A campanha eleitoral para as legislativas tem feito com que as ações de protesto dos polícias estejam a perder visibilidade, apesar de as mesmas continuarem a ocorrer. Talvez a mais participada tenha sido a vigília de Braga, esta semana, que contou com a presença de agentes e oficiais da PSP.
À semelhança dessa ação, até ao dia 8, a dois do ato eleitoral, os movimentos inorgânicos, ou nem tanto, têm ações marcadas para todos os dias, sendo de esperar que na última vigília, marcada para todos os distritos do país, dia 8, os polícias voltem às televisões, devido ao número de participantes. Nas redes sociais os mais radicais têm estado mais discretos e são poucos os que arriscam dizer que amanhã, sábado, haverá uma grande vigília em Lisboa, como chegou a ser anunciado em vários grupos. «Felizmente, parece que estão a ter juízo, e têm realizado as vigílias ordeiramente», diz ao Nascer do SOL um sindicalista.
Como as vigílias não são organizadas pelos sindicatos, a capacidade de mobilização é inferior no que diz respeito à capacidade de levar polícias de um distrito para o outro, já que não há a disponibilidade financeira para alugar autocarros, daí o INOP, o movimento inorgânico mais badalado, optar por fazer vigílias por distrito.
Muito se tem dito sobre a importância do anúncio da Plataforma, que reúne os sindicatos da PSP e as associações socioprofissionais da GNR, de cancelar o encontro nacional e de ter optado por esperar pelo novo Executivo. BrunoPereira, presidente do Sindicato dos Oficiais de Polícia – excetuando os de carreira – e membro da Plataforma, tem uma leitura diferente: «Eu não disse que não íamos continuar a fazer vigílias, eu próprio tenho estado na AR, sempre que posso. Nós dissemos que íamos parar os protestos de rua, mas de monta, com impacto. Não quis dizer com isto que nos fossemos fechar em casa ou encapsular. Vou às vigílias e não tem que ver com movimentos INOPs ou não INOPs, Plataforma ou não Plataforma, acima de tudo é a minha predisposição enquanto polícia, enquanto oficial de polícia, para estar, simbolicamente, junto dos meus camaradas a prestar exatamente aquilo que é a minha adesão a um protesto, que é elevado, sóbrio e democrático, que se irá manter até às eleições».
Capitólio arrefeceu ânimos
Os acontecimentos do Capitólio ligaram as sirenes e agora os polícias só temem que alguns radicais «possam estragar o que já foi feito de bom pela justa reivindicação de um subsídio de risco idêntico ao da PJ. Além dos elementos da PSP mais radicalizados – muitos na situação de pré-reforma ou mesmo reformados – tememos que um grupo de guardas prisionais que, normalmente, se vestem com t-shirts negras e usam very ligths e tochas possam fazer disparates», acrescenta outro sindicalista.
Como já se percebeu, a hora, usando uma linguagem de meliante, não é de dar estrilho, até porque o anúncio de que os militares das Forças Armadas, os bombeiros e os oficiais de Justiça também querem o mesmo subsídio pode baralhar as contas à PSP e à GNR. «Com tantos a pedir vai ser mais difícil vermos as nossas reivindicações aceites. Ou será que o próximo Governo vai ter dinheiro para tudo?», questiona o membro de um popular sindicato.
A ironia da luta da PSP, GNR e guardas prisionais é que começou com a aprovação do decreto-lei que dá à PJ um subsídio de missão, vulgo risco. Agora, o feitiço virou-se contra o feiticeiro e são os bombeiros, os oficiais de Justiça e Forças Armadas a quererem que, no caso das forças de segurança serem contempladas com o mesmo subsídio, terem direitos iguais.
Bruno Pereira, rosto da revolta da Plataforma, diz compreender as reivindicações das outras organizações, mas vinca que não se podem comparar missões diferentes. «Em relação às Forças Armadas (FA), estão a passar por momentos trágicos, bastante maus, e isto resulta também de uma política depreciativa de anos, senão décadas. Acho que é justo eles lutarem por aquilo que é uma mudança de página, à semelhança do que nós estamos a fazer, e para uma valorização das carreiras para evitar que haja uma sangria contínua, como tem havido nas FA. Mas, como digo, as FA não são forças de segurança, não têm um papel na área da segurança interna. Qual é a exposição ao risco dos militares em território nacional? O papel deles é diferente, não é em território nacional». Já quanto aos bombeiros e oficiais de Justiça, a opinião não é muito diferente: «Não podemos comparar, se estamos a falar de carreiras diferentes. Compreendo uma coisa, e estou solidário com eles, é que o Estado também relativamente a eles, não os tem tratado bem. Preocupa-me do ponto de vista de caos social, aquilo que é uma manifestação de desalento tão alargada, de tantos setores essenciais do Estado. A mim preocupa-me sobremaneira ter bombeiros, professores, médicos, enfermeiros, técnicos de Justiça, no limite até militares, todos eles a contestarem e isso mostra bem o quão o Estado não soube, claramente, estar à altura das suas expectativas e das suas necessidades».
O próximo Governo e em particular o ministro da Administração Interna vai ter uma tarefa tão fácil como o comum dos mortais escalar o Everest, daí que se fale, no interior do PSD, de que não há candidatos ao cargo num hipotético futuro Executivo…