo parlamentar.

Reconhecida pela luta contra as touradas, Inês Sousa Real é uma voz na defesa dos direitos dos animais em Portugal. Além disso, é uma defensora da igualdade de género na política, apoiando fervorosamente a presença de mais mulheres em cargos de destaque. A sua liderança é caracterizada por uma abordagem trabalhadora e comprometida com as causas que abraça. Além disso, existem factos curiosos sobre Inês Sousa Real, como o de ter participado na primeira marcha infantil de Santo António.

Mestre em Direito Animal e Sociedade pela Universidade Autónoma de Barcelona, quando tomou as rédeas do partido percebeu que a estratégia delineada pela então liderança do PAN visava não apenas consolidar o crescimento do partido, que tivera um aumento significativo de votos, mas também almejava uma presença ainda mais marcante na política portuguesa, com ambições até mesmo de participação no governo. Sob a liderança de Inês Sousa Real, o PAN continuou a dar prioridade à defesa do meio ambiente, dos direitos dos animais e da justiça social.

Voltando atrás, Inês Sousa Real ingressou no PAN em 2011 e assumiu o cargo de presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do partido até 2013. Posteriormente, em 2017, foi eleita deputada na Assembleia Municipal de Lisboa. A sua ascensão política continuou nas Legislativas de 2019, sendo eleita para a Assembleia da República pelo círculo de Lisboa e tornando-se líder parlamentar do PAN. Em junho de 2021, durante o VIII Congresso do partido, foi eleita porta-voz.

Em novembro de 2021, esteve envolvida em várias controvérsias, quando foi revelado que ela ou familiares diretos possuíam quotas em empresas agrícolas que praticavam agricultura intensiva, em contradição com os princípios do PAN. Além disso, omitiu informações sobre a propriedade de uma empresa de mediação imobiliária do seu marido nas suas declarações de interesses. Luís Mira, da Confederação dos Agricultores de Portugal, criticou a aparente contradição entre as suas atividades privadas e as suas posições públicas. Acreditava que Inês Sousa Real deveria renunciar, pois era inaceitável criticar algo publicamente e depois praticá-lo pessoalmente. Mira comparou esta situação à de Ricardo Robles do BE, que criticava o alojamento local enquanto tinha envolvimento nessa área. Sousa Real afirmou que as suas empresas usam túneis, não estufas, e defendeu que tal não afeta negativamente o ambiente. No entanto, especialistas indicavam que a substituição de túneis por estufas não necessariamente elimina a intensificação da produção agrícola. Sousa Real reforçou que as suas práticas seguem os regulamentos e certificações necessárias e que encerrou a sua participação nas empresas para evitar conflitos de interesse. Entretanto, surgiram anúncios de trabalho descrevendo o trabalho em “estufas”, o que levantou mais questões sobre a situação. Sousa Real respondeu à polémica no Twitter, defendendo as suas práticas e negando as acusações feitas contra ela e as suas empresas. Apesar das críticas e apelos à sua renúncia, recusou renunciar ao cargo de porta-voz do PAN.

Em fevereiro de 2022, o Tribunal Constitucional rejeitou as alterações aos estatutos aprovadas no VIII Congresso do PAN, que incluíam disposições para suspender preventivamente qualquer membro do partido. Em resposta, Inês Sousa Real defendeu a sua liderança e acusou uma “minoria ruidosa” de tentar minar o seu cargo, enquanto denunciava campanhas de desinformação.

Em maio do ano passado, Inês Sousa Real foi reeleita como porta-voz do PAN, no âmbito do IX Congresso do partido. A lista de Sousa Real contou com 97 votos e terá 20 mandatos. A de Nelson Silva, por sua vez, contou com 35 votos e terá 7 lugares no órgão. À época, disse que o país “está refém de muita instabilidade política”, tendo exigido ao Governo “vontade política e foco” e que investisse em “reformas estruturais”. 

Já no início de fevereiro deste ano, André Silva, um dos fundadores e ex-porta-voz do PAN, renunciou ao partido, alegando que este perdeu a sua integridade ao procurar alianças políticas sem critério e ao abandonar as suas causas fundamentais em favor de uma imagem de moderação. Inês Sousa Real lamentou a decisão de Silva, afirmando que este prejudicou o partido ao sair e questionou as suas críticas à direção atual. Uma das razões para a rutura foi o apoio do PAN ao governo regional da Madeira, liderado pelo PSD/CDS-PP, que entrou em gestão. Silva criticou o apoio, alegando que o partido estava sacrificando os seus valores em troca de poder. Sousa Real rebateu essas críticas, destacando as conquistas do PAN na Assembleia da República e a sua contribuição para a estabilidade democrática.