Uma oportunidade. Só uma oportunidade», foi o que André Ventura pediu ao eleitorado em vídeos do Chega difundidos nas redes sociais durante a campanha eleitoral.
Contados os votos, e como era previsível, Portugal virou à direita – a esquerda sofreu uma das suas mais pesadas derrotas na história da democracia – e o partido de André Ventura ultrapassou a fasquia de um milhão de eleitores, conquistando mandatos em todos os círculos com exceção do de Bragança, foi mesmo o mais votado no Algarve, e
passou a contar com quase 50 deputados na sua bancada parlamentar. É muito. E não, não se pode ignorar.
Daí a André Ventura julgar que pode exigir lugares no Governo à AD de Luís Montenegro vai uma distância como a de Lisboa a Ponta Delgada.
Montenegro disse e repetiu durante a campanha eleitoral – e deixou-o claro no frente-a-frente na TV com Ventura – que não faria coligação de Governo nem acordo de incidência parlamentar com o Chega caso vencesse as eleições sem maioria absoluta. E foi o que aconteceu.
Dar o dito por não dito está, assim, à partida e por completo fora de causa.
De facto, perante a posição assumida pelo líder da AD, não há condições para qualquer entendimento com o Chega que garanta estabilidade para a legislatura.
Neste cenário, será caso para a esquerda derrotada sorrir deleitada com as desavenças à direita e projetar para breve nova consulta ao povo que lhe permita o regresso ao poder?
Aqui, a distância é ainda maior que um oceano inteiro, a não ser que os vencedores destas legislativas sejam completamente desprovidos de capacidade para dar um rumo ao país e saberem interpretar a vontade expressa pelos portugueses, que desta vez não ficaram em casa nem com o tempo, a chuva, a desajudar.
A viragem à direita não foi um acaso nem se trata de um epifenómeno.
O povo – como, repito, já era previsível – votou na mudança. E quer, ou melhor exige mudança.
A vitória da AD foi de Pirro? Foi, mas por um voto se ganha e por um voto se perde – esteve, aliás, muito bem Pedro Nuno Santos a reconhecê-lo na noite eleitoral e a desdizer a insólita e extemporânea reação de António Costa.
Mas a vitória da direita, não. Foi clara e bem expressiva.
Se o voto do Chega é de protesto? Claro que é.
Chega ou Basta! (a designação que André Ventura inicialmente queria para o seu partido) querem dizer isso mesmo. É_um voto antipoder, contra um status quo dominado pela esquerda wokista e do pensamento único.
Daí também que, porventura, ir para o Governo talvez não fosse mesmo o melhor para os interesses do Chega.
É por isso que não é preciso uma coligação de Governo nem um acordo de incidência parlamentar para que esta legislatura não tenha os dias contados à nascença.
Ao contrário do que a esquerda mais radical vaticina e o PCP também preconiza – e por isso precipitou o anúncio de uma inusitada moção de rejeição do novo Governo –, um Governo minoritário da AD_(e apenas do PSD_e do CDS) pode muito bem estar para durar e cumprir mesmo os quatro anos da legislatura.
Saiba Luís Montenegro interpretar bem o mandato que os eleitores lhe confiaram e protagonizar a mudança que a sociedade reclama, com menos Estado e melhor Estado.
Tal como Cavaco Silva fez com o seu Governo minoritário de 1985, tem é de conseguir convocar os melhores e não cometer o erro com que António Costa desaproveitou a maioria absoluta, preocupando-se apenas em satisfazer o aparelho partidário e seu clientelismo parasitário.
O crescimento económico e a criação de riqueza têm de ser as metas prioritárias, acabando com o paradigma do assistencialismo empobrecedor e da subsiodiodependência crónica.
Portugal tem de sair da cepa torta, devolver esperança aos jovens, cuidar dos seus idosos, deixar de sacrificar a classe média, reativar o investimento público para incentivar o privado, interno e externo… fazer mexer a economia.
Só com uma mudança de políticas, de mentalidades e de paradigma podemos voltar a ter a esperança de ganhar o combate à pobreza e a ambição de sair da cauda da Europa.
É preciso aliviar a carga fiscal desmesurada que penaliza quem mais produz. Como é preciso apostar na qualificação dos mais novos e na retenção de talentos, tanto aumentando a qualidade e a exigência no ensino como criando condições para que o mercado possa oferecer melhores condições de trabalho e salários condignos.
E o Estado tem de dar o exemplo. Não pode continuar cativo de ideologias datadas e retrógradas nem funcionar como agência de emprego e de promoção de militantes oportunistas, desqualificados ou desonestos.
É urgente mudar de alto a baixo os serviços públicos e revisitar as funções do Estado.
Está tudo falido, com falta de recursos humanos e técnicos. Apesar de haver cada vez mais funcionários públicos, nem se percebe como.
Não é a despejar dinheiro nem a contratar sem critério que se resolvem os problemas. Que estão mais do que identificados. Seja na Saúde, na Educação, na Justiça, na Defesa, na Agricultura…
Pela primeira vez na história da democracia, o PSD chega ao poder sem o país de tanga
ou à beira da bancarrota.
Luís Montenegro tem, por isso, uma boa oportunidade para governar bem.
Tem é de saber aproveitá-la.