Começou a surgir nas bocas do país antes dos resultados das eleições serem conhecidos e só por pouco não elegeu um deputado. O fenómeno ADN – Alternativa Democrática Nacional (ADN) surgiu quando se começou a perceber que vários eleitores colocaram a cruz no partido pensando tratar-se da AD – Aliança Democrática.
O líder do partido recusa essa hipótese e considera que os mais de 100 mil votos obtidos na noite eleitoral – apenas 18 mil abaixo do PAN – foram atribuídos em consciência. “Utilizar a confusão de qualquer sigla é desconsiderar os eleitores”, defendeu Bruno Fialho. “Os portugueses não são ignorantes […] não houve enganos”. E acrescentou: “Se não, durante 50 anos os portugueses também se tinham confundido entre PS e PS…D, ou entre CD…U e CD…S”. E lançou farpas à Aliança Democrática: “Também não aceitamos ser utilizados para eventuais justificações de resultados de outro partido que não conseguiu atingir os seus objetivos”.
E se o Chega acha que foi o grande vencedor da noite eleitoral, Bruno Fialho tem outra ideia. “Parabéns ao ADN, que foi o grande vencedor da noite. O ADN hoje já venceu”.
Depois dos relatos de quem se enganava, a AD pediu à Comissão Nacional de Eleições (CNE) que apelasse ao voto esclarecido. E a ADN apresentou uma queixa à CNE contra a AD. “A campanha eleitoral serviu para clarificar essas situações, pelo que, usar este subterfúgio ridículo apenas para tentar cativar eleitores a irem votar na AD e denegrir o ADN é inaceitável”, afirmou o ADN.
A queixa tem como base a “publicidade que está a ser feita no voto na AD, através dos meios de comunicação, com a desculpa de que estão a existir enganos entre ADN e AD”.
Polémicas à parte, a ADN conseguiu um resultado 10 vezes superior ao de 2022, que lhe permitirá requerer a subvenção partidária, mesmo sem qualquer deputado, uma vez que ultrapassou os 50 mil votos.
O valor a atribuir, segundo a lei, “consiste numa quantia em dinheiro equivalente à fração 1/135 do valor do IAS [Indexante de Apoios Sociais], por cada voto obtido na mais recente eleição de deputados à Assembleia da República”. O valor do IAS em vigor é de 509,26 euros e, assim, o valor da subvenção seria de 3,77 euros por voto, mas como ainda se tem de aplicar um desconto de 10%, o valor por voto é de 3,4 euros. Assim, garantiu um financiamento superior a 340 mil euros.
Uma das explicações para a subida do partido pode prender-se com o apelo de grupos evangélicos. Em fevereiro deste ano foi publicado no YouTube do ADN um vídeo de apoio de Marcos Feliciano, porta-voz de Bolsonaro. “Eu quero chamar a atenção de todas as lideranças evangélicas de Portugal, bem como de todos os cristãos para que no próximo dia 10 de março, dia de eleições em Portugal, para que apoiem e votem no ADN”.
O politólogo e professor de ciência política José Filipe Pinto defende que isso pode ajudar a explicar o crescimento da ADN. “A meu ver – e falta aqui um estudo sociológico – pode ter que ver com o facto de muitos dos seus candidatos serem ligados aos evangélicos, sendo vários deles pastores evangélicos, e tendo contado, por exemplo, com mensagens do pastor evangélico que apoiava Bolsonaro”, diz ao i. “Isto altera completamente as regras”.
Já Timóteo Cavaco, presidente da Aliança Evangélica Portuguesa, afastou essa ideia. “Há certos partidos que, pelo seu discurso, podem apelar a certas pessoas dentro do meio evangélico, agora não acredito que tenha havido uma mobilização em torno de um ou outro partido”, disse ao Público.
Mas que força é esta que foi além dos 100 mil eleitores? Nasceu Partido Democrático Republicano pelas mãos de António Marinho e Pinto. Em 2020, Bruno Fialho assumiu a liderança e em 2021 mudou-lhe o nome para evitar confusões com o PNR, movimento associado a Mário Machado. Acabou por criar confusões com a AD.
Defende que as alterações climáticas são uma “fraude climática”, quer eliminar apoios públicos ao aborto e à mudança de sexo e abolir as políticas que defendem e protegem a comunidade LGBTQIA+. Pede ainda, por exemplo, a reposição do cumprimento do serviço militar.
O seu líder está longe de querer ser uma figura consensual. Bruno Fialho foi opositor das medidas de combate à covid-19 durante a pandemia. Também no que respeita às alterações climáticas vai contra o mainstream. “Carbono é vida. Diz não à fraude climática”, foi uma das frases escolhidas para outdoors nesta campanha.