A portuguesa Bondalti, empresa do setor químico detida pelo grupo José de Mello, lançou esta esta semana uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre a empresa espanhola Ercros, avaliando-a em mais de 329 milhões de euros. Ao Nascer do SOL, fonte da empresa lembra que «num mercado cada vez mais global, a importância do tamanho e da especialização são cada vez mais relevantes» e face a este cenário considera que «a união de duas empresas industriais como a Ercros e a Bondalti darão origem a uma empresa industrial que terá a dimensão necessária para competir no complexo mercado atual, investindo continuamente na inovação e na sustentabilidade, antecipando-se aos desafios que fazem frente à indústria química europeia», acrescentando que «as duas empresas complementam-se estrategicamente, partilhando a mesma missão de negócio que consiste em dar prioridade à satisfação nas necessidades dos clientes e consumidores, estabelecendo relações de longo prazo».
A Bondalti explica ainda que a operação está agora dependente das autorizações em matéria de competência, tanto espanhola como portuguesa, da autorização ou não oposição do Conselho de Ministros de espanhol, assim como da aprovação por parte de 75% dos acionistas da empresa. Em relação a estes últimos, a empresa mostra-se otimista ao considerar que o preço oferecido é atrativo para os acionistas da Ercros, «uma vez que corresponde a um prémio de 40,6% sobre o preço das ações registado no fecho do mercado em Espanha no dia anterior (4 de março) ao anúncio da OPA, de 43,7% sobre o preço médio das durante o período de três meses que antecederam o anúncio da OPA e de 34,8% sobre o preço médio das ações durante o período de seis meses que antecederam o anúncio da OPA».
É certo que não é comum assistirmos a uma empresa portuguesa a lançar uma operação destas sobre uma empresa espanhola, mais facilmente verificamos o contrário. Outra curiosidade, de acordo com os dados analisados pelo nosso jornal, é que para um universo de OPA lançadas em Espanha, em empresas cotadas na bolsa espanhola desde 2022 superiores a 100 milhões de euros e com a intenção de retirada de bolsa tem o segundo maior premium oferecido.
Mário Martins, analista da ActivTrades, refere ao nosso jornal que se trata de «um passo muito relevante no panorama nacional, habituado a poucas aventuras de porte no exterior e que pode criar uma empresa importante neste setor, reforçando os laços empresariais entre os dois países».
Questionado sobre que entraves poderá ter este negócio, principalmente ao nível da concorrência, Vítor Madeira, analista da XTB, defende que, «num mercado bastante concentrado, esta aquisição vai fazer com que essa tendência continue», acrescentando que «poderá provocar ganhos de competitividade para a Bondalti, já que os seus concorrentes europeus são empresas de grande capitalização bolsita».
Já Mário Martins defende que «não deverão haver entraves significativos no tema da concorrência e muito menos impeditivos de se concretizar o negócio».
Oferta em cima da mesa
A oferta foi lançada pela totalidade do seu capital e uma vez concluída a transação, a Bondalti vai manter a sede da Ercros em Barcelona, assim como os postos de trabalho e a presença nas comunidades em que opera (Catalunha, Comunidade Valenciana, Aragão e Madrid), assim como retirar as ações da Ercros da bolsa espanhola.
Em relação ao valor oferecido pela empresa portuguesa, o analista da XTB defende que se «encontra perto do capital próprio da empresa (ativos-passivos), um prémio face à cotação anterior de cerca de 40%». E adianta que, em termos de análise técnica, «próximo de uma resistência». Vítor Madeira adianta que é preciso salientar que «as métricas financeiras da empresa têm vindo a deteriorar-se nos últimos meses, tal como a cotação em bolsa». Vendo desta forma, o analista defende que «o montante está próximo do valor justo».
Já o analista da ActivTrades atira: «Sendo certo que é um prémio de 40%, em relação ao valor que transacionava antes da OPA, está em linha, e até mesmo abaixo do patamar onde os títulos da empresa espanhola negociavam há um ano, daí que possa haver espaço para alguma melhoria proposta».
Quanto à hipótese de os acionistas darem luz verde à operação, os responsáveis contactados pelo nosso jornal não hesitam. «Normalmente os acionistas mais pequenos não estão tão interessados em questões como estas, mas sim em valorizar o seu capital a curto-médio prazo», diz Vítor Madeira, acrescentando que um prémio de cerca de 40%, na sua opinião, «deverá ser suficiente para convencer os pequenos investidores».
Por sua vez, Mário Martins defende que o mais importante será «convencer a administração da empresa espanhola, que para já indicou que era uma OPA não solicitada, quase a entrar no campo de uma operação hostil». E diz que «os principais acionistas são o combustível para o sucesso do negócio, enquanto os pequenos acionistas deverão seguir a recomendação da administração».
A empresa espanhola já revelou que a oferta pública não foi solicitada nem acordada previamente entre as duas partes. «O conselho de administração da Ercros não tinha conhecimento prévio da Oferta e, portanto, trata-se de uma Oferta não solicitada nem acordada previamente», informou num comunicado enviado à Comissão Nacional do Mercado de Valores de Espanha.
O grupo espanhol acrescentou que o Conselho de Administração «pronunciar-se-á no devido momento sobre a oferta, quando for autorizada pela Comissão Nacional do Mercado de Valores».
Recorde-se que a Ercros é um grupo industrial químico líder no mercado espanhol, especializado na produção e venda de produtos químicos e farmacêuticos. A empresa emprega 1.350 colaboradores e tem três áreas de atividade: a divisão de cloro, a divisão de produtos químicos e a divisão farmacêutica. Em 2023, atingiu uma faturação de cerca de 750 milhões de euros e lucros de 27,5 milhões de euros.
«Com esta operação industrial e uma vez retirada da bolsa, a Ercros fará parte de um grupo industrial com uma sólida posição financeira e uma estrutura acionista estável. Desta forma, criar-se-á um grupo com volume e competências técnicas de referência e com reforçada capacidade para concorrer com os principais agentes do mercado, ampliando simultaneamente o potencial estratégico e as possibilidades de crescimento da empresa resultante, com uma visão de longo prazo», revelou a Bondalti em comunicado.
Uma opinião partilhada pelo analista da XTB, Vítor Madeira, ao considerar que esta «aquisição poderá proporcionar ganhos para ambos os países, já que a intenção da Bondalti é manter todas as operações espanholas, com a possibilidade de aumentar o investimento». Já em relação ao mercado português, admite que o ganho poderá ser maior, «já que há a possibilidade de transferências de capitais de Espanha para Portugal por via de lucros adquiridos em Espanha e também tecnologias e conhecimentos vindos dos vizinhos espanhóis», revela ao Nascer do SOL.