Em véspera de eleições legislativas, depois da campanha com o maior número de debates entre os diversos candidatos e maior cobertura mediática que há memória, resta-me, como dizemos em Portugal, ‘um amargo de boca’. Assisti a um conjunto de acusações, entre candidatos a primeiro ministro, incluindo diagnósticos de estabilidade emocional, profundamente gratuitos e infantis. Esperar-se-ia, num modelo de escolha exigente e meritocrático, que um candidato a primeiro-ministro apresentasse qualidades que, infelizmente, não estão presentes.
Estes candidatos, não estão, nem vão estar capacitados para o desafio da transformação que Portugal necessita. Estaremos, qualquer venha a ser o resultado, evidentemente entregues a ‘mais do mesmo’. É como dizer, estar convencido que uma solução para a transformação de Portugal numa rota que aproveite os recursos, o talento, a cultura e a geografia portuguesas, ao serviço de um país mais ético, cívico e inovador (única rota para o crescimento sustentável da economia e da riqueza nacional) não possa sair do resultado, qualquer que venha a ser, das eleições de domingo, dia 10 de março. Nenhum apresentou um projeto para o país, nenhum pensa o país para além da ambição da vitória eleitoral. O único interesse é mesmo o poder pelo poder. A ausência de um projeto, digno desse nome, e a fraca categoria dos intervenientes leva-os ao leilão de propostas desgarradas com o único intuito de convencer o eleitor a votar.
Há muito tempo que chamo a atenção para a impreparação, técnica e humana, dos atuais líderes partidários, consequência da ausência de critérios de meritocracia na gestão e controlo dos partidos políticos. No habitual ‘mais do mesmo’, já os que, nos respetivos partidos, os antecederam garantiram que não fariam aquilo que acabaram por fazer. Quando o Partido Socialista enaltece exacerbadamente o resultado da governação de António Costa está, de forma obcecada e clubística, a defender o ‘poucochinho’. O mesmo, exatamente o mesmo, acontece na forma como o AD/PSD parece querer infetar o país com doses massivas de amnésia e transformar a governação de Passos Coelho em algo que efetivamente não foi. Como um está mais distante na memória que o outro, tem vantagem aquele sobre o qual mais tempo passou. A memória é curta e as fabulações ditas de forma muito insistente, tornam-se mais facilmente em verdades. Funciona melhor quando a memória fraca se desvanece pelo tempo… No meu caso a memória funciona e ainda não esqueci as propostas reformadoras de António Costa e as juras de Passos Coelho. Como diz o povo, quem mais jura…
Estamos em ‘mais do mesmo’ no que ao modo de fazer política tem sido a característica dos boys and girls oriundos do profissionalismo partidário que garantem por essa via uma carreira, para si e para os seus (são sempre os mesmos – estão lá sempre, de Bragança a Faro, em todas as ações, em todos os comícios em todas as redes sociais).
Só aumentando o grau de exigência no acesso a lugares políticos e, simultaneamente, introduzindo modelos de remuneração que aliciem os melhores, poderemos avançar para patamares de gestão política que possibilitem ao país sair do marasmo em que se estagnou. Porque os melhores que o país tem não são candidatos, as eleições de domingo próximo não irão resolver nada. Apenas irão, pela falta de talento, prolongar o longo festejo da classe de funcionários políticos que domina e atrasa o país.
CEO do Taguspark, Professor universitário