O conflito no Sudão arrisca ser a maior crise alimentar do mundo, numa altura em que as atenções da comunidade internacional estão concentradas na guerra no Médio Oriente.
“A guerra no Sudão corre o risco de desencadear a maior crise de fome do mundo”, disse esta quarta-feira a diretora do Programa Alimentar Mundial (PAM) no final de uma viagem ao vizinho Sudão do Sul. Este é o país para onde centenas de milhares de sudaneses fugiram dos combates no país de origem.
A agência alimentar das Nações Unidas afirmou que cerca de 18 milhões de pessoas em todo o Sudão enfrentam uma fome aguda. As mais desesperadas estão presas atrás das linhas da frente.
“Há 20 anos, Darfur foi a maior crise de fome do mundo e o mundo mobilizou-se para responder, mas atualmente o povo do Sudão foi esquecido”, afirmou Cindy McCain. De acordo com as agências da ONU, o conflito deslocou mais de 10 milhões de pessoas para zonas mais seguras no interior do Sudão ou para países vizinhos.
McCain apelou às partes beligerantes para que parassem de lutar e permitissem que as agências humanitárias prestassem assistência vital. “As consequências da inação vão muito além de uma mãe incapaz de alimentar o seu filho e irão moldar a região nos próximos anos”, avisou a responsável do PAM.
As declarações de McCain surgem poucos dias depois de o secretário-geral das Nações Unidas ter afirmado que a ONU vai continuar a apoiar o povo sudanês. “As Nações Unidas não vão abandonar o Sudão. Continuam fortemente empenhadas em prestar assistência humanitária vital e em apoiar o povo sudanês nas suas aspirações por um futuro pacífico e seguro”, lê-se num comunicado de António Guterres,
O conflito continua a assolar o Sudão e “está a minar ainda mais o Estado de direito e a proteção dos civis”, assim como a “pôr em perigo todo o país e toda a região”, acrescentou o líder da ONU. Guterres apelou às partes em conflito para que “deponham as armas e se comprometam com conversações de paz amplas que conduzam à retoma de uma transição democrática liderada por civis”.
O país tem tido dificuldades com as devastadoras consequências políticas, de segurança e humanitárias dos combates que eclodiram em 15 de abril de 2023 na capital Cartum e arredores.
O conflito surgiu na sequência de divergências entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF) sobre a integração deste grupo paramilitar nas forças armadas, o que fez descarrilar o processo de transição que se seguiu ao derrube do antigo presidente, Omar Hassan al-Bashir, após 30 anos no poder.
Os confrontos levaram a uma guerra civil que causou um número recorde de pessoas deslocadas: nove milhões internamente e 1,7 milhões de exilados, o maior número do mundo neste momento.